SEGUNDA FEIRA DA 18ª SEMANA DO TC 07/08/2017
1ª Leitura Números 11,4b-15
Salmo 80(81),2ª “Exultai em Deus, nosso
protetor”
Evangelho Mateus 14,13-21
“Cinco pães
e dois peixinhos...”
Confesso que quando reflito este evangelho,
conhecido como da multiplicação dos pães, fico intrigado com algo bem simples:
o milagre poderia ser muito mais espetacular, se Jesus tivesse mandado as
pessoas sentarem-se em grupos, e depois, ao fazer o ritual da benção, os pães e
os peixinhos, aparecessem como em um passe de mágica, na mão das pessoas,
surgindo do nada. Mas neste milagre há uma palavra chave, de significado muito
profundo, trata-se do milagre da multiplicação... Deus criou tudo do nada, diz
o livro do Gênesis, mas quando se trata do pão, ele faz questão de multiplicar.
Alguém cedeu o seu lanche, fazendo parceria com
Jesus, no ato prodigioso! Mateus nos dá a entender que esse alimento pertencia
aos próprios discípulos “Só temos aqui, cinco pães e dois peixes”. A fome da
multidão é muito maior do aquilo que podemos dar, será sempre assim, o que
temos para dar é muito pouco, para resolver o problema da família, da
comunidade, os problemas sociais, a violência, as drogas, o desamparo aos
idosos, as crianças pobres, as tristezas do outro, a depressão do irmão, suas
angústias e desgraças, doenças e mortes, a idade avançada, diante de tudo isso,
a gente até se comove, mas justificamos com aquele pensamento tão nefasto:
Sinto muito, nada posso fazer!
Por que dizemos isso, em tantas situações da
nossa vida, diante de um irmão que sofre, que chora, que se desespera? Porque
não confiamos no que temos, por acharmos muito pouco, vamos ter de nos separar,
vou ter de abortar, vou ter de me omitir, vou ter que ficar quieto, nos
sentimos impotentes, sem força alguma para mudar a situação, se tivéssemos
muito, se tivéssemos poder, se fóssemos respeitados, se estivéssemos no
comando, seu fossemos ricos, ah! Tudo seria diferente... Daríamos um jeito
nessa situação, resolvendo o problema.
Mas,como nada somos ,e ainda termos tão pouco, é
melhor ficar no velho e conhecido “cada um por si, Deus por todos”, queremos
sempre despedir as pessoas para que cada uma se vire do seu jeito. É o
comodismo e o egoísmo, que domina este mundo da nossa modernidade onde o
espírito consumista afirma que, somente quem tem muito, consome muito, pode
realizar sonhos e projetos de vida. Jesus desmonta este esquema mesquinho e
centralizador, que concentra a riqueza material, nas mãos de uma minoria.
Dái-lhes vós mesmos de comer, eles não precisam
ir embora! Após a oração de graças e a benção, começa a ocorrer o milagre: os
discípulos começam a distribuir aquele pouco que têm, às multidões. Nos
projetos e empreendimentos humanos, quem mais tem é que decide o que fazer só
quem tem muito, poderá fazer grandes coisas, no projeto de Jesus a palavra de
ordem é partilhar, mesmo que seja o pouco, acreditando que esse pouco, para o
próximo vai ser muito.
O milagre, portanto, não está na quantia de pães
e peixes, mas no gesto de partilhar, acreditando que naquele momento, o pouco
que eu posso dar ou fazer, é exatamente tudo o que o meu próximo precisa. Nesse
sentido, os cinco pães e dois peixinhos desse evangelho, pode ser um simples
sorriso, dado a quem está triste, um abraço, um beijo ou um aperto de mão, em
quem está sofrendo alguma dor, uma mão no ombro de quem está desanimado, uma
palavrinha de consolo a quem chora, uma palavra de coragem a quem perdeu a
vontade de viver. E pronto, está feito o milagre!
“Você não sabe como foi importante para mim, a
sua presença, o seu gesto, naquela hora!” Todos nós já escutamos esta frase,
entretanto o que demos ou fizemos foi tão pouco e parecia tão insignificante.
Chegamos ao ponto chave da reflexão, quando acreditarmos na força do nosso
“pouco“, iremos conseguir mudanças prodigiosas na família, na comunidade e na
sociedade, mas não precisa ficar cobrando para que o outro faça a sua parte, um
gesto de partilha já é por si suficiente, para promover grandes mudanças, para
transformar a miséria em fartura, pois quando dizemos – eu já fiz a minha
parte, espero que cada um faça a sua, estamos nos colocando acima das outras
pessoas e, portanto no direito de cobrar, e se seguíssemos essas lógica, ditada
pelo orgulho e a prepotência, estaríamos perdidos diante de Jesus, que nos ama
sempre com um amor sem medidas, sem nunca nos cobrar.
Dos pedaços que sobraram encheram-se doze
cestos, e a multidão ficou saciada, o projeto de Jesus de Nazaré parecia tão
pouco e ridículo diante da grandeza do Messianismo, sonhado e esperado pelos
seus compatriotas, entretanto, a graça que nasceu da Salvação, libertou não só
a Israel, mas a todas as nações da terra. Há alguém faminto ao seu lado, de uma
fome que vai bem além do estomago vazio, ofereça o seu “pouquinho” com alegria,
e creia nesse milagre! (Dicono José da Cruz – E-mail jotacruz3051@gmail.com)
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