Sábado – 4ª Semana da Quaresma
1 Abril 2017
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 11, 18-20
o Senhor instruiu-me e eu entendi. E então vi
com clareza o seu proceder para comigo. 19 E eu, como manso cordeiro conduzido
ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos
a árvore no seu vigor; arranquemo-Ia da terra dos vivos, que o seu nome caia no
esquecimento.»2oMas o Senhor do universo, justo juiz,sonda os rins e o coração.
Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha
causa. 21 Por isso, assim fala o Senhor contra os homens de Anetot, que
conspiram contra a minha vida, dizendo: «Cessa de proclamar oráculos em nome do
Senhor, se não queres morrer às nossas mãos»
Escutamos, hoje, a primeira das chamadas
«confissões de Jeremias», que são como pedaços de luz que nos permitem entrever
a caminhada interior do profeta pelas repercussões pessoais da sua missão.
Trata-se de um testemunho precioso, único na Bíblia. Por vontade de Deus,
Jeremias descobre que os seus conterrâneos tinham armado uma cilada para o arrancarem
do meio deles (v. 19). Não sabemos quais as causas históricas da conjura. Mas o
modo como o profeta viveu essa situação tornouse paradigmático. Jeremias,
vítima inocente, compara-se a um cordeiro levado ao matadouro, imagem já
presente no quarto cântico do Servo sofredor de Javé (cf. Is 53, 7) e
amplamente usada no Novo Testamento para descrever o Messias sofredor que, em
silêncio, expia o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29; 1 Pe 1, 19; Ap 5, 6ss.).
Martirizado no corpo e no espírito, o profeta,
manso, atreve-se a pedir a Deus a vingança dos seus inimigos. Jeremias é um
homem do Antigo Testamento, que segue a lei de Talião. Jesus será o verdadeiro
inocente que morre, abandonando nas mãos do Pai, não só a ele mesmo, mas também
os seus adversários e algozes, para que sejam perdoados. Jeremias é figura.
Jesus é a realidade. É Ele o verdadeiro cordeiro conduzido ao matadouro sem
lançar um balido.
Evangelho: João 7, 40-53
Naquele tempo, 40 entre a multidão de pessoas
que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.»41Diziam
outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o
Messias venha da Galileia? 2Não diz a Escritura que o Messias vem da
descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?»43 Deste modo, estabeleceu-se
um desacordo entre a multidão, por sua causa. 44 Alguns deles queriam
prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45 Depois os guardas voltaram aos
sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: «Porque é que não o
trouxestes?»460s guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou essim!» 47
Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seauzdos?"
Porventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus~9Mas essa multidão,
que não conhece a Lei, é gente maldita!»50Nicodemos, aquele que antes fora ter
com Jesus e que era um deles, asse-mes:" «Porventura permite a nossa Lei
julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?»52
Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia
não sairá nenhum profeta.»53E cada um foi para sua casa.
João mostra-nos a multidão que rodeia Jesus e se
interroga sobre a sua identidade e faz palpites. A palavra autorizada do Senhor
fascina os próprios guardas enviados para O prenderem (v. 46). Mas há dois
argumentos de peso, com sentido contrário: Jesus vem da Galileia, e as
Escrituras dizem que o Messias havia de nascer em Belém. Mais ainda: os chefes
do povo e os fariseus não acreditam n ‘Ele; como pode o povo comum ter uma
opinião diferente? Os detentores do poder e da sabedoria olham a situação com
sarcasmo e desprezo, porque temem perder o seu prestígio. Apenas Nicodemos ousa
invocar a Lei que não condena ninguém sem antes ser ouvido. O resultado é ser,
também ele, tachado de ignorante.
João termina abruptamente a narrativa (cf. v.
53), deixando uns com maior desejo de conhecer Jesus e outros mais decididos na
recusa d ‘ Ele. Mas a Palavra não emudece: ainda não tinha chegado a sua hora.
Meditatio
Aproxima-se a Paixão. As leituras fazem-nos
escutar o grito sofrido de Jeremias e as interrogações sobre a identidade de
Jesus. O profeta faz-nos ver até que ponto havemos de estar dispostos a sofrer
para sermos fiéis a Deus, e servi-I’ O de coração puro. O evangelho dá-nos
conta do avolumar das controvérsias e das hostilidades contra Jesus, verdadeiro
cordeiro que serenamente se encaminha para o matadouro.
Os guardas, enviados a prender Jesus, voltam sem
cumprir a ordem, porque «Nunca nenhum homem falou essin» (v. 46). Mas os
fariseus, de coração cada vez mais endurecido, ripostam: «Será que também vós
ficastes sedundos?» (v. 47b). Barricados nos seus preconceitos, não querem
ouvir nada sobre Jesus. Apenas O querem prender.
Também hoje as opiniões se dividem acerca de
Jesus. Muitos fecham-se nas suas dúvidas e na sua indiferença, porque recusam
Aquele que pode trazer a paz aos corações e a união entre os homens. Muitos não
buscam realmente a verdade, mas apenas confirmar os seus preconceitos. Também
não faltam ameaças, perseguições, condenações de inocentes. Felizmente também
não faltam pessoas corajosas, como Nicodemos, capazes de desafiar a opinião dos
«poderosos», porque estão decididamente apaixonados pela verdade. Para estar
com Cristo, é preciso estar cordialmente abertos aos desejos de Deus, à verdade
de Deus, à luz de Deus. Então seremos capazes de acolher a Cristo em todos os
momentos e situações da vida.
Não foi fácil, para os contemporâneos de Jesus,
acreditar n ‘ Ele. Devemos estar gratos àqueles que acreditaram e nos
transmitiram a fé. Com esta gratidão, havemos também de nos sentir estimulados
a procurar Cristo onde Ele se nos revela, hoje. É a única coisa importante, na
nossa vida: reconhecer a Cristo, encontrar-nos verdadeiramente com Ele, aderir
a Ele de todo o coração.
A leitura e a meditação destes textos,
confrontando-os com a nossa história, são uma preciosa ajuda para conhecer
Cristo, para viver Cristo e para colaborarmos na construção do Reino de Deus.
Nesta colaboração, deve animar-nos a
"mística" do "nosso carisma profético" (Cst. 27), isto é, a
oblação reparadora, unida na "oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos
homens" (Cst. 6) e em sintonia com as "orientações apostólicas que
caracterizam a (nossa) missão na Igreja" (Cst. 31). Actuar de modo
diferente é empobrecer a nós mesmos e ao nosso apostolado; mas é empobrecer as
Igrejas locais que servimos, não as tornando participantes das riquezas do
nosso carisma. Pode acontecer que nos aconteça algo de semelhante ao que
aconteceu a Jeremias e, sobretudo, a Cristo. Mas é então que a nossa «mística»
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ute;-de estar mais viva para animar a nossa oblação, que pode incluir a imolação.
ute;-de estar mais viva para animar a nossa oblação, que pode incluir a imolação.
Oratio
Senhor Jesus, quero rezar-te, hoje, com Leão
Dehon: «Creio e confesso, Senhor, que Tu és o Cristo, o Filho de Deus; esta fé
exige que Te sirva, que Te ame, que seja dócil aos teus conselhos, fiel a todas
as exigências da minha vocação e da minha missão, e consagrado ao reino do teu
Sagrado Coração, para o qual devo contribuir. Creio, Senhor, mas aumentai a
minha fé, que é sempre fraca e vacilante». Amen.
Contemplatio
Nosso Senhor explica-nos. «Não me acreditareis,
diz aos seus inimigos, não me respondereis, não me deixareis». Isto é, ireis
até ao fim da vossa ira e da vossa injustiça. Ides condenar-me à morte e
executar a sentença. Ora bem, é precisamente por isso que o Pai me vai
glorificar e fazer-me sentar à sua direita, em todo o esplendor da sua glória e
do seu poder: Ex hoc autem erit Filius hominis sedens a dextris virtutis Dei.
Foi porque Jesus quis sofrer e morrer pela
glória do seu Pai e pela nossa salvação, que o seu Pai o coroa e que nós o
aclamamos como nosso redentor.
Oh! Como tudo isto é contrário às nossas vistas
naturais e terrestres!
Jesus diz a Judas: «Faz depressa». Diz aos
apóstolos: «Desejei comer a última páscoa, na qual começa a minha Paixão. –
Tenho pressa em ser baptizado no meu sangue … ».
Se amássemos pelo menos os nossos pequenos
sacrifícios quotidianos: a regra, a obediência, a modéstia. Isso levar-nos-ia a
amar a penitência e a mortificação.
Por Nosso Senhor alguma coisa pode-nos custar?
(Leão Dehon, OSP 3, p. 311s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu
Filho uniçemto: (Jo 3, 16).
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