domingo, 18 de dezembro de 2016

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR-Dehonianos

Missa da meia-noite de Natal – Ano A
24 Dezembro 2016
ANO A
SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR
– MISSA DA MEIA-NOITE
Tema da “Missa da meia-noite” de Natal
A liturgia desta noite fala-nos de um Deus que ama os homens; por isso, não os deixa perdidos e abandonados a percorrer caminhos de sofrimento e de morte, mas envia “um menino” para lhes apresentar uma proposta de vida e de liberdade. Esse “menino será “a luz” para “o povo que andava nas trevas”.
A primeira leitura anuncia a chegada de “um menino”, da descendência de David, dom de Deus ao seu Povo; esse “menino” eliminará a guerra, o ódio, o sofrimento e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta a realização da promessa profética: Jesus, o “menino de Belém”, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos pobres e marginalizados – a salvação. A proposta que Ele traz não será uma proposta que Deus quer impor pela força; mas será uma proposta que Deus oferece ao homem com ternura e amor.
A segunda leitura lembra-nos as razões pelas quais devemos viver uma vida cristã autêntica e comprometida: porque Deus nos ama verdadeiramente; porque este mundo não é a nossa morada permanente e os valores deste mundo são passageiros; porque, comprometidos e identificados com Cristo, devemos realizar as obras d’Ele.
LEITURA I – Is 9,1-6
Leitura do Livro de Isaías
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
para aqueles que habitavam nas sombras da morte
uma luz começou a brilhar.
Multiplicastes a sua alegria,
aumentastes o seu contentamento.
Rejubilam na vossa presença,
como os que se alegram no tempo da colheita,
como exultam os que repartem despojos.
Vós quebrastes, como no dia de Madiã,
o jugo que pesava sobre o povo,
o madeiro que ele tinha sobre os ombros
e o bastão do opressor.
Todo o calçado ruidoso da guerra
e toda a veste manchada de sangue
serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas.
Porque um menino nasceu para nós,
um filho nos foi dado.
Tem o poder sobre os ombros
e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte,
Pai eterno, Príncipe da paz».
O seu poder será engrandecido numa paz sem fim,
sobre o trono de David e sobre o seu reino,
para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça,
agora e para sempre.
Assim o fará o Senhor do Universo.
AMBIENTE
No Livro do profeta Isaías aparece um conjunto de oráculos ditos “messiânicos”, que falam desse mundo de justiça e de paz que Deus, num futuro sem data marcada, vai oferecer ao seu Povo. No entanto, não é seguro se esses textos provêm do profeta, ou se são oráculos posteriores que o editor final da obra de Isaías enxertou no texto original do profeta… É o caso deste texto que nos é proposto.
Se for de Isaías, o nosso texto pertence, provavelmente, à fase final da vida do profeta… Estamos na época do rei Ezequias, no final do séc. VIII a.C.; o rei, desdenhando as indicações do profeta (para quem as alianças políticas são sintoma de grave infidelidade para com Jahwéh, pois significam colocar a confiança e a esperança nos homens), envia embaixadas ao Egipto, à Fenícia e à Babilónia, procurando consolidar uma frente contra a grande potência da época – a Assíria. A resposta de Senaquerib, rei da Assíria, não tarda: tendo vencido, sucessivamente, os membros da coligação, volta-se contra Judá, devasta o país e põe cerco a Jerusalém (701 a.C.). Ezequias tem de submeter-se e fica a pagar um pesado tributo aos assírios.
Desiludido com os reis e com a política, o profeta teria, então, começado a sonhar com um tempo novo, sem guerra nem armas, onde reinam a justiça, o direito e o “temor de Deus”. Este texto pode ser dessa época.
O “menino” aqui referenciado, da descendência de David, pode também estar relacionado com o “Emanuel” de Is 7,14-17. Trata-se, em qualquer caso, de um texto que vai alimentar a esperança messiânica e que vai potenciar o sonho de um futuro novo, de paz e de felicidade para o Povo de Deus.
MENSAGEM
Para descrever a situação de opressão, de frustração, de desespero, de falta de perspectivas, de desconfiança em relação ao futuro em que a comunidade nacional estava mergulhada, o profeta fala de um “povo que andava nas trevas” e que habitava “nas sombras da morte”. O panorama é sombrio e parece não haver saída, pois os reis de Judá já provaram ser incapazes de conduzir o seu Povo em direcção à felicidade e à paz.
Mas, de repente, aparece uma “luz”. Essa luz acende a esperança e provoca uma explosão de alegria. Para descrever essa alegria, o profeta utiliza duas imagens extremamente sugestivas: é como quando, no fim das colheitas, toda a gente dança feliz celebrando a abundância dos alimentos; é como quando, após a caçada, os caçadores dividem a presa abundante.
Mas porquê essa alegria e essa felicidade? Porque o jugo da opressão que pesava sobre o Povo foi quebrado e a paz deixou de ser uma miragem para se tornar uma realidade. No quadro que representa a vitória da paz, vemos os símbolos da guerra (o pesado calçado dos guerreiros e as roupas ensanguentadas) a serem destruídos pelo fogo. Quem é que provocou a alegria do Povo, derrotou a opressão, venceu a guerra, restaurou a paz? O autor não o diz claramente; mas ninguém duvida que tudo isso é acção do Deus libertador.
Como foi que Deus instaurou essa nova ordem? Foi através de “um menino”, enviado para restaurar o trono de David e para reinar no direito e na justiça (as palavras “mishpat” e “zedaqa”, utilizadas neste contexto, evocam uma sociedade onde as decisões dos tribunais fundamentam uma recta ordem social, onde os direitos dos pobres e dos oprimidos são respeitados e onde, enfim, há paz). O quádruplo nome desse “menino” evoca títulos de Deus ou qualidades divinas (o título “conselheiro maravilhoso” celebra a capacidade de conceber desígnios prodigiosos e é um atributo de Deus – cf. Is 25,1; 28,29; o título “Deus forte” é um nome do próprio Jahwéh – cf. Dt 10,17; Jr 32,18; Sl 24,8; o título “príncipe da paz” leva, também, a Jahwéh, aquele que é “a paz” – cf. Is 11,6-9; Mi 5,4; Zac 9,10; Sl 72,3.7). Quanto ao título “Pai eterno”, é um título do rei – cf. 1 Sm 24,12 – e é um título dado ao faraó nas cartas de Tell el-Amarna). Fica, assim, claro que esse “menino” é um dom de Deus ao seu Povo e que, com ele, Deus residirá no meio do seu Povo, oferecendo-lhe cada dia a justiça, o direito, a paz sem fim.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode fazer-se a parti
r dos seguintes elementos:
• É Jesus, o “menino de Belém”, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías. Ele é “aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz e da felicidade. O nascimento de Jesus que celebramos esta noite significa que, efectivamente, este “Reino” chegou e incarnou no meio dos homens. No entanto: Ele é hoje uma realidade instituída, viva, actuante na história humana? Porquê?
• Acolher Jesus, celebrar o seu nascimento, é aceitar esse projecto de justiça e de paz que Ele veio trazer aos homens. Esforçamo-nos por tornar realidade o “Reino de Deus”? Como lidamos com a injustiça, a opressão, a guerra, a violência: com a indiferença de quem sente que não tem nada a ver com isso, ou com a inquietação de quem se sente responsável pela instauração do “Reino de Deus”?
• Em que ou em quem coloco a minha esperança e a minha segurança? Nos políticos que me prometem tudo e se servem da minha ingenuidade para fins próprios? No dinheiro que se desvaloriza e que não serve para comprar a paz do meu coração? Na situação sólida da minha empresa, que pode desfazer-se diante das próximas convulsões sociais ou durante a próxima crise energética? Isaías diz que só podemos confiar em Deus e nesse “menino” que Ele mandou ao nosso encontro, se quisermos encontrar a “luz” e a paz.
• Reparemos, ainda, no “jeito” de Deus: Ele não se serve da força e do poder para intervir na história e para mudar o mundo; mas é através de um “menino” – símbolo máximo da fragilidade e da dependência – que Deus propõe aos homens o seu projecto de salvação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós, seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)
Refrão: Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor.
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.
Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.
Alegrem-se os céus, exulte a terra,
ressoe o mar e tudo o que ele contém,
exultem os campos e quanto neles existe,
alegrem-se as árvores das florestas.
Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra:
julgará o mundo com justiça
e os povos com fidelidade.
LEITURA II – Tito 2,1-14
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito
Caríssimo:
Manifestou-se a graça de Deus,
fonte de salvação para todos os homens,
ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos
para vivermos, no tempo presente,
com temperança, justiça e piedade,
aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória
do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo,
que Se entregou por nós,
para nos resgatar de toda a iniquidade
e preparar para Si mesmo um povo purificado,
zeloso das boas obras.
AMBIENTE
Tito, o destinatário desta carta, é um cristão convertido por Paulo (cf. Tt 1,4), que acompanhou o apóstolo em algumas missões importantes (participou, com Paulo, no concílio de Jerusalém – cf. Ga 2,1-2; esteve com ele em Éfeso; por duas vezes, foi enviado a Corinto, a fim de resolver conflitos entre Paulo e essa comunidade – cf. 2 Cor 7,6-7; 8,16-17) e que foi animador da Igreja de Creta (cf. Tt 1,5).
No entanto, esta carta não parece ser de Paulo; parece, antes, ser um texto tardio, surgido quando a preocupação fundamental das comunidades cristãs já não se centrava na vinda iminente do Senhor, mas em definir a conduta dos cristãos no tempo presente. Estamos numa época de certo marasmo, em que os cristãos perderam o entusiasmo inicial e em que muitos aparecem instalados, acomodados numa fé morna e sem grandes exigências. Era preciso recordar os fundamentos da fé e exortar a uma vida cristã exigente e comprometida. Neste contexto, a preocupação fundamental do autor desta carta será apresentar uma série de conselhos práticos que ajudem os cristãos a viver, com coerência e com verdade, a sua fé no meio do mundo.
MENSAGEM
Neste fragmento, verdadeiro centro e coração de toda a carta, o autor tenta dar aos cristãos razões válidas para viver uma vida cristã autêntica e comprometida. Quais são essas razões?
A primeira é o amor (“kharis”) de Deus, que foi oferecido a todos os homens. É esse amor que possibilita a renúncia à impiedade e aos desejos deste mundo e a vivência da temperança, da justiça e da piedade; sendo os destinatários desse amor transformador e renovador, temos de viver uma vida nova e comprometida com o Evangelho.
A segunda é a esperança na manifestação gloriosa de Cristo, que convida os homens a perceber que a terra não é a sua pátria definitiva; quem espera a segunda vinda de Cristo, percebe que só faz sentido olhar para os bens essenciais; consequentemente, desprezará os bens materiais, que só interessam a este mundo.
A terceira é a obra redentora levada a cabo por Cristo. Cristo entregou-Se totalmente, até à morte, para nos salvar do egoísmo, do orgulho, do pecado e para fazer de nós homens novos. Ligados a Ele pelo baptismo, tornamo-nos um com Ele e recebemos vida d’Ele… Se estamos ligados a Cristo e se recebemos d’Ele vida, essa vida tem de manifestar-se na nossa existência diária.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes questões:
• Temos consciência do amor de Deus e que a incarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós? Sendo os destinatários de um tal amor, amamos Deus da mesma maneira? A nossa vida é uma resposta coerente ao amor de Deus – isto é, um compromisso autêntico com Deus e com os seus valores?
• A nossa civilização ocidental institucionalizou e sacralizou uma série de valores efémeros (dinheiro, poder, êxito profissional, “status” social, bens de consumo…) e montou uma máquina de publicidade eficaz para os apresentar como a chave da verdadeira felicidade. No entanto, com frequência esses valores estão em absoluta contradição com os valores do Evangelho… Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?
• É Cristo a nossa referência? É d’Ele que recebemos vida? O seu “jeito” de viver (no amor, na entrega, no dom da vida) foi assumido na nossa vida de todos os dias e na nossa relação com os irmãos que
nos rodeiam?
ALELUIA – Lc 2,10-11
Aleluia. Aleluia.
Anuncio-vos uma grande alegria:
Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.
EVANGELHO – Lc 2,1-14
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto,
para ser recenseada toda a terra.
Este primeiro recenseamento efectuou-se
quando Quirino era governador da Síria.
Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré,
à Judeia, à cidade de David, chamada Belém,
por ser da casa e da descendência de David,
a fim de se recensear com Maria, sua esposa,
que estava para ser mãe.
Enquanto ali se encontravam,
chegou o dia de ela dar à luz
e teve o seu Filho primogénito.
Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos
e guardavam de noite os rebanhos.
O Anjo do Senhor aproximou-se deles
e a glória do Senhor cercou-os de luz;
e eles tiveram grande medo.
Disse-lhes o Anjo: «Não temais,
porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador,
que é Cristo Senhor.
Isto vos servirá de sinal:
encontrareis um Menino recém-nascido,
envolto em panos e deitado numa manjedoura».
Imediatamente, juntou-se ao Anjo
uma multidão do exército celeste,
que louvava a Deus, dizendo:
«Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por Ele amados».
AMBIENTE
Lucas é o evangelista mais preocupado com as referências históricas… O seu Evangelho está cheio de indicações que procuram situar com precisão os acontecimentos… No que diz respeito ao nascimento de Jesus, Lucas apresenta, também, algumas indicações que pretendem situar o acontecimento numa época e num espaço concreto… Dessa forma, Lucas dá a entender que não estamos diante de um facto lendário, mas de algo perfeitamente integrado na vida e na história dos homens.
Há, no entanto, um problema… Lucas é um cristão de origem grega, que não conhece a Palestina e que tem noções muito básicas da história do Povo de Deus… Por isso, as suas indicações históricas e geográficas são, com alguma frequência, imprecisas e inexactas. Pode ser o caso das indicações fornecidas a propósito do nosso texto, já que não é muito fácil explicá-las.
É duvidoso que Quirino, como governador, tenha ordenado um recenseamento na época em que Jesus nasceu (só por volta do ano 6 d.C. é que ele se tornou governador da Síria, embora possa ter sido “legado” romano na Síria entre 12 e 8 a.C.… Pode, realmente, nessa altura, ter ordenado um recenseamento que teve efeitos práticos na Palestina por volta de 6/7 a.C., altura do nascimento de Jesus).
De qualquer forma, convém ter em conta que Lucas não está a escrever história, mas a fazer teologia e a apresentar uma catequese sobre Jesus, o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
MENSAGEM
A primeira indicação importante vem da referência a Belém como o lugar do nascimento de Jesus… É uma indicação mais teológica do que geográfica: o objectivo do autor é sugerir que este Jesus é o Messias, da descendência de David (a família de David era natural de Belém), anunciado pelos profetas (cf. Miq 5,1). Fica, desta forma, claro que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação que Deus tem para os homens – plano que os profetas anunciaram e cuja realização o Povo de Deus aguardava ansiosamente.
Uma segunda indicação importante resulta do “quadro” do nascimento. Lucas descreve com algum pormenor a pobreza e a simplicidade que rodeiam a vinda ao mundo do libertador dos homens: a falta de lugar na hospedaria, a manjedoira dos animais a fazer de berço, os panos improvisados que envolvem o bebé, a visita dos pastores… É na pobreza, na simplicidade, na fragilidade, que Deus Se manifesta aos homens e lhes oferece a salvação. Os esquemas de Deus não se impõem pela força das armas, pelo poder do dinheiro ou pela eficácia de uma boa campanha publicitária; mas Deus escolhe vir ao encontro dos homens na simplicidade, na fraqueza, na ternura de um menino nascido no meio de animais, na absoluta pobreza. É assim que Deus entra na nossa história… É assim a lógica de Deus.
Uma terceira indicação é dada pela referência às “testemunhas” do nascimento: os pastores. Trata-se de gente considerada rude, violenta, marginal, que invadiam com os rebanhos as propriedades alheias e que tinham fama de se apropriar da lã, do leite e das crias do rebanho em benefício próprio. Eram, com frequência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos pela rígida moral dos fariseus: uns e outros eram pecadores públicos, incapazes de reparar o mal que tinham feito, tantas eram as pessoas a quem tinham prejudicado. Ora, Lucas coloca, precisamente, esses marginais como as “testemunhas” que acolhem Jesus. O evangelista sugere, desta forma, que é para estes pecadores e marginalizados que Jesus vem; por isso, a chegada de um tal “salvador” é uma “boa notícia”: a partir de agora, os pobres, os débeis, os marginalizados, os pecadores, são convidados a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Eles vêm ao encontro dessa salvação que Deus lhes oferece em Jesus e são convidados a integrar a comunidade da nova aliança, a comunidade do “Reino”.
Uma quarta indicação aparece nos títulos dados a Jesus pelos anjos que anunciam o nascimento: Ele é “o salvador, Cristo Senhor”. O título “salvador” era usado, na época de Lucas, para designar o imperador ou os deuses pagãos; Lucas, ao chamar Jesus desta forma, apresenta-O como a única alternativa possível a todos os absolutos que o homem cria… O título “Cristo” equivale a “Messias”: aplicava-se, no judaísmo palestinense do séc. I, a um rei da descendência de David, que viria restaurar o reino ideal de justiça e de paz da época davídica; dessa forma, Lucas sugere que o “menino de Belém” é esse rei esperado. O título “Senhor” expressa o carácter transcendente da pessoa de Jesus e o seu domínio sobre a humanidade. Com estes três títulos, a catequese lucana apresenta Jesus aos homens e define o seu papel e a sua missão.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão sobre este texto pode partir das seguintes indicações:
• O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa até ao extremo com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao mundo para apresentar aos homens um projecto de salvação/
libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.
• O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta nos encontros internacionais onde os donos do mundo decidem o destino dos homens, nem nos gabinetes ministeriais, nem nos conselhos de administração das multinacionais, nem nos salões onde se concentram as estrelas do jet-set, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a dependência, a ternura, a simplicidade de um bebé recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo: a lógica de Deus ou a lógica dos homens?
• A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados e dizer-lhes que Deus os ama, que quer caminhar com eles e que quer oferecer-lhes a salvação. É essa proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais, esquecendo o essencial, o anúncio libertador aos pobres?
• Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu, de forma efectiva, na vida de cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas casas religiosas, nas nossas comunidades cristãs?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DE NATAL (“Missa da meia-noite”)
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Dia de Natal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
2. UMA ASSEMBLEIA EXCEPCIONAL.
Com vigília de Natal ou não, é preciso não esquecer que grande parte da assembleia nesta missa é composta por cristãos que só vêm à igreja uma vez por ano: precisamente nesta noite! É preciso que também eles se encontrem nesta liturgia de Natal… e não sejam “enxotados” por só virem à igreja uma vez no ano. A atitude de acolhimento passa por aí… talvez a partir dessa atitude possa haver mais participação na vida da Igreja.
3. EVANGELIÁRIO LEVADO DO PRESÉPIO.
O Evangeliário pode estar no presépio, na penumbra. Antes do Evangelho, o presidente da assembleia (precedido de crianças com lamparinas acesas) vem buscá-lo solenemente e leva-o em procissão até ao lugar da proclamação do Evangelho. No final, o Evangelho é levado de novo (com o grupo de crianças à frente com lamparinas acesas na mão) em procissão para o presépio, agora iluminado, e coloca-o aí: nesta noite, o Verbo fez-Se carne.
4. BILHETE DE EVANGELHO.
É a noite em que é belo acreditar na luz… Eram muitos a caminhar na noite… A noite da espera por Maria e José com as suas questões, os seus medos, mas também a sua fé no futuro. A noite da pobreza para os pastores. A noite da interrogação para os magos vindos do Oriente. Ora, da noite jorra a luz. Uma luz que preenche a espera: “chegaram os dias em que ela devia dar à luz”. Uma luz que ilumina os pobres: “a glória do Senhor envolveu-os com a sua luz”. Uma luz que guia os peregrinos: “a estrela que tinham visto levantar-se precedia-os”. No coração da nossa noite, ergamos os olhos, há uma luz a jorrar…
5. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da primeira leitura:
Jesus, Filho de Deus e Filho de David, em Ti o povo que caminhava nas trevas da noite viu erguer-se uma grande luz; criança que nos é dada, Tu és o Deus forte, o Príncipe da Paz, Conselheiro admirável.
Tantos povos e pessoas habitam ainda países das sombras. Guia-os nos caminhos da vida, da luz, do direito e da paz.
No final da segunda leitura:
Bendito sejas, Deus Nosso Pai, porque em Jesus, teu Filho, a tua graça tornou-se visível e manifestou-se para a salvação de todos os homens.
Purifica-nos das paixões egoístas desta terra, faz de nós um povo ardente que irradie a justiça e o bem. Que o teu Espírito nos inspire a viver no mundo presente como homens razoáveis, justos e religiosos.
No final do Evangelho:
Jesus, Messias, nosso irmão, Tu que Te tornaste criança e que foste colocado num presépio, Tu que o Pai glorificou pela ressurreição, glória a Ti no mais alto dos céus. Com os anjos, prostramo-nos diante de Ti.
Que a tua presença no meio de nós traga de novo a Paz ao mundo, que o teu Espírito faça de nós portadores de Luz, de Paz e de Alegria.
6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II, com as variantes próprias da Festa de Natal. O presidente pode cantar a parte da narração da instituição.
7. PALAVRA EXPLICADA: GLORIA IN EXCELSIS DEO.
As nossas assembleias retomam as aclamações e hinos celestes que nos são revelados na Bíblia, como “Santo, Santo, Santo é o Senhor, o céu e a terra estão cheios da vossa glória” (Is 6,3; Ap 4,8). A estas palavras celestes acrescentamos as aclamações e invocações dos Evangelhos: “Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo” (mensagem de João Baptista, Jo 1,29), “Bendito o que vem em nome do Senhor” (entrada de Jesus em Jerusalém, Jo 12,13). Certas aclamações fazem parte de todas as celebrações eucarísticas, como “Santo, Santo, Santo é o Senhor”. Nas mais antigas fórmulas da liturgia eucarística romana, o “Glória a Deus no mais alto dos céus” (Lc 2,14) só era proclamado no Natal, por causa do Evangelho desta festa. Depois, a sua proclamação foi estendida a outras festas. No missal actual, faz parte das aclamações dominicais, mas é omitido durante dois períodos de tonalidade penitencial (cor roxa), o Advento e a Quaresma.
8. ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS: UMA NOITE DE FESTA.
Vai-se dormir tarde esta noite! Tem-se mesmo o direito de dançar nesta noite! Seria bom que, com as crianças presentes, se possa viver um verdadeiro momento de alegria, de festa, de cântico. Envolver as crianças à volta da Palavra (primeira leitura), no cântico do Salmo, no cântico do Glória… louvando a Deus, com gestos.
9. PALAVRA PARA O CAMINHO.
Uma Criança! Nas trevas e no caos de uma sociedade que só crê na força, na violência, na guerra…, Natal é a inversão destes valores. «Deus connosco” numa Criança! Estamos preparados para arriscar com Ele nesta aventura, a única capaz de inverter a espiral infernal do Mal? Natal é isso! E levantar-se-á sobre o mundo uma grande Luz!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org


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