16 º DOMINGO DO TC 17/06/2016
1ª Leitura Gênesis 18, 1-10a
Salmo 14/15, 1 a "Senhor, quem
há de morar em vosso tabernáculo?"
2ª Leitura Colossenses 1, 24-28
Lucas 10, 38-42
Hospedar ou acolher, eis a
questão...
Há uma grande diferença entre
hospedar e acolher . Quando Jesus chegou na casa de Marta, ela mal teve tempo
de saudá-lo e já se entregou às tarefas domésticas, limpar e organizar toda
casa, preparar o quarto para o hóspede ilustre e ainda fazer a refeição. Jesus
era um hóspede e foi assim que Marta o tratou, de maneira formal tendo como
lema, primeiro o serviço e depois a amizade. É mais ou menos assim, quando chegamos de surpresa na casa de
alguém, e que não tendo quem nos faça sala, a pessoa diz “Olha, estou ocupada,
mas pode falar que estou ouvindo”. Acho que se Maria não estivesse em casa, era
isso que Marta iria acabar fazendo: “Olha Senhor sinta-se a vontade, daqui a
pouco minha irmã chega para lhe fazer sala, não repare se estou trabalhando,
pois hoje é dia de faxina e ainda tenho de preparar a refeição”. Maria ao
contrário, sentou-se aos pés de Jesus para ouvi-lo, sem pressa ou nenhuma outra
preocupação.
E que diferença, quando a pessoa
nos acolhe de maneira fraterna, carinhosa, dando-nos toda atenção, e faz o
clássico convite “olha, você já é de casa, vamos lá prá cozinha bater um bom
papo que vou passar um café fresquinho”. E a conversa vai longe, e o cheirinho bom
do café sendo coado, quem sabe um biscoitinho, um docinho caseiro, isso é mais
que uma simples hospedagem, é acolhimento e faz uma diferença enorme porque é
um tratamento personalizado.
Parece-me que esse evangelho está
querendo nos perguntar, se em relação a Jesus Cristo e o seu Santo Evangelho,
sua palavra cheia de sabedoria e seu ensinamento, a nossa atitude é de quem
recebe um hóspede, por algumas horas ou dias, ou o acolhemos realmente, como
alguém que faz parte da nossa vida? É muito importante respondermos a essa
pergunta, mesmo porque, a casa onde acolhemos ou simplesmente hospedamos Jesus,
é exatamente a nossa vida. Será que ele é nosso íntimo e pode adentrar em nossa
“cozinha”, isso é, dentro do nosso coração, ou o recebemos com pressa, no portão
da casa, e nem o convidamos para entrar...
Maria o acolheu, não apenas como
alguém importante e ilustre, mas como seu Senhor e Mestre, um amigo querido,
que com suas palavras sábias lhe conquistava o coração, ouvi-lo não era tarefa
cansativa, mas algo edificante, extremamente gratificante e prazeroso, com ele
Maria aprendia e sentia, pois as palavras lhe tocavam o coração. Notem que
Maria nada diz e nem se revolta ou reclama da atitude grosseira da irmã, não
faz ares de santinha, que está com a razão, ao contrário, Lucas não narra essa
parte, mas provavelmente Maria, com palavras suaves se desculpou com Jesus,
pela má educação da outra.
Maria não é vaquinha de presépio
que só diz “amém”, mas sabe relacionar-se com as pessoas, com respeito,
ternura, delicadeza, com toda certeza, pensamento meu, ela chamou Marta de lado
e pediu-lhe calma, que depois ela a ajudaria em todas as tarefas. Já Marta
andava bastante estressada, provavelmente não tinha planejado as tarefas, e
Jesus chegara meio sem aviso, e agora tinha de dar conta do recado, “assoviar e
chupar cana”, limpar a casa, preparar o quarto de hóspedes e ainda por cima,
preparar a refeição. Gostava de Jesus,
mas não tinha tempo para ficar ouvindo-o, ou porque já sabia tudo de cor, ou
porque achava que aquilo nada tinha a ver com sua vida, como muitos cristãos
fazem quando vão a missa ou celebração do domingo, muitos saem até sem receber
a bênção final, vivem com pressa e falta-lhes paciência para ouvir.
Vivemos em uma sociedade onde as
pessoas estão sempre apressadas, em um ativismo doentio, fazendo um monte de
coisa ao mesmo tempo, às vezes sem planejamento e organização (não é assim em nossas comunidades?) tem que se
produzir para consumir, ninguém tem tempo para mais nada, fala-se muito e
ouve-se pouco, ou quase nada, escuta-se o outro, já pensando no que vamos
responder, o que o outro fala não é tão importante como aquilo que temos a
dizer (ah...nossas reuniões pastorais....).
Nas celebrações onde o Senhor nos
fala, nas orações, nos cantos, nas leituras e na Eucaristia, até o ouvimos, mas
não nos colocamos como discípulos que querem apreender cada vez mais, para
poder segui-lo. Nem nos sentamos para ouvir, ficamos em pé, com uma pressa
danada de que ele termine logo, pois outras tarefas mais importantes nos
aguardam. Como Marta, colocamos a Palavra de Deus em um segundo plano.
As conseqüências disso estão na
relação com as pessoas, começamos a achar que estamos fazendo sozinhos, que
ninguém colabora, ninguém ajuda, e despejamos o nosso amargor, destilamos o
nosso veneno “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com
todas essas tarefas? “ Maria escolheu a melhor parte, porque bebeu das palavras
de Jesus, abriu-lhe o coração e a mente, deixou que Ele entrasse em sua vida e
certamente aprendeu com o Mestre, como servir as pessoas, com alegria e
humildade, de maneira gratuita e incondicional.
Quanto a parte que Marta escolheu,
além de dor nas costas, irritação e palavras amargas ditas a Jesus e a irmã, em
tom de cobrança, nada restou, nada se aproveitou. Se o mesmo acontece em nossos
trabalhos pastorais, está na hora de sentarmo-nos aos pés de Jesus, sem pressa
nem correria, para saborearmos cada momento da celebração, e depois sentirmos
no coração esta incontida alegria que nos leva a amar e a servir, com
qualidade, eficiência, alegria e ternura... Essa é sem dúvida a melhor parte, o
resto não passa de “choramingos e resmungos”, que geram desconfiança e
inimizades no seio da comunidade. Que parte nós escolhemos?
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata –
Votorantim SP E-mail jotacruz@gmail.com.br
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