domingo, 17 de julho de 2016

Comentários Prof.Fernando

16º Dom.Tempo Comum/9ºpós-Pentecostes 17 de julho de 2016

Guerra e terror
·     Ainda estamos chocados pelos atentados sucessivos ocorridos há poucas semanas em Bangladesh, Turquia e Iraque. Os mortos agora são 200 de um só vez. Quem pensava que já tinha visto o pior de todo terrorismo surpreendeu-as agora com a loucura ocorrida em Nice onde a arma mortífera, além das balas, passou a ser um caminhão. E, como se não bastasse tanto sofrimento e insegurança, só poucas horas depois da dor de centenas de famílias vitimadas pelo caminhão de Nice, o mundo inteiro parou para acompanhar o possível golpe militar contra a estabilidade democrática na Turquia. Ainda estamos inquietos pelas consequências dessa tentativa de golpe cujas vítimas imediatas já alcança um número superior aos mortos pelo terrorismo na França ou no Iraque.
·     A situação na Turquia não diz respeito só aos turcos ou curdos. Traz angústias para toda a região à sua volta, para a Europa (já encurralda pelo problema trazido por imigrantes e refugiados em massa e, recentemente, pela saída do Reino Unido – “Brexit”), e para praticamente todos os países do planeta, dada a importância geopolítica do país que durante séculos foi o centro do Império Otomano. A Turquia atual é, literalmente, questão “crucial” para o mundo. Está na encruzilhada das grandes potências: do Ocidente (sobretudo Rússia e Europa); de sua região (sobretudo Iran, Israel e Arábia Saudita); e do eixo de irradiação de muitas guerras e terrores (a Síria que agora é a “mãe de todas as guerras”).

Contemplar ou agir diante do mistério de Caim?
·     Este tempo de angústias coincide, neste dia 17 de julho, com a16ºDomingo Comum que nos traz à reflexão 1) uma das experiências que o velho Abraão fazia da misteriosa Presença do Criador no meio da história humana (Gênesis cap 18,1-10); 2) as palavras de Paulo na carta aos Colossenses (cap.1,24-28) lembrando-nos de nossa participação na Paixão do Cristo, que quer redimir os seres humanos, livrando-os de suas limitações, sofrimentos e da própria morte, ao fazer da sua própria Entrega de vida e morte, a passagem para a vida nova, eterna e definitiva.
·     O texto de Evangelho (tirado de Lucas 10, 38ss) traz o episódio do Mestre que chega numa de suas muitas paradas para descansar na casa dos amigos Marta, Maria e Lázaro. Os comentários tradicionais sobre o papel simbólico de Maria e Marta dizem que a “Contemplação” é melhor ou “superior” do que a “Ação” ou atividade de serviço aos outros. Na verdade o que é sempre “melhor” ou “superior” a tudo na vida é o próprio Deus para quem caminhamos ao longo de nossos dias. O ser humano terá que se equilibrar entre “Maria” e “Marta” em todos os momento. Procurar o contato com a fonte da vida, na oração, na escuta da Palavra, “aos pés do Mestre”. Procurar também atender ao serviço constante de nossa casa, na Terra, cuidando do planeta, mas, principalmente, de seus habitantes. Trabalhando por uma cultura de vida diante de tantos terrorismos, balas perdidas, corrupção na política e na economia, que propagem a cultura de morte, atualmente tristemente resumida no louco que estava ao volante do caminhão de Nice.

Contemplar e agir, como o Deus humano de Cristo
·                    Pensando nessa oposição humano-divinda de tendências (uma espécie de instinto-para-a-morte X instinto-de-vida) lembrei que Inácio de Loyola, na meditação que inicia a “2ª.semana” de seus famosos Exercícios Espirituais, apresenta esta “oposição” (contemplação e ação dos seres humanos, de um lado, e Deus contemplando o mundo e agindo pela Encarnação). Eis um resumo:
·                    A Primeira Contemplação é a da Encarnação: [organizada na forma de] 3 preâmbulos e 3 pontos [para a meditação] e o colóquio [momento final de oração]. O primeiro preâmbulo será trazer a históra que tenho de contemplar, que aqui é como as três pessoas divinas olhavam toda a superfície e redondezas do mundo cheias de homens, e como, vendo que todos se perdiam, se determina em sua eternidade que que o Filho se faça homem, para salvar o gênero humano, ee assim, chegada a plenitude dos tempos, enviando o anjo Gabriel a Maria.
·                    2º preâmbulo. Composição de lugar: será ver a grande capacidade e redondezas do mundo no qual estão tantas e tão diversas gentes. E depoi, particularmente imaginar o lugar da casa e aposentos de Maria, na ciade Nazaré, na província de Galileia.
·                    3º preâmbulo. Pedir o que quero. E aqui será pedir conhecimento interior do Senhor, que por mim se fez homem, para que mais o ame e o siga.
·                    O 1º ponto será ver as pessoas, umas e outros; primeiro as da face da terra, em tanta diversidade, seja em vestimentas, como em gestos: uns brancos, outros negros, uns em paz, outros em guerra, uns chorando e outros rindo, uns sadios, outros enfermos, uns nascendo e outros morrendo, etc. Em segundo lugar ver e considerar as tres perssoas divinas como em seu trono real de sua divina majestade, como olham a face e redondezas da terra e todas as gentes em tanta cegueira, e como morrem e vão para a perdição. Depois ver Maria e o anjo que a saúda, e refletir para tirar proveito desta visão.
·                    2º ponto: escutar o que falam as pessoas sobre a face da terra, a saber: como falam uns com os outros, como juram e blasfemam, etc.; e também o que dizem as pessoas divinas, a saber: “Façamos a redenção do gênero humano”, etc.; e depois o que falam o anjo e nossa Senhora; e refletir depois para tirar proveito de suas palavras.
·                    3º ponto: depois de olhar o que fazem as pessoas sobre a face da terra: ferir, matar, ir ao inferno, etc.; e também o que fazem as pessoas divinas: trabalhando para realizar a santíssima encarnação, etc.; e ainda o que fazem o anjo e nossa Senhor, ou seja: o anjo realizando o seu ofício de mensageiro e nossa Senhora, reconhecendo sua pequenez e dando graças à divina majestade. E depois refletir para tirar algum proveito de cada uma destas coisas.
·                    Com Marta e Maria, contemplando as loucuras humanas da guerra e da morte em comparação com a Boa Nova que anuncia a vida, talvez saibamos agir melhor pela paz.


oooooooooo ( * ) Prof. (Edu/Teo/Fil,1975-2012) fesomor2@gmail.com

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