26/06/2016
ANO C
13º
DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema
do 13º Domingo do Tempo Comum
A liturgia de hoje
sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e
salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade
e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.
A primeira leitura apresenta-nos um
Deus que, para actuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu
(discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta
radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projectos que
Deus tem para ele.
O Evangelho apresenta o “caminho do
discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e
irrevogável ao “Reino”. Sugere, também, que esse “caminho” deve ser percorrido
no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito
absoluto pelas opções dos outros.
A segunda leitura diz ao
“discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de
libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar
dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.
LEITURA
I – 1 Re 19,16b.19-21
Leitura do Primeiro
Livro dos Reis
Naqueles
dias,
disse
o Senhor a Elias:
«Ungirás
Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola,
como
profeta em teu lugar».
Elias
pôs-se a caminho
e
encontrou Eliseu, filho de Safat,
que
andava a lavrar com doze juntas de bois
e
guiava a décima segunda.
Elias
passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa.
Então
Eliseu abandonou os bois,
correu
atrás de Elias e disse-lhe:
«Deixa-me
ir abraçar meu pai e minha mãe;
depois
irei contigo».
Elias
respondeu:
«Vai
e volta,
porque
eu já fiz o que devia».
Eliseu
afastou-se,
tomou
uma junta de bois e matou-a;
com
a madeira do arado assou a carne,
que
deu a comer à sua gente.
Depois
levantou-se e seguiu Elias,
ficando
ao seu serviço.
AMBIENTE
Esta passagem do
Primeiro Livro dos Reis leva-nos até ao séc. IX a.C. Estamos na época dos dois
reinos divididos.
Os profetas Elias e
Eliseu, aqui referenciados, exerceram o seu ministério profético no reino do
norte (Israel), no tempo dos reis Acab e Ocozias (Elias), Jorão e Jehú
(Eliseu). É uma época de grande desnorte, em termos religiosos: a fé jahwista é
posta em causa pela preponderância que os deuses estrangeiros assumem na
cultura religiosa de Israel.
Uma grande parte do
ministério de Elias desenrola-se durante o reinado de Acab (874-853 a.C.). O
rei – influenciado por Jezabel, a sua esposa fenícia – erige altares a Baal e
Astarte e prostra-se diante das estátuas desses deuses. Estamos diante de uma
tentativa de abrir Israel ao intercâmbio com outras culturas; mas essas razões
políticas não são entendidas nem aceites pelos círculos religiosos de Israel.
Nessa época, Elias torna-se o grande campeão da fé jahwista (cf. 1 Re 18 – o
episódio do “duelo” religioso entre Elias e os profetas de Baal, no monte
Carmelo), defendendo a Lei em todas as suas vertentes (inclusive na vertente
social – cf. 1 Re 21 – o célebre episódio da vinha de Nabot), contra uma classe
dirigente que subvertia a seu bel-prazer as leis e os mandamentos de Jahwéh.
A luta de Elias no
sentido de preservar os valores fundamentais da fé jahwista será continuada nos
reinados seguintes por um dos seus discípulos – Eliseu. A leitura que nos é
proposta apresenta-nos, precisamente, o chamamento de Eliseu.
MENSAGEM
O texto propõe-nos uma
reflexão sobre o chamamento de Deus e a resposta do homem.
O quadro inicial da
nossa leitura situa-nos no Horeb, a montanha da revelação de Deus ao seu Povo
(cf. 1 Re 19,8). Porquê no Horeb? Porque aí, no lugar onde começou a Aliança,
Deus vai definir os instrumentos do restabelecimento da Aliança: Elias é
convidado a ungir Eliseu como profeta; ele será (juntamente com Jehú, futuro
rei de Israel e de Hazael, futuro rei de Damasco) o instrumento de Deus na
aniquilação de Acab, o rei infiel a Jahwéh e à Aliança. Trata-se da única vez
que o Antigo Testamento refere a “unção” de um profeta.
Após a apresentação
inicial, o autor deuteronomista desenha o quadro do chamamento de Eliseu. Ele
está no campo, com os bois, a lavrar a terra quando Elias o encontra e o
convida a ser profeta: o profeta não é alguém que, repentinamente, cai do céu e
invade de forma anormal o mundo dos homens; também não é alguém que se torna
profeta porque não serve para outra coisa; mas é sempre um homem normal, com
uma vida normal, a quem Deus chama, indo ao seu encontro e falando-lhe na
normalidade do trabalho diário, para lhe apresentar o seu desafio.
Elias lança sobre
Eliseu o seu “manto”. Este gesto tem de ser entendido à luz da crença de que as
roupas ou os objectos pertencentes a uma pessoa representavam essa pessoa e
continham qualquer coisa do seu poder: dessa forma, Elias comunica a Eliseu o
seu poder e o seu espírito proféticos (cf. 2 Re 2,13-14; 4,29-31; Lc 8,44; Act
19,12).
Temos, depois, a
resposta de Eliseu ao desafio que Deus lhe lança através do gesto de Elias:
imolou uma junta de bois, queimou o arado, assou a carne dos bois e deu-a a
comer à sua família; depois, seguiu Elias e ficou ao seu serviço.
O gesto de Eliseu
significa, provavelmente, o abandono da vida antiga, a renúncia à antiga
profissão, a ruptura com a própria família e a entrega total à missão
profética. Exprime a radicalidade da sua entrega ao serviço de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
Ter em conta, para a
reflexão, os seguintes dados:
¨ A
história da salvação não é a história de um Deus que intervém no mundo e na
vida dos homens de forma espalhafatosa, prepotente, dominadora; mas é uma
história de um Deus que, discretamente, sem se impor nem dar espectáculo, age
no mundo e concretiza os seus planos de salvação através dos homens que Ele
chama. É como se Ele nos dissesse como fazer as coisas, mas respeitasse o nosso
caminho e Se escondesse por detrás de nós. É necessário ter em conta que somos
os instrumentos de Deus para construir a história, até que o nosso mundo chegue
a ser esse “mundo bom” que Deus sonhou. Aceitamos este desafio?
¨ O relato
da “vocação” de Eliseu não é o relato de uma situação excepcional, que só
acontece a alguns privilegiados, eleitos entre todos por Deus para uma missão
no mundo; mas é a história de cada um de nós e dos apelos que Deus nos faz, no
sentido de nos disponibilizarmos para a missão que Ele nos quer confiar, quer
no mundo, quer na nossa comunidade cristã. Estou atento aos apelos de Deus?
Tenho disponibilidade, generosidade e entusiasmo para me empenhar nas tarefas a
que Ele me chama?
¨ O
chamamento de Deus chega a Eliseu através da acção de Elias… É preciso ter em
conta que, muitas vezes, o desafio de Deus nos chega através da palavra ou da
interpelação de um irmão; e que, muitas vezes, é preciso contar com o apoio de
alguém para discernir o caminho e ser capaz de enfrentar os desafios da
vocação.
¨ Finalmente,
somos chamados a contemplar a disponibilidade de Eliseu e a forma radical como
ele acolheu o desafio de Deus. A referência à morte dos bois, ao
desmantelamento do arado (cuja madeira serviu para assar a carne dos animais) e
ao banquete de despedida oferecido à família significa que o profeta resolveu
“cortar todas as amarras”, pois queria dar-se, radicalmente, ao projecto de
Deus. É esse corte radical com o passado e essa entrega definitiva à missão que
nos questiona e interpela.
SALMO
RESPONSORIAL – Salmo 15 (16)
Refrão: O Senhor é a minha herança.
Defendei-me, Senhor:
Vós sois o meu refúgio.
Diga ao Senhor: «Vós
sois o meu Deus».
Senhor, porção da
minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o
meu destino.
Bendigo o Senhor por
me ter aconselhado,
até de noite me
inspira interiormente.
O Senhor está sempre
na minha presença,
com Ele a meu lado não
vacilarei.
Por isso o meu coração
se alegra e a minha alma exulta
e até o meu corpo
descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a
minha alma na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso
fiel sofrer a corrupção.
Dar-me-eis a conhecer
os caminhos da vida,
alegria plena na vossa
presença,
delícias eternas à
vossa direita.
LEITURA
II – Gal 5,1.13-18
Leitura da Epístola do
apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos:
Foi
para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou.
Portanto,
permanecei firmes
e
não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão.
Vós,
irmãos, fostes chamados à liberdade.
Contudo,
não abuseis da liberdade
como
pretexto para viverdes segundo a carne;
mas,
pela caridade,
colocai-vos
ao serviço uns dos outros,
porque
toda a Lei se resume nesta palavra:
«Amarás
o teu próximo como a ti mesmo».
Se
vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente,
tende
cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros.
Por
isso vos digo:
Deixai-vos
conduzir pelo Espírito
e
não satisfareis os desejos da carne.
Na
verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito,
e
o Espírito desejos contrários aos da carne.
São
dois princípios antagónicos
e
por isso não fazeis o que quereis.
Mas
se vos deixais guiar pelo Espírito,
não
estais sujeitos à Lei de Moisés.
AMBIENTE
Continuamos a ler a
Carta aos Gálatas. Já sabemos qual é o problema fundamental aí abordado: os
Gálatas estão a ser perturbados por esses “judaízantes” para quem os rituais da
Lei de Moisés também são necessários para chegar à vida em plenitude
(“salvação”); e Paulo – para quem “Cristo basta” e para quem as obras da Lei já
não dizem nada – procura fazer com que os Gálatas não se sujeitem mais à
escravidão, nomeadamente à escravidão dos ritos e das leis.
O texto que nos é
proposto aparece na parte final da Carta. É o início de uma reflexão sobre a
verdadeira liberdade, que é fruto do Espírito (cf. Gal 5,1-6,10).
MENSAGEM
As palavras de Paulo
são um convite veemente à liberdade. Logo no início deste texto (vers. 1), ele
avisa os Gálatas que foi para a liberdade que Cristo os libertou (a repetição – libertar
para a liberdade – é, sem dúvida, um hebraísmo destinado a dar ao
verbo “libertar” um sentido mais intenso) e que não convém voltar a cair no
jugo da escravidão (mais à frente – vers. 2-4 – ele identifica essa escravidão
com a Lei e com a circuncisão).
Os vers. 13-18
explicam em que consiste a liberdade para o cristão. Trata-se da faculdade de
escolher entre duas coisas distintas e opostas? Não. Trata-se de uma espécie de
independência ético-moral, em virtude da qual cada um pode fazer o que lhe
apetece, sem barreiras de qualquer espécie? Também não.
Para Paulo, a
verdadeira liberdade consiste em viver no amor (vers. 13-14). O que nos
escraviza, nos limita e nos impede de alcançar a vida em plenitude (“salvação”)
é o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência; mas superar esse fechamento em nós
próprios e fazer da nossa vida um dom de amor torna-nos verdadeiramente livres.
Só é autenticamente livre aquele que se libertou de si próprio e vive para se
dar aos outros.
Como é que esta
“liberdade” (a capacidade de amar, de dar a vida) nasce em nós? Ela nasce da
vida que Cristo nos dá: pela adesão a Cristo, gera-se em cada pessoa um
dinamismo interior que a identifica com Cristo e lhe dá uma capacidade infinita
de amar, de superar o egoísmo, o orgulho e os limites – ou seja, com uma
capacidade infinita de viver em liberdade. É o Espírito que alimenta, dia a
dia, essa vida de liberdade (ou de amor) que se gerou em nós, a partir da nossa
adesão a Cristo (vers. 16).
Viver na escravidão é
continuar a viver uma vida centrada em si próprio (Paulo enumera, mais à frente,
as obras de quem é escravo – cf. Gal 5,19-21); viver na liberdade (“segundo o
Espírito”) é sair de si e fazer da sua vida um dom, uma partilha (Paulo
enumera, mais à frente, as obras daquele que é livre e vive no Espírito – cf.
Gal 5,22-23).
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, na
reflexão, os seguintes elementos:
¨ Os
homens do nosso tempo têm em grande apreço esse valor chamado “liberdade”; no
entanto têm, frequentemente, uma perspectiva demasiado egoísta deste valor
fundamental. Quando a “liberdade” se define a partir do “eu”, identifica-se com
“libertinagem”: é a capacidade de “eu” fazer o que quero; é a capacidade de
“eu” poder escolher; é a capacidade de “eu” poder tomar as minhas decisões sem
que ninguém me impeça… Esta liberdade não gera, tantas vezes, egoísmo,
isolamento, orgulho, auto-suficiência e, portanto, escravidão?
¨ Para
Paulo, só se é verdadeiramente livre quando se ama. Aí, eu não me agarro a nada
do que é meu, deixo de viver obcecado comigo e com os meus interesses e estou
sempre disponível – totalmente disponível – para me partilhar com os meus
irmãos. É esta experiência de liberdade que fazem hoje tantas pessoas que não
guardam a própria vida para si próprias, mas fazem dela uma oferta de amor aos
irmãos mais necessitados. Como dar este testemunho e passar esta mensagem aos
homens do nosso tempo, sempre obcecados com a verdadeira liberdade? Como
explicar que só o amor nos faz totalmente livres?
¨ Falar de
uma comunidade (cristã ou religiosa) formada por pessoas livres em Cristo
implica falar de uma comunidade voltada para o amor, para a partilha, para as
necessidades e carências dos irmãos que estão à sua volta. É isso que realmente
acontece com as nossas comunidades? Damos este testemunho de liberdade no dom
da vida aos irmãos que nos rodeiam? As nossas comunidades são comunidades de pessoas
livres que vivem no amor e na doação, ou comunidades de escravos, presos aos
seus interesses pessoais e egoístas, que se magoam e ofendem por coisas sem
importância, dominados por interesses mesquinhos e capazes de gestos sem
sentido de orgulho e prepotência?
ALELUIA – 1 Sam 3,9; Jo 6,68c
Aleluia.
Aleluia.
Falai, Senhor, que o
vosso servo escuta.
Vós tendes palavras de
vida eterna.
EVANGELHO
– Lc 9,51-62
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Aproximando-se
os dias de Jesus ser levado deste mundo,
Ele
tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém
e
mandou mensageiros à sua frente.
Estes
puseram-se a caminho
e
entraram numa povoação de samaritanos,
a
fim de Lhe prepararem hospedagem.
Mas
aquela gente não O quis receber,
porque
ia a caminho de Jerusalém.
Vendo
isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus:
«Senhor,
queres
que mandemos descer fogo do céu que os destrua?»
Mas
Jesus voltou-Se e repreendeu-os.
E
seguiram para outra povoação.
Pelo
caminho, alguém disse a Jesus:
«Seguir-Te-ei
para onde quer que fores».
Jesus
respondeu-lhe:
«As
raposas têm as suas tocas
e
as aves do céu os seus ninhos;
mas
o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».
Depois
disse a outro: «Segue-Me».
Ele
respondeu:
«Senhor,
deixa-me ir primeiro sepultar meu pai».
Disse-lhe
Jesus:
«Deixa
que os mortos sepultem os seus mortos;
tu,
vai anunciar o reino de Deus».
Disse-Lhe
ainda outro:
«Seguir-Te-ei,
Senhor;
mas
deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família».
Jesus
respondeu-lhe:
«Quem
tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás
não
serve para o reino de Deus».
AMBIENTE
Aqui começa,
precisamente, a segunda parte do Evangelho segundo Lucas. Até agora, Lucas
situou Jesus na Galileia (1ª parte); mas, a partir de 9,51, Lucas põe Jesus a
caminhar decididamente para Jerusalém. A “caminhada” que Jesus aqui inicia com
os discípulos é mais teológica do que geográfica: não se trata tanto de fazer
um diário da viagem ou de fazer a lista dos lugares por onde Jesus vai passar
até chegar a Jerusalém; trata-se, sobretudo, de apresentar um itinerário
espiritual, ao longo do qual Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do
“Reino” e os vai presenteando com a plenitude da revelação de Deus. Todo este
percurso que aqui se inicia converge para a cruz: ela vai trazer a revelação
suprema que Jesus quer apresentar aos discípulos e nela vai irromper a salvação
definitiva. Os discípulos são exortados a seguir este “caminho”, para se
identificarem plenamente com Jesus… Lucas propõe aqui à sua comunidade o
itinerário que os autênticos crentes devem percorrer.
MENSAGEM
Lucas começa por
apresentar as “exigências” do “caminho”. O nosso texto apresenta, nitidamente,
duas partes, dois desenvolvimentos.
Na primeira parte
(vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre
judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de
convivência entre os dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a
Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar a passagem pela
Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” (junto da orla
costeira), ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar
“maus encontros”.
A primeira lição de
Jesus ao longo desta “caminhada” vai para a atitude que os discípulos devem
assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de
rejeição face à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta
agressiva, “musculada”, que retribua na mesma moeda, face à hostilidade
manifestada pelos samaritanos (a referência ao “fogo do céu” leva-nos ao
castigo que Elias infligiu aos seus adversários – cf. 2 Re 1,10-12); mas Jesus
avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da
força, pela resposta violenta, pela prepotência (no seu horizonte próximo
continua a estar apenas a cruz e a entrega da vida por amor: é no dom da vida e
não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão). Isto é algo que
os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em percorrer o
“caminho” de Jesus.
Na segunda parte
(vers. 57-62), Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três
candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse
“caminho” que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da
salvação. Que condições são essas?
O primeiro diálogo
sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais:
para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as
comodidades e o bem-estar material.
O segundo diálogo
sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que, apesar
da sua relativa importância (o dever de sepultar os pais é um dever fundamental
no judaísmo), impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.
O terceiro diálogo
sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for
necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a
própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.
Não podemos ver estas
exigências como normativas: noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais
(cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar
das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5)… O que estes
ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua
vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do
Reino.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão,
considerar os seguintes elementos:
¨ A nós,
discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse
“caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que
implica a renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um
compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o
amor até às últimas consequências. Aceitamos ser discípulos, isto é, embarcar
com Jesus no “caminho de Jerusalém”?
¨ Jesus
recusa, liminarmente, responder à oposição e à hostilidade do mundo com
qualquer atitude de violência, de agressividade, de vingança. No entanto, a
Igreja de Jesus, na sua caminhada histórica, tem trilhado caminhos de violência,
de fanatismo, de intolerância (as cruzadas, as conversões à força, os
julgamentos da “santa” Inquisição, as exigências que criam em tantas
consciências escravidão e sofrimento…). Diante disto, resta-nos reconhecer que,
infelizmente, nem sempre vivemos na fidelidade aos caminhos de Jesus e pedir
desculpa aos nossos irmãos pela nossa falta de amor. É preciso, também,
continuar a anunciar o Evangelho com fidelidade, com firmeza e com coragem, mas
no respeito absoluto por aqueles que querem seguir outros caminhos e fazer
outras opções.
¨ O
“caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao
“Reino”. Quem quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou
desvantagens materiais que isso lhe traz, nem nos interesses que deixou para
trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus… O que é que, na nossa vida
quotidiana, ainda nos impede de concretizar um compromisso total com o “Reino”
e com esse caminho do dom da vida e do amor total?
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 13º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(em parte adaptadas de
“Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA
AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da
semana anterior ao 13º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de
Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por
exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num
grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa
comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a
Palavra de Deus.
2. VALORIZAR AS PROCISSÕES DA CELEBRAÇÃO.
O “Segue-Me” que
Cristo nos dirige no Evangelho pode ser realçado particularmente nas procissões
da Eucaristia:
- procissão de
entrada: seguir atrás de Cristo, salvador dos homens;
- procissão do
Evangeliário no momento da aclamação do Evangelho: seguir atrás de Cristo,
Palavra de Vida;
- procissão de
ofertório: seguir atrás de Cristo, sacerdote eterno na sua oblação ao Pai;
- procissão de
comunhão: é Cristo que nos convida a comungar o seu Corpo e o seu Sangue;
- procissão de saída:
é Cristo que nos envia para o mundo.
Cada comunidade
procurará encontrar os meios mais adequados para valorizar as procissões na
Eucaristia, tantas vezes esquecidas ou mal preparadas, como expressão simbólica
e profunda do nosso seguimento de Cristo.
3. O SALMO.
O Salmo de hoje é um
dos mais belos e mais profundos. Seria útil que toda a assembleia tivesse o
texto fotocopiado, para ser acompanhado no momento próprio da sua proclamação.
Depois da comunhão, pode ser retomado: em acção de graças, toda a assembleia
pode ler lentamente as quatro estrofes.
4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da
Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com
a oração.
No final da primeira
leitura:
Deus de bondade, de
luz, de vida e de alegria, como Elias e Eliseu, vale a pena agarrarmo-nos a Ti
sem olhar para trás. Nós Te damos graças pelos teus apelos.
Nós Te pedimos pelos
nossos irmãos e irmãs indecisos, que duvidam e hesitam em dar o passo, nas
múltiplas solicitações da existência.
No final da segunda
leitura:
Pai, nós Te damos
graças pela libertação realizada pelo teu Filho, que nos purifica das forças do
mal, e pelo dom do teu Espírito, que nos purifica do egoísmo.
Escutando o teu Filho
Jesus, colocamo-nos sob a acção do Espírito Santo, para que nos penetre com a
sua luz e nos indique o caminho.
No final do Evangelho:
Deus fiel, bendito
sejas pela paciência que o teu Filho Jesus nos revela: não lanças o fogo do céu
sobre os indiferentes e os duros de coração, porque não queres a morte do
pecador, mas que ele viva.
Nós Te pedimos:
liberta-nos do peso das nossas culpabilidades, purifica-nos dos erros
cometidos, para que possamos seguir o teu Filho com um coração leve e puro.
5. BILHETE DE EVANGELHO.
Quando Lucas menciona
que Jesus tomou com coragem o caminho de Jerusalém, apresenta Cristo plenamente
livre e decidido em ir até ao fim da sua missão, com o risco de aí viver a sua
Paixão. É, pois, um Cristo a caminho que reencontram os seus discípulos e,
nesta caminhada como em todas as outras, há obstáculos de toda a espécie.
Encontra a recusa dos Samaritanos, mas Jesus passa e respeita a liberdade das
pessoas que encontra. Ao contrário de Tiago e João que queriam empregar o
método da força… E depois, quando alguém caminha dá também vontade de seguir os
seus passos. Somente Cristo em marcha sabe aonde vai, avança com passo decidido.
Então, quem quiser segui-l’O não pode ter hesitações nem restrições. Para Ele,
o tempo urge, tem a ver com a salvação da humanidade, com a vontade do Pai. Se
Jesus parece exigente para com aqueles que O querem seguir, é porque Ele mesmo
é exigente quanto à sua própria caminhada. É caminhando que Jesus convida a
colocarmo-nos a caminho atrás d’Ele. Então, aqueles que o seguirem poderão
dizer como Paulo: “combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a
fé”.
6. À ESCUTA DA PALAVRA.
Frases fortes, às
vezes revoltantes, as do Evangelho de hoje. É impossível pararmos em cada uma
delas. Retenhamos a última afirmação de Jesus: “Quem tiver lançado as mãos ao
arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus”. Mas olhar para trás
pode ser útil, mesmo necessário: parar para fazer o ponto da situação, fazer o
balanço, saber onde se está, reconhecer os erros cometidos mas também os
progressos realizados, para poder recomeçar melhor. É também dar graças pelas
amizades, pelas experiências enriquecedoras. E tirar lições positivas dos
fracassos. Tudo isso é bom e Jesus não pode condenar ou proibir isso. Mas há
outra maneira de olhar para trás: é querer voltar para trás, manter em si uma
vã nostalgia, como quando dizemos, por exemplo, que “antigamente, é que era
bom, era melhor que agora!”. Lamentamos o tempo em que, pensamos nós, havia o
respeito dos verdadeiros valores, onde havia referências seguras, que
pensávamos imutáveis. Lembramo-nos das igrejas cheias, das missas em latim.
“Nessa altura, sim, havia fé!”, dizemos, enquanto que, hoje, só há dinheiro,
violência, sexo, divórcios, droga! E suspiramos: “No meu tempo, não era assim!”
Ora, esquecemos simplesmente que o “meu tempo” é o tempo que me é dado hoje.
Não é mais ontem, não é ainda amanhã, é hoje. Mais ainda, quando acreditamos
que Jesus ressuscitou, referimo-nos a um acontecimento que se passou há dois
mil anos. E pensamos, por vezes, que para nos juntarmos a Jesus, é preciso
voltar atrás. Isso é um grande erro. Pela sua ressurreição, Jesus saiu do nosso
tempo, tornou-Se o contemporâneo de cada momento do tempo. Jesus conhece-me,
encontra-me, dá-me a sua presença hoje, em cada instante da minha vida. Jesus
pede-me para não voltar atrás, porque me diz: “É agora que te amo, é agora que
quero encontrar-te, estar contigo”. Se aceito isso, então sou “feito para o
Reino!”
7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Em ligação com o
Evangelho, pode-se escolher a Oração Eucarística II, sublinhando a expressão
“Tu nos escolheste para servir em tua presença”.
8. PALAVRA PARA O CAMINHO…
Apelo e convite a
amar. Apelo: um convite presente em todas as leituras deste domingo. Apelo que
recebe um acolhimento favorável, mas com resistências quanto à resposta. Sim,
mas… Vamos aceitar o apelo de Jesus a segui-l’O, vamos renovar o convite a
segui-l’O no amor. Em cada momento, ao longo da semana que se segue…
UNIDOS
PELA PALAVRA DE DEUS
Proposta
para
Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra nas
Comunidades Dehonianas
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P.
Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província
Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10
– 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax:
218540909
portugal@dehonianos.org
– www.dehonianos.org
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