segunda-feira, 30 de maio de 2016

Amar a Deus e ao próximo-Dehonianos

02/06/2016

Tempo Comum - Anos Pares
IX Semana - Quinta-feira

Lectio

Primeira leitura: 2 Timóteo 2, 8-15

Caríssimo, 8tem sempre bem presente Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos e nascido da linhagem de David, segundo o meu evangelho, 9pelo qual sofro mesmo estas cadeias, como se fosse um malfeitor. Mas a palavra de Deus não pode ser acorrentada. 10Por isso, tudo suporto pelos eleitos, para que também eles alcancem a salvação em Cristo Jesus e a glória eterna. 11É digna de fé esta palavra:Se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. 12Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele. Se o negarmos, também Ele nos negará. 13Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. 14Lembra-lhes estas coisas, advertindo seriamente em nome de Deus que não se envolvam em litígios de palavras. Isso não serve para nada e leva à ruína dos ouvintes. 15Esforça-te por te apresentares diante de Deus como trabalhador digno e irrepreensível, interpretando rectamente a palavra da verdade.

A Segunda Carta a Timóteo, leva-nos comunidades cristãs da Ásia Menor, na última quarta parte do século I. Aí começavam a surgir controvérsias teológicas baseadas em diferentes interpretações da fé cristã. E cada uma tinha a pretensão de provir directamente da primeiríssima tradição e de assim obter o monopólio da interpretação da fé. Neste contexto, Timóteo lembra os conselhos do seu mestre, Paulo. Antes de discutir qualquer doutrina, há que ir ao único fundamento da fé, que é Jesus Cristo. A Teologia está sujeita à cristologia. Ser cristão é, fundamentalmente, acreditar em Jesus Cristo, naquele homem histórico concreto, conhecido de todos, e que continua misteriosamente presente na comunidade, depois da sua ressurreição. A vida do cristão é a vida de Cristo nele; é participação sempre renovada na morte e na vida gloriosa do Senhor, que misteriosamente sofre e ressuscita naquele que acredita nele. É o que se verifica em Paulo, preso «como um malfeitor» (v. 9), mas também convencido de «reinar com ele» (v. 12). Daqui, seguem duas consequências. Em primeiro lugar, os sofrimentos do cristão participam do valor redentor dos sofrimentos de Cristo e são, de facto, instrumento de salvação, na medida em que o cristão sofre, como Paulo, «por Cristo» e «morre com ele» (v. 11). Desde que o Filho de Deus morreu na cruz, nenhum sofrimento terreno é inútil, e nenhum crente pode sentir-se não responsável pela salvação dos outros. É a comunhão na cruz que dá a cada um a força para «tudo suportar» pelos irmãos, «para que também eles alcancem a salvação em Cristo Jesus e a glória eterna» (v. 10). E então – é a segunda consequência – a vida do cristão torna-se uma existência pascal, na memória da ressurreição de Jesus (v.8) e na profecia da sua própria ressurreição (v.11). Com estas perpectivas, o cristão não se perde em «em litígios de palavras» (v. 14), nem se envergonha da Palavra, mas proclama-a, ainda que, para isso, tenha de sofrer: «a palavra de Deus não pode ser acorrentada»(v. 9) .


Segunda leitura: Marcos 12, 28b-34

Naquele tempo, 28aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» 29Jesus respondeu: «O primeiro é: Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; 30amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. 31O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.» 32O escriba disse-lhe: «Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e não existe outro além dele; 33e amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.» 34Vendo que ele respondera com sabedoria, Jesus disse: «Não estás longe do Reino de Deus.» E ninguém mais ousava interrogá-lo.

Depois dos fariseus, herodianos e saduceus, aparece um escriba de boa vontade, que faz uma pergunta simplesmente teórica, sem armadilhas mais ou menos camufladas. Era uma questão clássica e frequentemente debatida. A resposta de Jesus também não era completamente nova. Na verdade trata-se de uma questão central para Jesus e para todos os crentes. A resposta mais completa será dada com toda a sua vida.
Jesus oferece ao escriba honesto uma resposta rigorosamente bíblica: remete-o para Dt 6, 4s. e para Lv 19, 18. Mas a compreensão plena da resposta só se obtém à luz da revelação, segundo a qual o nosso amor a Deus e ao próximo supõe um facto precedente e fundante: o amor de Deus para connosco. O amor de Deus é a medida com que se deve confrontar todo o amor humano. Se este nascer daquele, estender-se-á a toda a humanidade, a todo o homem sem distinções, e será um amor com toda a humanidade de que dispomos: o coração, a mente e a vontade. Este amor supera todo e qualquer acto de culto, sobretudo aquele que está separado do amor ao próximo. Notemos também a afirmação clara e incisiva do monoteísmo (vv. 29.32), em polémica com o ambiente pagão em que vivia a comunidade para quem Marcos escrevia o seu evangelho.


Meditatio

Para o escriba, a questão posta a Jesus era simplesmente intelectual. Mas, para Jesus, tratava-se de uma questão vital.
O Senhor começa por apresentar o essencial da vontade de Deus, que consiste em amar a Deus e amar ao próximo: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Jesus unifica o primeiro e o segundo mandamento: «Não há outro mandamento maior que estes» (vv. 30-31). Só Jesus viveu este único mandamento de modo perfeito. O seu amor pelo Pai e por nós levou-o a morrer na cruz, dando a sua vida até às últimas gotas de sangue, que jorraram do seu Coração trespassado.
O nosso coração foi criado por Deus, à imagem e semelhança do seu, isto é, capaz de amar, e de amar à maneira divina. É o maior sinal do amor de Deus pelo homem. O Criador não guardou ciosamente para Si o poder de amar, mas partilhou-o com a criatura. É por isso que, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é o maior de todos os mandamentos. É o maior porque, antes de ser um mandamento, é um dom. E, se é maior que todos os holocaustos e todos os sacrifícios, quer dizer que o homem realiza a maior experiência do amor divino quando ama à maneira de Deus, porque só então se pode dar conta de quando foi amado pelo Eterno, a ponto de poder amar como Ele ama.
É nesta linha que Paulo convida Timóteo, e todos nós, a sofrer e a morrer por Cristo, para que os irmãos sejam salvos. Esta comunhão no amor redentor da cruz, revela-nos o surpreendente mistério da comunhão de Deus com o homem, do amor divino com o amor humano. Graças a esta comunhão, o amor de Deus já está presente e visível na terra. Mais ainda: o próprio Deus amou com um rosto humano, e um coração de carne bate desde já, com ritmos eternos, no meio dos homens.
As nossas Constituições lembram-nos: «A vida reparadora será, por vezes, vivida na oferta dos sofrimentos suportados com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos e com a morte de Cristo pela redenção do mundo» (n. 24). A nossa oblação, motivada e animada pelo amor oblativo de Cristo, torna-se instrumento de santificação para cada um de nós e para a Igreja, torna-se instrumento de redenção para o mundo. Por isso, as Constituições citam Paulo: «Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja» (Cl 1,24) (cf. Cst 24).

Oratio

Senhor Jesus, o Pai não quis holocaustos nem sacrifícios. Por isso, ofereceste-te a Ti mesmo e, num acto de perfeito amor filial, fizeste-te vítima e sacerdote, dom extremo de amor pelos teus: Por isso é que o teu discípulo amado, João, escreve: «Ele, que amara os seus, levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13, 1).
Agradeço, adoro e alimento-me do teu sacrifício, do teu duplo amor, tornado um único amor. Ensina-me a amar como Tu amaste. Sabes quanto vivo à procura de mim mesmo, grudado ao meu egoísmo, mesmo quando procuro amar. Ensina-me o teu amor oblativo. Ensina-me a morrer contigo, para que o mundo seja salvo. E, estou certo, viverei contigo, para sempre.
Dá-me o teu Coração, alimenta-me sempre da Eucaristia, para que viva em união contigo, de modo cada vez mais profundo. Assim poderei amar o próximo como Tu o amas, e cumprir toda a Lei e os Profetas. Amen.


Contemplatio

O amor do Coração de Jesus pelo seu Pai é o modelo do nosso amor. Jesus é o corifeu do amor das criaturas por Deus. Há certamente o amor dos Anjos e de algumas boas almas, mas o que é isto para Deus? Jesus veio e oferece ao Pai um amor digno. E Pai compraze-se nesse amor, como disse o próprio Jesus nas margens do Jordão.
Jesus ama o Pai. Esse amor é a sua vida. Amou-o na sua vida mortal, ama-o na Eucaristia, e ama-o no céu. Cumpre sempre o grande preceito: «Amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a sua alma, com todas as tuas forças».
Entre os homens, Deus é tão pouco amado! Somos ingratos. Esquecemos Aquele de quem temos tudo: a vida, o perdão, a graça, a esperança do céu. E, no entanto, pede-nos o nosso coração: Filho, dá-me o teu coração (Pr 23, 26). Incapazes de O amarmos bem, por nós mesmos, amemo-lo pelo Coração de Jesus. Este divino Coração pertence-nos, suprirá à nossa impotência. Começarei, portanto, esta vida de amor em união com o Coração de Jesus. Amigo de Deus, amarei tudo o que me aproxima dele: a oração, o recolhimento, a visita ao Santíssimo Sacramento, a santa comunhão.
Amar o próximo como o Coração de Jesus e com ele. O amor de Jesus pelos homens é o modelo daquele que devemos ter. Quanto Jesus nos amou! Porque é que o Filho de Deus se fez homem? Porque é que escolheu uma vida de pobreza, de trabalho e de sofrimento? Por nós e pela nossa salvação! O seu amor é a única explicação dos mistérios de Belém, de Nazaré, da Agonia e do Calvário. «Amou-me e entregou-se por mim» (Gal 2). Foi por nós também que quis permanecer na Eucaristia, e por nós ainda que intercede no céu.
Jesus é caridade, como Deus é caridade. – A caridade é também o seu mandamento: «Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei», diz-nos (Jo 15). - «Se Jesus, diz S. João, sacrificou por nós a sua vida, devemos também estar prontos a sacrificar a nossa pelos nossos irmãos» (1Jo 3).
Deus pede raramente um tal sacrifício, mas pede ao menos que pratiquemos a doçura e a paciência. Devemos mostrar-nos serviçais, sofrer as contrariedades, assistir aos infelizes, rezar pelos pecadores. Devemos ser afáveis e delicados, prestar serviços ao próximo, não o criticar nem o desprezar. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 607s.).


Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Amarás o Senhor, teu Deus, e o teu próximo como a ti mesmo» (cf. Mc 12, 30-31).


| Fernando Fonseca, scj |


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