Anunciação do
Senhor - 2ª semana – Páscoa
A solenidade da Anunciação do Senhor é a celebração do grande
mistério cristão da Encarnação do Verbo de Deus. A data de 25 de Março está em
função do Nascimento de Jesus, que é celebração exatamente nove meses depois. A
catequese sempre fez coincidir a Anunciação e a Encarnação. Estes mistérios
começaram a ser celebrados liturgicamente provavelmente depois da edificação da
basílica constantiniana sobre a casa de Maria, em Nazaré, no século IV. A
celebração no Oriente e no Ocidente data do século VII. Durante séculos, esta
solenidade teve sobretudo carácter mariano. Mas Paulo VI devolveu-lhe o título
de “Anunciação do Senhor”, repondo o seu carácter predominantemente
cristológico. Em síntese, trata-se de uma “celebração (que) era e é festa de
Cristo e da Virgem: do Verbo que se torna filho de Maria e da Virgem que se
torna Mãe de Deus” (Marialis cultus 6).
Lectio
Primeira leitura: Isaías 7, 10-14; 8, 10
Naqueles dias, o Senhor mandou dizer de novo a
Acaz: 11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá
no alto dos céus.» 12Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o
Senhor.» 13Isaías respondeu: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta já ser
molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? 14Por isso,
o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida
e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel. 10Traçai planos,
que serão frustrados; ordenai ameaças, que não serão executadas, pois temos o
Emanuel: «Deus-connosco.»
Acaz, rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono
devido à aproximação de exércitos inimigos. A sua primeira reação é entrar numa
política de alianças humanas. Isaías, pelo contrário, propõe a resolução do
problema pela confiança em Deus. Convida o rei a pedir um «sinal» (v. 11) que
seja confirmação da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «não tentarei o
Senhor» (v. 12). Fá-lo por hipocrisia, e não por verdadeiro sentido religioso.
Isaías insiste que, apesar da recusa do rei, Deus lhe dará um sinal: «a jovem
está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel:
«Deus-connosco». O sentido imediato destas palavras refere-se a Ezequias, filho
de Acaz, que a rainha está para dar à luz. O seu nascimento, nesse momento
histórico, é interpretado como sinal da presença salvadora de Deus em favor do
seu povo aflito. Mais profundamente, as palavras de Isaías são profecia de um
futuro rei Salvador. A tradição cristã sempre viu neste oráculo o anúncio
profético do nascimento de Jesus, filho de Maria Virgem.
Segunda leitura: Hebreus 10, 4-10
Irmãos, é impossível que o sangue dos touros e
dos bodes apague os pecados. 5Por isso, ao entrar no mundo, Cristo diz: «Tu não
quiseste sacrifício nem oferenda, mas reparaste-me um corpo. 6Não te agradaram
holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. 7Então, Eu disse: Eis que venho -
como está escrito no livro a meu respeito -para fazer, ó Deus, a tua vontade.
8Disse primeiro: Não quiseste nem te agradaram sacrifícios, oferendas e
holocaustos pelos pecados - e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei.
9Disse em seguida: Eis que venho para fazer a tua vontade. Suprime, assim, o
primeiro culto, para instaurar o segundo. 10E foi por essa vontade que nós
fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para
sempre.
Este texto, retirado do seu contexto, procura
demonstrar que o sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios do Antigo
Testamento. O autor da Carta aos Hebreus relê o Salmo 39 – utilizado pela
liturgia desta solenidade como Salmo Responsorial – como se fosse uma
declaração de intenções do próprio Cristo ao entrar no mundo, no momento da
Incarnação. Esta é também a atitude obediencial do povo da antiga aliança e de
todo o piedoso cantor do salmo: «: Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua
vontade.». A Incarnação como atitude obediencial acontece no dia da Anunciação
do Senhor a Maria. Esse dia inaugura a peregrinação messiânica que conduzirá à
doação do corpo de Cristo no sacrifício salvífico, novo e inovador, único e
indispensável, que se completa no sacrifício da cruz.
Evangelho: Lucas 1, 26-38
Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por
Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um
homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28Ao entrar
em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está
contigo.» 29Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria
o que significava tal saudação. 30Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois
achaste graça diante de Deus. 31Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um
filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32Será grande e vai chamar-se Filho do
Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33reinará
eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34Maria disse
ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35O anjo respondeu-lhe: «O
Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua
sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus.
36Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no
sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37porque nada é impossível a Deus.»
38Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua
palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
Uma possível chave de leitura deste texto é ver
nele um relato biográfico feito por Lucas que terá ouvido atentamente as
confidências de Maria. No diálogo entre Deus e a menina de Nazaré – pela
mediação do anjo Gabriel – revela-nos uma relação viva entre o divino e o
humano, em que a proposta do alto vai sendo progressivamente esclarecida. O
mensageiro respeita a condição humana de uma rapariga virgem que recebe uma
proposta inesperada: ser mãe do Messias. Maria, a virgem prometida como esposa
a José, aproxima-se progressivamente do mistério, deixando-se conscientemente
envolver por ele, disponibilizando-se e adequando à proposta de Deus o seu
próprio projeto. E termina pronunciando o seu «Eis-me aqui!» (cf. v. 38).
Meditatio
O mistério celebrado hoje é a conceição do Filho
de Deus no seio da Virgem Maria. Na basílica nazaretana da Anunciação, diante
do altar, há uma placa de mármore que os peregrinos beijam com emoção e onde
está escrito: “Aqui de Maria Virgem fez-se carne o Verbo”.
No texto da Carta aos Hebreus, o hagiógrafo refere ou interpreta a anunciação de Cristo; no texto de Lucas, o evangelista narra a anunciação a Maria. Cristo toma a iniciativa de declarar aquilo que Ele mesmo compreende; Maria recebe uma palavra que vem de fora de si mesma, uma palavra cheia de propostas de um Outro. O paralelismo transforma-se em coincidência na explicitação da disponibilidade de ambos para fazerem a vontade divina; é uma disponibilidade separada por qualidade e quantidade de consciência, mas que converge na finalidade de obediência total ao projeto de Deus: Ecce venio, ecce ancilla, eis-me aqui! Eis a serva!
A atitude de obediência irá aproximar a mãe e o filho, Maria “anunciada” e Jesus Cristo “anunciado”. Ambos pronunciam o seu «Eis-me aqui!». Ambos se exprimem com voz quase idêntica: «faça-se em mim segundo a tua palavra», «Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade». Ambos entram na fisionomia de «serva» e de «servo» do Senhor. Esta sintonia encoraja os discípulos à disponibilidade para servir a palavra de Deus, porque o próprio Filho de Deus é servo e porque a Mãe de Deus é serva; ambos são servos de uma palavra que salva quem a serve e que traz salvação.
Os Sacerdotes do Coração de Jesus são chamados a viver a espiritualidade oblativa, a fazerem da sua vida e obras uma oferta de amor que se concretiza, em primeiro lugar, na disponibilidade para cumprir a vontade de Deus, mesmo quando ela exige renúncia, sacrifício. Unem-se à oblação perfeita de Cristo ao Pai com o sacrifício das suas vidas, “como oblação viva, santa e agradável a Deus” (cf. Rom 12, 1), a realizar-se na contemplação e no apostolado (cf. Cst nn. 24 e 58).
Esta espiritualidade oblativa é bem expressa, segundo o P. Dehon, pelo “Ecce venio” (Eis-me aqui!) (Heb 10, 7): "Nestas palavras: Ecce venio,.. Ecce ancilla..., encerram-se toda a nossa vocação, a nossa finalidade, o nosso dever, as nossas promessas" (Dir. Esp. I. 3).” (Cst. n. 6; cf. Cst nn. 53.58.85).
No texto da Carta aos Hebreus, o hagiógrafo refere ou interpreta a anunciação de Cristo; no texto de Lucas, o evangelista narra a anunciação a Maria. Cristo toma a iniciativa de declarar aquilo que Ele mesmo compreende; Maria recebe uma palavra que vem de fora de si mesma, uma palavra cheia de propostas de um Outro. O paralelismo transforma-se em coincidência na explicitação da disponibilidade de ambos para fazerem a vontade divina; é uma disponibilidade separada por qualidade e quantidade de consciência, mas que converge na finalidade de obediência total ao projeto de Deus: Ecce venio, ecce ancilla, eis-me aqui! Eis a serva!
A atitude de obediência irá aproximar a mãe e o filho, Maria “anunciada” e Jesus Cristo “anunciado”. Ambos pronunciam o seu «Eis-me aqui!». Ambos se exprimem com voz quase idêntica: «faça-se em mim segundo a tua palavra», «Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade». Ambos entram na fisionomia de «serva» e de «servo» do Senhor. Esta sintonia encoraja os discípulos à disponibilidade para servir a palavra de Deus, porque o próprio Filho de Deus é servo e porque a Mãe de Deus é serva; ambos são servos de uma palavra que salva quem a serve e que traz salvação.
Os Sacerdotes do Coração de Jesus são chamados a viver a espiritualidade oblativa, a fazerem da sua vida e obras uma oferta de amor que se concretiza, em primeiro lugar, na disponibilidade para cumprir a vontade de Deus, mesmo quando ela exige renúncia, sacrifício. Unem-se à oblação perfeita de Cristo ao Pai com o sacrifício das suas vidas, “como oblação viva, santa e agradável a Deus” (cf. Rom 12, 1), a realizar-se na contemplação e no apostolado (cf. Cst nn. 24 e 58).
Esta espiritualidade oblativa é bem expressa, segundo o P. Dehon, pelo “Ecce venio” (Eis-me aqui!) (Heb 10, 7): "Nestas palavras: Ecce venio,.. Ecce ancilla..., encerram-se toda a nossa vocação, a nossa finalidade, o nosso dever, as nossas promessas" (Dir. Esp. I. 3).” (Cst. n. 6; cf. Cst nn. 53.58.85).
Oratio
Salve Santa Maria, serva humilde do Senhor, mãe gloriosa
de Cristo! Salve, Virgem fiel! Ensina-nos a ser dóceis ao Espírito. Ensina-nos
a viver em atitude de escuta da Palavra, atentos às suas inspirações e às suas
manifestações na vida dos irmãos, nos acontecimentos da história, no gemido e
no júbilo da criação. Virgem da escuta, virgem orante, acolhe as súplicas dos
teus servos. Ajuda-nos a abandonar-nos ao Senhor, a unir-nos ao Ecce venio de
Jesus e ao teu Ecce ancilla. Ajuda-nos a compreender que já não podemos ter
outra vontade que não a do Pai, outra regra que o seu beneplácito. Que, em cada
instante, procuremos a vontade de Deus e nos conformemos a ela (cf. Leão Dehon,
OSP 3, p. 329).
Contemplatio
Ecce venio, regra de vida de Jesus. – Foi neste
dia que Nosso Senhor disse o seu Ece venio e que Maria disse o seu Ecce
ancilla. O apóstolo S. Paulo regista-o, foi ao entrar neste mundo pela
Incarnação que Nosso Senhor formulou o seu abandono ao beneplácito do Pai e a
regra de toda a sua vida: Eis que venho, meu Pai, para fazer a vossa vontade
(Heb 10,5). Tinha dito por David que tal seria a lei do seu Coração (Sl 39).
Colocou esta lei do abandono, da obediência, da conformidade à vontade do seu
Pai, no fundo do seu Coração para a consultar sem cessar, para a seguir sempre,
para dela fazer a rega de toda a sua vida. E do seu Coração ela subia sem
cessar aos seus lábios, como o Evangelho mesmo o indica: «Meu Pai, que a vossa
vontade seja feita. – Meu Pai, que assim seja, pois que vós o quereis. – Meu
Pai, não a minha vontade, mas a vossa». Estas indicações do Evangelho bastam
para mostrar que aí estava para Nosso Senhor uma regra de vida e um pensamento
habitual do seu Coração. O que Ele procura sempre, não é nem o interesse nem o
prazer, mas a vontade do seu Pai. A única questão que se coloca antes de agir é
sempre esta: «Meu Pai, que quereis que Eu faça?» (Leão Dehon, OSP 3, p. 328).
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Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 2, 38).
«Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 2, 38).
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