III DOMINGO DA PÁSCOA 10/04/2016
1ª Leitura Atos 5,27b-32.40b-41
Salmo 29(30),2 a “Eu vos exaltarei, ó Senhor, porque me livrastes”
2ª Leitura Apocalípse 5,11-14
Evangelho João 231, 1-19
“O Homem da Praia...”
Um grande amigo que acompanha
atentamente as reflexões, me alertou sobre o evangelho desse terceiro Domingo
da Páscoa: “Olha Diácono, é aquele evangelho onde o “Pedrão”, joga a toalha e
vai pescar..” “Pedrão” é o jeito carinhoso que ele chama São Pedro, eu não o
censuro porque, de fato, a primeira impressão que se tem é essa: Que o apóstolo
Pedro desistiu de tudo e voltou á vidinha antiga, indo pescar. O mais
interessante, é que a sua reestréia na profissão de pescador, foi uma lástima:
lidou a noite inteira com a sua equipe de trabalho, e não pescaram nada, pelo
que diz o texto. Depois, um fato mais estranho aconteceu: Jesus, que era
carpinteiro e não pescador aparece na praia, pede alimento e depois dá palpite
na atividade pesqueira de Pedro e dos outros pescadores experientes, mandando
jogar a rede do lado direito. Dá para imaginar a cara de “poucos amigos” que
Pedro fez, com aquele palpite de um estranho. Por que, vamos e convenhamos, que
diferença faz jogar a rede do lado esquerdo ou direito da barca? Aquele
estranho não entende nada de pesca. Entretanto, seguindo exatamente a sua
palavra orientadora, aconteceu uma pesca milagrosa, e as duas barcas ficaram
tão cheias de peixes graúdos, que por pouco não afundaram. Antes que alguém
diga que isso mais parece lorota de pescador, deixa-me informar que essa
história é absolutamente verdadeira, mas... É claro que não se trata de
peixes....
Quando Jesus chamou Pedro,
Thiago e João, um belo dia á beira mar, prometeu que daquele dia em diante,
iria fazer deles, pescadores de homens. Não se pode também, imaginar que Pedro
decidiu sair pelos lugarejos, fazendo uma pregação meio louca, da sua própria
cabeça, e que daí as coisas não deram certo. Mas o evangelista se reporta aos
primeiros tempos da comunidade primitiva. Que dureza tentar cumprir a missão,
sem Jesus por perto! A primeira sensação é realmente de um grande fracasso, em
nossas comunidades a gente experimenta muito isso, a própria vida da
comunidade, ás vezes se acha comprometida e parece que todo trabalho não vai
dar em nada.
Os apóstolos sabiam muito bem
qual era a missão que o Senhor lhes havia confiado, nós também nos dias de
hoje, já estamos até carecas de saber qual é a missão primária da igreja, e o
que compete a cada batizado fazer, para que o anúncio do evangelho aconteça,
mas o problema são os métodos que nós utilizamos, será que estão corretos, será
que são os mais adequados, será que não estamos querendo fazer as coisas do
nosso jeito?
Há os que confundem o
evangelho com ideologias políticas, ou com uma Filosofia de vida, há os que
pensam que o evangelho não tem nada a ver com a nossa vida e a nossa história,
com a realidade onde estamos inseridos, e pensando desta forma, lá se vão
noites e noites de uma pescaria infrutífera, trabalhos pastorais, reuniões
cansativas e desgastantes, projetos que não saem das gavetas, catequese “arroz
com Feijão”, normas e regras na Vida dos Sacramentos, que não agregam nada. As
pessoas chegam, procurando alimento, e vão embora esfomeadas, esta é uma grande
verdade.
Tudo isso porque falta ás
vezes o essencial, o reconhecimento de Jesus presente em nossa lida
comunitária, aqui um detalhe extremamente importante: para reconhecê-lo, só a
fé não basta, é preciso uma relação amorosa com Deus presente em Jesus, por
isso João, o discípulo que Jesus amava, exclama feliz, ao constatar o resultado
surpreendente da “pescaria” “É o Senhor!”. Jesus jamais será percebido na
comunidade se faltar aquilo que é essencial: a relação de amor para com ele. Há
os que o buscam somente na razão, outros o buscam e pensa tê-lo encontrado na
emoção, qualquer um desses caminhos não será válido, se faltar essa relação
amorosa.
Mas o coitado do Pedro quase
morreu de vergonha quando escutou falar que aquele homem na praia era Jesus, e
correu vestir-se porque estava nu. Sem a consciência de que Jesus caminha
conosco na igreja, a gente não se reveste da graça santificadora, quando
estamos nus, expomos a nossa vergonha, pois não temos como ocultá-las, mas
revestidos da roupa nova que Jesus nos oferece com a Salvação, tornamo-nos
homens novos, e a Luz da Graça Divina nos dá a roupagem nova, ocultando nossas
fragilidades e limites, somos enfim, recriados, essa seria a palavra certa para
o processo de salvação.
Comunidade é lugar de
acolhimento, portanto de calor humano, que aquece com brasas fumegantes
alimentando todos os que a buscam, Na brasa daquele homem misterioso á beira da
praia, e que eles não sabiam ainda bem, quem era, já tinha um peixe e pão, mas
ele pede alguns dos peixes que eles haviam pescado. Comunidade é lugar de
alimentar e ser alimentado, de receber e de dar. Feito isso, juntando o peixe
de Jesus e o seu pão, e os peixes graúdos, que são os frutos do trabalho em
comunidade, seja ele qual for, o alimento está assegurado a todos. Jesus
indicou o lugar, isso é, o como fazer, e eles acreditaram... Eis aí o eco das
palavras da mulher das Bodas de Cana “Fazei o que ele vos disser...”
Na
comunidade, Deus e Homem se unem, em uma parceria misteriosa chamada comunhão
de vida, é isso, somente isso, que garante alimento em abundância a
todos...(Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim
SP – E-mail cruzsm@uol.com.br )
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