27/02/2016
Sábado - 2ª Semana
da Quaresma
Lectio
Primeira
leitura: Miqueias 7, 14-15.18-20
14Apascenta
com o cajado o teu povo, o rebanho da tua herança, os que habitam isolados nas
florestas no meio dos prados. Sejam eles apascentados em Basan e Guilead, como
nos dias antigos. 15 Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos
tiraste do Egipto. 18Qual é o Deus que, como Tu, apaga a iniquidade e perdoa o
pecado do resto da sua herança? Não se obstina na sua cólera, porque prefere a
bondade. 19 Uma vez mais, terá compaixão de nós, apagará as nossas iniquidades
e lançará os nossos pecados ao fundo do mar. 20 Mostrarás a tua fidelidade a
Jacob, e a tua bondade a Abraão, como juraste a nossos pais, desde os tempos
antigos.
Regressado
do exílio em Babilónia, o povo de Israel confrontou-se com grandes dificuldades
e teve saudades da fartura das terras da Transjordânia, tal como, ao regressar
do Egipto, perante as dificuldades do deserto, teve saudades do peixe, dos
pepinos, dos melões, dos alhos porros, das cebolas e dos alhos que comia no
Egipto (cf. Nm 11, 6). Nesta situação, Miqueias ergue um lamento, quase que uma
elegia fúnebre (v. 14): «Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos
tiraste do Egipt(J» (v. 15). E entra em cena Aquele que é o protagonista dos
grandes eventos salvíficos: Deus preparou um lugar deserto onde, Ele mesmo,
apascenta o seu rebanho disperso, que só n ' Ele encontra segurança e só n '
Ele confia. Então, o profeta entoa um hino cheio de emoção a Deus que perdoa
(w. 18-20). Deus é como um pai que se comove diante do sofrimento dos filhos
que erraram e sofrem as consequências dos seus erros (v. 19). Como nos tempos
do êxodo, levado por um instinto quase materno, Deus usa de compaixão para com
o seu povo, apaga as suas culpas e lança-as ao mar, do mesmo modo que nele
afogou o faraó e os seus exércitos (cf. Ex 15). A sua fidelidade manifesta-se
na gratuidade do perdão, para que o «resto» do seu povo possa manter-se fiel à
Aliança (v. 20).
Evangelho:
Lucas 15, 1-3.11-32
1
Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem.
2 Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este
acolhe os pecadores e come com eles.» 3Jesus propôs-lhes, então, esta parábola:
11 Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. 120 mais novo disse ao pai: 'Pai,
dá-me a parte dos bens que me corresponde. ' E o pai repartiu os bens entre os
dois. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma
terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14
Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar
privações. 15 Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela
terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. 16 Bem desejava ele
encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas
dava. 17 E, caindo em si, disse: 'Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em
abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18 Levsntsr-me-el. irei ter com meu pai
e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de
ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.' 20 E,
levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e,
enchendose de compaixão, correu a tençsr-se-Ihe ao pescoço e cobriu-o de
beijos.
210 filho
disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu
filho. ,22 Mas o pai disse aos seus servos: 'Trazei depressa a melhor túnica e
vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. 23 Trazei o
vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24porque este
meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.' E a festa
principiou. 250ra, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao
aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. 26Chamou um dos servos e
perguntou-lhe o que era aquilo. 27 Disse-lhe ele: 'O teu irmão voltou e o teu
pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo. ,28 Encolerizado, não
queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29
Respondendo ao pai, disse-lhe: 'Há já tantos anos que te sirvo sem nunca
transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com
os meus amigos; 30 e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens
com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.' 31 O pai respondeu-lhe: 'Filho, tu
estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas tínhamos de fazer uma
festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava
perdido e foi encontrado. »
As parábolas
da misericórdia (Lc 15) revelam-nos o rosto do Pai bom, disposto a perdoar, a
acolher e a fazer festa com os filhos que reconhecem o seu pecado. Hoje,
escutamos a parábola do filho pródigo. Este decide organizar a sua vida segundo
os seus projectos, rejeitando os do pai. Por isso, exige ao pai a sua herança.
Este termo equivale a vida (v. 12) ou a património. Obtido o que pede, parte e
esbanja «tudo quanto possuía (a sua riqueza), numa vida desreçrsde-. Este filho
perde os bens, mas perde, sobretudo, a si mesmo. A experiência da miséria (v.
17) fá-lo cair em si e dar-se conta da desgraça a que o levara a sua vida de
estroina. Decide, então, regressar a casa e recomeçar uma vida nova. O pai
esperava-o (v. 20), porque nunca tinha deixado o seu coração afastar-se daquele
filho. Recebe-o comovido e de braços abertos, restituindo-lhe a dignidade
perdida (w. 22-24).
Com esta
parábola, Jesus revela o modo de agir do Pai, e o seu, em relação aos pecadores
que se aproximam e dão um sinal de arrependimento. Mas os fariseus e os
escribas, recusam-se a participar na festa do perdão, como o filho mais velho
(v. 29), sempre bem comportado e que, por isso, até se julga credor do pai. O
pai não desiste, nem diante deste filho malévolo. Por isso, sai de casa,
revelando a todos o amor que sabe esperar, procurar, exortar, porque todos quer
abraçar e reunir na sua morada.
Meditatio
Esta
parábola é claramente dirigida aos fariseus e escribas que criticavam Jesus
pelo modo como lidava e tratava com os pecadores (cf. w 1-3). A intenção
principal de Jesus vê-se no fim da narração, na reacção do filho mais velho e
nas palavras do Pai, que são a chave de interpretação de toda a parábola. Todos
podemos ver-nos num ou noutro filho, no pecador assumido ou no justo presumido.
O pai sai sempre ao encontro de um e de outro, quer venha da dispersão, como o
filho pródigo, quer venha das regiões de uma falsa justiça ou de uma falsa
fidelidade, como o filho mais velho. O importante, para nós, quer venhamos de
uma ou de outra situação, é que nos deixemos acolher e abraçar pelo Pai bom,
que quer a felicidade de todos os seus filhos.
Talvez seja
relativamente fácil ver-nos no filho pródigo. Pode ser mais difícil dar-nos
conta de que pensamos e reagimos como o filho mais velho, que contabiliza o que
dá ao Pai e o que não recebe d ' Ele, tal como contabiliza o que irmão mais
novo recebeu, sem dar nada em troca, e até ofendendo o Pai. E clamamos pela
injustiça. Pode-se julgar anormal manifestar tanta bondade a quem cometeu o
mal. Mas o Senhor quer fazer-nos compreender que, para quem é fiel a Deus, está
reservada uma recompensa ainda maior: não a alegria de receber, mas a alegria
de dar. «A felicidade está mais em dar do que em receber» (Act 20, 35).
Esta é, por
excelência, a parábola da misericórdia. Mais que «parábola do filho pródigo»,
deve ser chamada «parábola do Pai misericordioso», do Pai pródigo em
misericórdia. Como Ele, havemos de aprender a abrir o coração a todos os
irmãos, a estarmos com Ele para acolher os pródigos ou os pretensos justos, a
vermos a todos do seu ponto de vista, que não é a justiça fria e cega.
Todo o
evangelho de Jesus é uma mensagem de alegria, sobretudo para os pobres, para os
infelizes, para os pecadores. A alegria por causa de um pecador que se
arrepende é alegria de Deus. "As parábolas de Lc 15 são uma trilogia do
perdão e da misericórdia divina e mostram-nos a estreita ligação que há entre o
perdão e a alegria, entre a conversão e a festa. Tal como a ovelha tresmalhada
ou a dracma perdida são causa de alegria para quem as encontra, assim também exulta
de alegria o coração de Deus, quando um dos Seus filhos regressa a Ele. Mais
ainda, todo o céu faz festa por um pecador que se converte, porque se trata de
um irmão que estava morto e volta à vida, estava perdido e foi
encontrado".
Oratio
Pai
misericordioso, que estás sempre à nossa espera, para nos acolher, nos abraçar,
nos perdoar e nos restituir a dignidade de filhos, acende em nós a saudade de
Ti, do teu amor. Faz-nos voltar à tua intimidade, quer sejamos pródigos
dispersos, quer sejamos justos presumidos. Queremos fazer festa Contigo e com
todos os teus filhos, nossos irmãos. Queremos aprender que há maior alegria em
dar do que em receber. Queremos aprender a ser pródigos em misericórdia para
com todos os nossos irmãos, para não termos inveja dos dons que lhes fazes,
para sabermos desculpar e perdoar as suas faltas, para sabermos alegrar-nos com
eles e Contigo, quando manifestarem algum sinal de arrependimento, alguma
vontade de regressarem à casa que, connosco e com eles, queres partilhar. Amen.
Contemplatio
Quem vem? O
Pai de misericórdia que nos ama ternamente. - Chama-nos seus filhinhos:
filioli. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo.
Eu sou este
filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na
inutilidade.
Volto para o
meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor.
O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa,
procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração
contra coração.
E chama os
seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto
de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa.
o Coração de
Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria:
«Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava
perdido e foi encontrado» (Leão Dehon, 05P 3, p. 653).
Actio
Repete
frequentemente e vive hoje a palavra: «Converteste o meu pranto em festa»
(5130, 12).
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