QUARTA FEIRA DA II SEMANA DA QUARESMA 24/02/2016
1ª Leitura Jeremias 18, 18-20
Salmo 30 (31) , 17 b “Salvai-me pela vossa misericórdia”
Evangelho Mateus 20, 17-28
Disputas por cargos influentes...
Os evangelhos são escritos produzidos muito tempo depois da morte
de Jesus e não são portanto escritos sequenciais do tipo relatório fiel dos
fatos e de tudo o que Jesus falou. O evangelho de hoje mostra muito bem isso.
A Mãe de Tiago e João vai falar com Jesus em um momento bastante
impróprio (não se ela era muito influente junto a Jesus, ou se o evangelista,
para não ficar feio para os dois irmãos “pidonhos”, inventou que a conversa foi
com a Mãe. Veja bem....
Dá-se a impressão de que Jesus está ali falando com os doze sobre o
trágico desfecho de sua vida e a mulher chega para fazer o pedido especial: um
cargo de confiança no primeiro escalão do novo Reino. Se fosse assim, os demais
discípulos iam olhar para ela e balançar a cabeça em reprovação. O mestre
acabou de dizer que tudo vai dar errado, será humilhado, agredido, torturado e
morto em uma cruz e os dois querem um cargo de honra? É no mínimo estranho um
pedido desse.
Mas tratando-se de um escrito pós-pascal, como são todos os
evangelhos, percebe-se que é um ensinamento. O pedido da Mãe dos dois rapazes
sonhadores contrasta totalmente com a missão de Jesus e o modo como ele vai
realizar a obra da Salvação, plantando definitivamente o Reino de Deus em meio
aos homens, e que tem como fundamento o Amor do serviço e da doação da própria
vida. Portanto, cargos de confiança ou de honra estão fora de cogitação.
Quando se lê que os outros dez se indignaram contra os dois,
ninguém se iluda, achando que eles conheciam a verdade. Não! De modo algum...
Mas é que perceberam que os dois irmãos espertos estavam querendo passar-lhe a
perna.
Esse é contexto das comunidades de Mateus setenta a oitenta anos
após a morte de Jesus, e podemos dizer, sem medo de errar, que é também o
contexto das nossas comunidades cristãs implicando todos os ministérios,
ordenados e não ordenados, pastorais e movimentos, onde há sim certas disputas
acirradas por cargos influentes.
Jesus corrige-nos sobre esse mal entendido, essa interpretação
equivocada sobre o Reino que Ele inaugurou, e sobre a Vida em Comunidade, ontem
e hoje: Quem quiser ser grande, seja o servo de todos, e quem quiser o
primeiro, se faça escravo de todos. Jesus não extingue os cargos e coordenações
para os quais são necessários carismas e dons que o próprio Espírito concede,
mas afirma que eles devem e precisam sempre ser exercidos como Serviço,
gratuito e incondicional....
Em nossas comunidades há sim, pessoas generosas que dão testemunho
e agem com esse espírito de serviço humilde, mas há também aqueles que têm a
mesma conduta reprovável dos discípulos, naquele momento da reflexão de São
Mateus. Pelos primeiros, louvemos a Deus, pelos demais, que não nos falte a
misericórdia...
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