quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Jesus, assim como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.-Claretianos

Domingo, 31 de Janeiro de 2016
Tema: 4º Domingo do Tempo Comum
Jeremias 1,4-5.17-19: Eu te consagrei e te fiz profeta das nações.
Salmo 70(71): Minha boca anunciara todos os dias, vossas graças incontáveis, ó Senhor
Coríntios 12,31-13,13: Permanecem a fé, a esperança e caridade. Mas a maior delas é a caridade.
Lucas 4,21-30: Jesus, assim como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.
21Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.22Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de José?23Então lhes disse: Sem dúvida me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui na tua pátria.24E acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.25Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra;26mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia.27Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã.28A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga.29Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo.30Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.
Comentário
O texto de Jeremias está composto por duas partes: a primeira (vv. 4-5), refere-se à sua vocação e a segunda (vv. 17-19) ao seu envio profético. O chamado de Jeremias é marcado, desde o início, pela palavra: “Javé proferiu uma palavra”. O profeta é chamado pela palavra para ser palavra de Deus em meio ao seu povo. A palavra o conhece desde antes de seu nascimento, o que significa uma intimidade profunda de Deus com o profeta. A palavra o consagra, isto é, Deus o reserva para si, desde antes de nascer. Conhecer e consagrar são o fundamento da missão de Jeremias: ser profeta das nações.
A partir do versículo 17, Jeremias se converte em Palavra de Deus ambulante. Deve dizer em público o que Deus manda. Porém, dizer a verdade sempre era problemático e perigoso porque tocava nos interesses de muitas pessoas e estruturas sociais. Por isso Deus se antecipa para dizer-lhe que não tenha medo de assumir sua missão. O temor não é alheio à vocação do profeta; o importante é não abandonar a vocação, nesse caso Deus se ausentaria, isto é, poderia deixar de chamar-nos, de nos escolher e de consagrar-nos, deixar de confiar em nós. Poderia haver susto pior do que este para um profeta?
A promessa de Deus não propõe sua intervenção para salvar o profeta em tempos difíceis, mas que ele, pessoalmente, o fortalecerá internamente como um “pilar de ferro” e, externamente, o consolidará como uma “muralha de bronze”. A palavra será sua força na luta contra as autoridades (reis, ministros, sacerdotes e proprietários), que esqueceram a aliança de Javé, oprimindo e marginalizando seu próprio povo. A fortaleza também é encontrada pelo profeta na obediência à palavra que recebe e anuncia. Isto lhe assegura a companhia permanente de Javé.
Este belo canto de amor da Carta aos Coríntios, tem como contexto a discussão relacionada aos carismas. Com o texto de hoje Paulo afirmar categoricamente que o único “carisma” absoluto é o do amor. O amor ao qual se refere o autor não é o amor helenista (eros), mas o amor cristão (ágape), um amor doação e entrega, que se coloca a serviço e até dá a vida pelos irmãos. Sem amor, não há sentido nem no melhor dos carismas, sem amor, a palavra profética cai no vazio, sem amor, o amor de Deus passa ao longe em nossas vidas.
Podemos dividir o poema em três partes. A primeira (vv. 1-3) enumera uma série de carismas que não são nada se falta o amor. Na segunda (vv. 4-7) enumera quinze características do amor cristão: sete positivas e oito negativas. Na terceira parte (vv. 8-13), Paulo conclui seu poema reafirmando a eternidade do amor. O amor, que tudo pode mudar é o único que não mudará, que será ele mesmo eternamente. Entre a fé, a esperança e o amor, este último é o maior, ficando clara, para os coríntios e para os cristãos de todos os tempos, a superioridade do amor sobre qualquer outro carisma.
No domingo passado, depois de Jesus ter lido um texto do profeta Isaías, o evangelho terminava dizendo que “todos os presentes tinham os olhos fixos nele…”. O Evangelho de hoje continua a cena que se desenrola na sinagoga de Nazaré. Jesus diz que nele se cumprem as palavras de Isaías, isto é, que ele é o “ungido” (Messias) para anunciar a Boa Notícia aos pobres e oprimidos… e o ano da graça do Senhor.
Os vv. 22-30 podem ser divididos assim: v. 22: reação do povo; vv. 23-27: resposta de Jesus; vv. 28-29: indignação e tentativa de matar a Jesus por parte dos nazarenos; v. 30: Jesus continua seu caminho.
É interessante constatar o contraste entre a reação do povo no v. 22 e a dos versículos 28-29. Inicialmente o povo o aprova, e se admira de seu conterrâneo, porém as pessoas não conseguem ver em Jesus a graça de Deus que fluía de seus lábios, nem o profeta anunciado por Isaías, mas simplesmente o Jesus filho de José. Jesus percebe que seus conterrâneos não estão interessados em suas palavras. Interessa e querem, antes de tudo, um espetáculo milagreiro, que cure os enfermos do povo e pronto. Jesus lhes responde com outro refrão: "Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria", deixando claro que em Nazaré não haverá nenhum milagre.
Entre os vv. 25-27, Jesus apela ao Antigo Testamento para explicar sua situação. O verdadeiro profeta não se deixa boicotar e nem mesmo aprisionar para satisfazer um auditório interessado somente no espetáculo ou em interesses individuais, ainda que sejam os de seus familiares ou de seu próprio povo. O profeta é livre e deve seu seguir à risca a Palavra de Deus. A história de Elias e Eliseu lembra aos nazarenos como estes tiveram que migrar da terra dos pagãos porque seu próprio povo não queria dar-lhes atenção. A característica da mulher de Sarepta é sua confiança em Deus, confiando sua vida e a do seu próprio filho a um estranho como Elias; e a característica do sírio Naaman é que depõe seu orgulho e soberba nacionalistas ante as palavra de Eliseu. A própria Igreja reconhecerá neste texto sua missão de anunciar a Boa Notícia aos mais afastados, isto é, que a Palavra lança suas primeiras raízes nas pessoas e nas famílias, porém esse não é seu destino final; tem que ser uma palavra que busque sempre o caminho dos mais afastados e necessitados.

As palavras finais de Jesus enfurecem os presentes e estes tentam lançar Jesus por uma ladeira abaixo, já fora do povoado. É curioso como os pobres de Nazaré, sujeitos preferenciais do anúncio da Boa Nova, desprezam a palavra presente em sua terra. Porém, a palavra não pode morrer, e Jesus continua seu caminho missionário a serviço dos pobres, marginalizados e excluídos, com uma palavra de vida, ainda que ameaçado sempre de morte por aqueles que fazem de sua vida uma má notícia de egoísmo. 
Oração
Ó Deus, Pai - Mãe, que em Jesus nos deste um exemplo de coerência e entrega à verdade sem medo às represálias, ao conflito e à cruz. Ajuda-nos a ser, como ele, coerentes com nossa missão de anunciar a Boa Nova aos pobres e servir à verdade, com valor e coerência, sem medo nem retrocessos ao experimentar a rejeição e a cruz que também ele experimentou. Nós te pedimos por Jesus Cristo, filho teu e irmão nosso, pelos séculos dos séculos. Amém.


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