quarta-feira, 21 de outubro de 2015

MESTRE, QUE EU VEJA – Maria de Lourdes Cury Macedo.



Domingo, 25 de outubro de 2015.
Evangelho de Mc 10, 46-52

Jesus está a caminho de Jerusalém, a capital da Palestina, caminho de cruz e de glória, acompanhado pelos seus discípulos e de uma grande multidão. Novamente Jesus revela aos discípulos o objetivo de sua viagem: ir a Jerusalém, não para conquistar um reino deste mundo, mas para oferecer a própria vida.
Os apóstolos e a multidão o seguem, mas estão cegos. Continuam sonhando com os primeiros lugares, esperam a vitória e um reino neste mundo. Estão apegados às ideias triunfalistas recebidas do judaísmo e são incapazes de questioná-las e de agir por si próprios seguindo o projeto proposto por Jesus. São incapazes de raciocinar sobre o que Jesus lhes fala, de abandonar as ideias já estabelecidas, e analisar os ensinamentos de Jesus. Estão cegos diante da realidade, das propostas de Jesus.
         Sentado à beira do caminho estava um cego pedindo esmolas aos que por ali passavam. Ele estava à margem da vida e da sociedade. O cego era um desconhecido, um sem nome. Um ninguém. Sabemos trata-se de um filho de Timeu, em hebraico, Bartimeu. Timeu significa honrado, apreciado. O cego é mendigo. Depende da caridade alheia, falta-lhe autonomia, isto é, ele não vê, não pode trabalhar, ganhar a vida, o seu pão, ter seu próprio lar, sua liberdade. Por isso pede esmolas para sobreviver. É um excluído da sociedade, um marginalizado, um pobre coitado a mercê da bondade dos outros. Vive à margem, não pode participar de nada.
Quando Bartimeu ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” Portanto o cego ouve falar, crê e põe sua esperança no Filho de Davi. Acredita ser o Messias prometido e esperado. Bartimeu, então, implora a compaixão, a piedade de Jesus.
Os que acompanhavam Jesus repreendiam o cego para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” Entoa o primeiro Kyrie eléison (Senhor, tende piedade de nós), que depois repetiremos em cada missa no Ato Penitencial.
Aqueles que mandavam o cego se calar representa toda a sociedade que exclui os desfavorecidos da vida como: os cegos, os aleijados, os doentes e naquela época também as mulheres e crianças. Os discípulos não querem que aquele cego atrapalhe a caminhada de Jesus, que atrase a sua viagem, que não era preciso Jesus perder tempo com uma pessoa inútil, qualquer, um cego.
A cegueira que lhe afetava os sentidos externos, que o isolava do mundo, não o impedia de se aproximar da Verdade, que é Jesus.
Bartimeu grita forte por piedade e ser piedoso é uma das características do Messias. Por isso Jesus para e manda chamá-lo. Quando Jesus chamou o cego, o povo sentiu-se animado, deixam de repreendê-lo e o anima a se aproximar.
 A atitude misericordiosa de Jesus demonstra a preferência de Deus pelos que se encontram à margem do caminho da vida, pelos pobres, desprezados, escluídos. Ele interrompe o seu caminho para dar atenção àquele que lhe implora piedade.
Ao ser chamado por Jesus, o cego joga fora o manto, dá um pulo e foi até Jesus. E Jesus lhe pergunta: “O que queres que eu faça?” Bartimeu diz a causa da sua pobreza que é a cegueira e lhe pede: “Mestre que eu veja”. Jesus lhe diz: “Vai a tua fé te salvou”. Com estas palavras Jesus relaciona a fé com a cura. É preciso ter fé para ser curado. A fé ardente supera todos os obstáculos colocados por outros que querem impedi-lo de se encontrar com Jesus. E como consequência de poder olhar, enxergar a realidade com um novo olhar, que Jesus lhe proporcionou, Bartimeu segue Jesus, isto é, torna-se seu discípulo.
O evangelho nos diz que no mesmo instante que ficou curado, começou a seguir Jesus pelo caminho. O que significa seguir Jesus pelo caminho? Seguir Jesus pelo caminho é se tornar um discípulo dele. Porque Jesus é o caminho. Se tornar discípulo é estar disposto a viver como o Mestre ensina, a passar por tudo que o mestre passa, a morrer para si, doar sua vida, a imitá-lo em tudo.
Bartimeu ao pedir compaixão ao Senhor, demonstra uma abertura para a fé. Ele ouviu falar de Jesus, acreditou nele, sem vê-lo, sem conhecê-lo. Enquanto que os discípulos e muitos do povo enxergavam, viam e ouviam, mas estavam cegos para a realidade que o Messias lhes apontava. Se eles estivem dispostos a deixar-se curar da cegueira, por meio de uma fé autêntica, e a refazer sua idéia de Messias, estariam como o ex-cego, em condições de segui-lo pelo caminho, sendo verdadeiros discípulos, dispostos a tudo.
O primeiro passo, em direção à cura, acontece quando se toma consciência da própria situação e se toma a decisão de sair dessa situação. Também a cura da cegueira espiritual começa dessa maneira. Tem início no desejo de sair da enfermidade interior para uma vida mais autêntrica e de um relacionamento mais profundo com o Senhor.
Existem muitas formas de cegueira:
São cegos os que não querem enxergar sua missão, seus dons e colocá-los a serviço da comunidade, dos irmãos; há os que estão conformados com o comodismo e não se deixam curar; há ainda aqueles que além de serem cegos, impedem os outros de enxergar e tentam calar os gritos incômodos dos que querem ver.
O cego Bartimeu pode ser um bom exemplo para nós: superar os obstáculos próprios da cegueira, não se deixar levar pelas críticas da sociedade, mas como Bartimeu gritar, pular, jogar o manto e enfim buscar a força em Jesus, naquele que nos pode libertar e fazer ver uma nova realidade. Jogar o manto significa uma vida nova, uma mudança, uma transformação. Ele se servia do manto para recolher esmolas que lhe jogavam, agora ele não mais precisa de esmolas. Ele será capaz de viver por ele mesmo, com o seu trabalho.
Por isso nos momentos de tribulação, grite: Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim! Nas tristezas da vida, nos momentos difíceis, na doença, na depressão, nas contrariedades, nos desentendimentos, grite, clame, pule, jogue o manto, mas recorra a Jesus o nosso Salvador. Enxergue que a solução é Jesus e se comprometa com Ele. Aceite ser seu discípulo, ser como Ele Servo Sofredor. Porque seguir Jesus pelo caminho é passar por tudo que Ele passou, enfrentar desafios, querer continuar a missão de Jesus. Porque se queremos chegar à glória com Cristo, temos que passar pelo caminho da cruz, que é o caminho do serviço, da doação, do amor, colocar os dons que recebemos de Deus a serviço do irmão, do Reino de Deus, sem comodismo, sem preguiça, mas se preocupar em ser outro Jesus que dá vida para todos, que nos faz enxergar, mudar de vida, crescer na fé, no amor, na doação e fazer o que Jesus nos pede: ser seu discípulo!
Um grande abraço em Cristo!
         Maria de Lourdes              



3 comentários:

  1. Maria de Lourdes; bela reflexão, Que Deus te abençoe.

    ResponderExcluir
  2. Maria de Lourdes; bela reflexão, Que Deus te abençoe.

    ResponderExcluir
  3. Maria, linda e profunda reflexão do Evangelho. Que o Senhor te ilumine sempre.

    ResponderExcluir