quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Esta filha de Abraão, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?-Padre Antonio Queiroz

26-        Segunda - Evangelho - Lc 13,10-17
Padre Antonio Queiroz


Esta filha de Abraão, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?
O Evangelho de hoje narra a cura da mulher encurvada, num dia de sábado, o protesto de chefe da sinagoga e a explicação de Jesus. A mulher não pediu. A iniciativa foi de Jesus que a viu na sinagoga e sentiu dó dela.
A atitude de Jesus, ao contrário de violar a lei do sábado, vem cumpri-la, pois a finalidade é a mesma: glorificar a Deus, mediante a libertação do homem de toda escravidão. O glória de Deus não se realiza à margem do bem do homem, porque a honra e a grandeza de Deus se manifesta precisamente na sua misericórdia e no seu amor aos homens, cuja vida glorifica a Deus.
A lei do sábado foi criada justamente para beneficiar o homem, especialmente os pobres escravos e trabalhadores, dando-lhes um dia de descanso semanal. Todas as leis de Deus são celebrações de seu amor aos homens. Por isso que Jesus afirmou: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2,27).
Jesus era assim. Há muitas outras cenas semelhantes nos Evangelhos: a viúva de Naim, cujo filho ele ressuscitou; a mulher adúltera que estava prestes a ser apedrejada; a multidão com fome e a multiplicação dos pães... Jesus via as pessoas sofrerem, se tocava e procurava resolver o problema.
Com isso, o povo se alegrava, é claro. Alegrava-se e o procurava, inclusive fazendo longas caminhadas.
Jesus foi assim em toda a sua vida terrena. Ainda antes de morrer, deu o céu para o bom ladrão.
Neste Evangelho, quando o chefe da sinagoga ficou furioso, Jesus sentiu dó também dele, e lhe mostrou a sua incoerência, ao ter mais cuidado com os animais, do que com as pessoas. Jesus falou a verdade, e anunciar a verdade é um ato de caridade, pois liberta as pessoas. As palavras de Jesus são dirigidas, não só àquele chefe, mas a todos os chefes religiosos dos judeus.
S. Pedro, no discurso que fez na casa de Cornélio, em Cesaréia, disse: “Jesus passou pela vida fazendo o bem” (At 10,38). De fato, lendo os Evangelhos, nós percebemos isso.
O próprio Jesus disse: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,27). E ele é o nosso caminho, verdade e vida. Segui-lo é o nosso jeito de ser felizes.
S. Tiago, na sua carta, diz: “A religião pura e sem mancha aos olhos de Deus é esta: Cuidar dos órfãos e das viúvas e conservar-se puro da corrupção deste mundo” (Tg 1,27). Muitos cristãos procuram ter uma religião pura e sem mancha, fazendo o bem ao próximo por própria iniciativa.
Certa vez, uma semente de flor resolveu deixar o seu jardim, todo estercado e regado, e ir nascer no deserto. Algumas colegas lhe disseram: “Você está louca! Lá o clima é quente, não há proteção contra o sol, a terra é fraca e arenosa. E além disso, os animais podem pisar em você”. Ela respondeu: “Vou me defender”. E foi. Ela foi nascer perto de um oásis, conseguiu sobreviver. Tempo depois, aquele deserto virou um jardim, com belas flores que embelezavam a natureza.
Mais que falar de flores, ser uma flor no meio do deserto. Jesus viveu em ambientes difíceis e tomou atitudes arriscadas, como esta de curar a mulher encurvada no sábado. Mas conseguiu vencer, transformando o deserto em jardim. E ele nos convida a continuar a sua missão, assegurando que estará sempre conosco. Assim, mais que falar de flores, podemos ser uma flor, uma bela, no meio do deserto.
Maria Santíssima sempre se mostrou caridosa em sua vida. Que ela nos ajude a imitar o seu Filho, que “passou pela vida fazendo o bem”.
Esta filha de Abraão, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?


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