quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Comentários Prof.Fernando

Comentários Prof.Fernando* 30º domingo do TEMPO COMUM
 – 25 de outubro de 2015

Alegria de voltar para casa
·                    O primeiro texto e o Salmo (125)126 são gritos de alegria. A redação de Marcos conta o episódio de Bartimeu, o cego curado pelo Mestre de Nazaré cura - protótipo de quem crê na passagem de Deus por nossas vidas. É mais fácil entender a alegria se compreendemos a noite de tristeza antes da mudança.
·                    A alegria do profeta é devida ao retorno à pátria, possível com o fim do exílio que o povo de Israel viveu durante 50 anos em Babilônia. Foi tempo de grande sofrimento coletivo, pois no passado conheceram a liberdade (Moisés, Êxodo, posse da terra prometida). Expulsos de casa (como milhões, refugiados e migrantes de hoje, nas fronteiras da Europa) perderam as suas referências (no caso dos judeus do século 6ºaC: sua terra, seu Templo, sua autonomia política e governo próprio). Sua terra, principalmente, era o sinal da grande Aliança, realizada entre o Criador e seres humanos – novidade teológica da história de Israel que outros povos seus contemporâneos não iriam admitir: Deus, lado a lado com o povo, num “acordo” entre o eterno e os mortais...
·                    Os expatriados são residentes, mas estrangeiros. Certamente – de modo semelhante ao sírios, iraquianos, iazides e dezenas de outras etnias e minorias em fuga do Oriente e da África – eles viviam sob preconceito, xenofobia, perseguição e desprezo dos nativos. Como poderiam assim manter suas crenças, praticar suas leis, preservar suas tradições e sua religião, sem Templo e sem as demais referências históricas, políticas e sociais?
·                    Foi na fragilidade total que Israel pôde aprofundar o significado da Aliança: depender inteiramente da benevolência divina. Na dor do exílio o povo não via Esperança a não ser a de um novo Milagre, como o do antigo Êxodo. A única alternativa foi meditar na antiga Palavra, transmitida há muitas gerações. Um grupo de líderes montou a grande revisão das tradições para a compilação dos textos que deram origem aos livros atuais da Toráh. Exemplo deste trabalho é o grande hino da Criação no cap.1 do Gênesis onde se reafirma a fé no Criador por contraposição a uma cultura adoradora da astrologia celeste e de outros deuses sobre a terra.

O Milagre, a Fé e o milagre da fé
·                    O conceito mais comum de Milagre julga que é uma intervenção extraordinária de Deus longe das ações humanas. Ele, no entanto, de alguma forma misteriosa para nós, está sempre “intervindo” no íntimo dos corações humanos. Isso acontece de modo a que tudo “coopere para o bem” final. Na mente divina só existe um desejo em relação a suas criaturas: que elas encontrem eu rumo no caminho até sua plenitude em Deus. Assim, por exemplo, Ciro ao derrotar Egito e Babilônia, torna-se libertador dos povos e culturas que passam a ser administradas pelo seu império persa a ponto de ser chamado por alguns profetas com o título de “Messias”, “Ungido” como eram os reis em Israel para conduzir a salvação do seu povo. A nova política persa livrou os expatriados da grande escuridão do exílio, permitindo o retorno à terra natal e a liberdade de culto e organização. O salmo 125(126) exprime esta alegria assim: a gente parecia estar sonhando!! “Tinham partido chorando e na consolação eu os trago de volta”. Algumas expressões também frisam esta imagem da divindade: a de um pai amoroso que vive ao lado de seus filhos. A experiência do sofrimento, por sua vez, é comparada à preparação da terra na lavoura: semearam com lágrimas, mas agora colhem na alegria (versos 5-6). Não é só a alegria da volta para casa, mas a percepção da Fé que também é convicção de que seu Senhor continuou (embora escondido) procurando uma saída humana da longa noite do exílio. Quando tudo parecia perdido seu Deus preparava a terra como o lavrador para que o povo pudesse colher o fruto maduro.

Alegria do cego Bartimeu
·                    O mesmo roteiro é seguido por quem crê, como o cego Bartimeu, que vivia na noite sem fim da exclusão social, pois sua limitação o deixava “à beira do caminho”. Bartolomeu dependia dos que passavam por ele na rua. Paradoxo: era dependente dos que o rejeitavam. Mas, se a sociedade à volta jogava moedinhas como migalhas de superioridade e desprezo, também Jesus passou por ali. E Jesus o chama depois de escutar seu grito (sua oração e súplica). O Mestre conduz o cego numa nova direção: deve começar usando seus próprios recursos porque afinal ainda tinha ouvidos e voz (“Ouviu dizer que Jesus estava passando” e gritou. E quando lhe pediam para se calar, gritava ainda mais. E levantou-se de um salto só. E respondeu ao Mestre: “que eu veja”. Até ali dependia dos outros, agora, porém não se deixava mais levar pelo comando dos outros.
·                    O Mestre não apenas cura, mas ensina: dizendo ao curado que sua confiança (fé) foi fundamental para reconhecer a presença de Deus mesmo no escuro, sem ver e iluminando o coração dos que participam do Milagre: os que antes pretendiam livrar-se dos gritos do cego agora o ajudam no acesso ao Mestre: “Ânimo! Levanta! o Mestre te chama”. E Bartimeu jogou fora o manto que o abrigava do frio da noite e dos olhares humanos, isto é, de suas carapaças ou ocultação de sua realidade deficiente. Agora passou a “seguir Jesus pelo caminho”, isto é, tornou-se discípulo na Escola da solidariedade. “Vai” disse o Mestre. O discípulo segue o Mestre: ele vai levar alegria aos que ainda não têm a liberdade de encontrar seus próprios recursos.
OBS:Leituras hoje: Jr 31,7-9 - Hb 5,1-6 (7,23-28 no LCR, Próprio 25) - Mc 10,46-52. Comentário baseado em homilia de Irmão Domingos, (monge da “Família S.José” cf. fsj.fr)

ooooooooooooooooooooooooooo ( * ) Prof.(Edu/Teo/Fil,1975-2012) fesomor2@gmail.com


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