domingo, 2 de agosto de 2015

Ó mulher, grande é a tua fé!-Dehonianos

05/08/2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVIII Semana - Quarta-fei

Lectio
Primeira leitura: Números 13, 1-2 – 14, 1.26-29.34-35
Naqueles dias, 1o Senhor falou a Moisés: 2«Manda homens para explorar a terra de Canaã, que Eu hei-de dar aos filhos de Israel; enviarás um homem por cada tribo da casa de seus pais, todos dentre os principais.» Ao fim de quarenta dias, regressaram de explorar a terra. 1Levantou-se toda a assembleia a gritar e o povo chorou toda essa noite. 26O Senhor disse a Moisés e a Aarão: 27«Até quando terei de ouvir esta assembleia má a murmurar contra mim? Ouvi as murmurações que os filhos de Israel fazem continuamente contra mim. 28Dir-lhes-ás: ‘Como Eu sou vivo - oráculo do Senhor - segundo as palavras que vos ouvi dizer, assim mesmo vos farei. 29Neste deserto cairão os vossos cadáveres e todos os vossos recenseados de vinte anos para cima, que murmuraram contra mim. 34Conforme o número de dias em que explorastes a terra, quarenta dias, equivalendo cada dia a um ano, haveis de carregar durante quarenta anos as vossas iniquidades e reconhecereis o meu desagrado’. 35Eu, o Senhor, declaro: Hei-de fazer isto a toda esta assembleia má que se revoltou contra mim neste deserto. Aqui acabarão e morrerão!’»
O melhor modo de entender este texto fragmentário da liturgia é ler as próprias páginas do livro dos Números. Estão aqui integradas várias tradições. Mas emergem quatro momentos: o envio por Moisés dos exploradores à terra prometida e a respectiva exploração, o regresso dos exploradores com os frutos e a narração do que viram; o medo entre o povo, provocado pelos exageros da narração; as lamentações do mesmo povo e o reacender das saudades do Egipto, indicativos da falta de confiança em Deus e nas suas promessas.
Moisés, todavia, mantém-se fiel ao Senhor, aponta ao povo a terra prometida e os seus frutos, e pronuncia as palavras-chave desta narrativa: «Se a boa vontade do Senhor está connosco e nos fez sair para esta terra, Ele nos dará a terra onde corre leite e mel! … O Senhor está connosco. Não temais!» (14, 8s.). Moisés confia na fidelidade de Deus, apesar do panorama obscuro descrito pelos exploradores, que todavia desejavam conquistar um território que produzia tais frutos, uma «terra onde corre leite e mel».

Evangelho: Mateus 15, 21-28
Naquele Tempo, 21Jesus partiu dali e retirou-se para os lados de Tiro e de Sídon. 22Então, uma cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio.» 23Mas Ele não lhe respondeu nem uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-lhe com insistência: «Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.» 24Jesus replicou: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.» 25Mas a mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: «Socorre-me, Senhor.» 26Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.» 27Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.» 28Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.» E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada.

A mulher cananeia, de que nos fala o texto, é designada por «siro-fenícia» em Marcos (7, 24-30). O que ambos os evangelistas pretendem indicar é que se trata de uma mulher pagã, não judia. A cena, sob o ponto de vista literário, está construída no esquema pedido-recusa, num crescendo que, partindo do silêncio de Jesus à primeira interpelação da mulher, continua com a referência à sua missão, que teria por alvo unicamente o povo judeu, e culmina com a distinção brutal entre filhos e cachorrinhos. Tanto Mateus como Marcos coincidem em que a missão de Jesus, durante o seu ministério terreno, se limitou ao povo judeu. Mas também coincidem em que Jesus, neste caso, abriu uma excepção. Para Mateus, a razão da excepção foi a grande fé da mulher, o que é omitido por Marcos. O encontro entre Jesus e a mulher cananeia anuncia, e já realiza, o encontro entre a salvação e o paganismo. Sem negar a escolha preferencial de Israel, «filho primogénito» (v. 24; cf. Os 11, 1; Mt 10, 5ss.), a missão salvífica de Jesus é dirigida a todos os povos. Será, também essa, a característica da acção da Igreja, por mando específico do seu Senhor e Mestre (cf. Mt 28, 18-20).
A luta que a mulher cananeia trava com Jesus, para alcançar o que pede, é um exemplo concreto do que Jesus mandou: «Pedi… procurai… batei…» (cf. Lc 11, 9).

Meditatio
As leituras de hoje levam-nos a meditar sobre a fidelidade de Deus e a confiança que havemos de ter n´Ele. Deus é fiel às suas promessas. Mas, na primeira leitura, vemos o povo com falta de fé e de confiança em Deus. Pouco depois de ter retirado Israel do Egipto, Deus convida-o a tomar posse da terra: «O Senhor falou a Moisés: «Manda homens para explorar a terra de Canaã, que Eu hei-de dar aos filhos de Israel» (vv. 1-2). Os exploradores partiram para Canaã e voltaram com um relatório cheio de contrastes: é uma terra maravilhosa, «uma terra onde corre leite e mel», mas «o povo que habita a terra é poderoso, as cidades são fortificadas e muito grandes». Perante estas notícias, a reacção poderia ser em dois sentidos: ir em frente, confiando no Senhor ou desanimar com as dificuldades. Mas, quando alguém se deixa vencer pelas dificuldades, elas agigantam-se ainda mais. Foi o que sucedeu com o povo de Israel: «Levantou-se toda a assembleia a gritar e o povo chorou toda essa noite» (v. 1).
Deus não pode suportar uma tal falta de confiança n´Ele e nas suas promessas. A desconfiança atinge-lhe o coração. E toma uma resolução idêntica à dos Israelitas: não quereis entrar na terra? Pois não entrareis! «Hei-de fazer isto a toda esta assembleia má que se revoltou contra mim neste deserto. Aqui acabarão e morrerão!» (v. 35).
Hoje está muito difundida esta falta de confiança em Deus. Muitos dos nossos jovens já não tem coragem para assumir compromissos duradouros, como é o matrimónio, a profissão religiosa, o sacerdócio, contando com a graça de Deus. É certo que, sem a graça divina, ninguém é capaz de manter um compromisso para toda a vida. Há tantas coisas que mudam, e nós próprios mudamos! Mas, com a ajuda de Deus, que não falta, podemos realizar com fidelidade os compromissos tomados em seu nome.
A confiança ilimitada da mulher cananeia dá-lhe coragem, dá-lhe atrevimento para se dirigir ao Senhor e pedir o milagre. Deus apenas aguarda de nós a fé e a esperança, para nos dar tudo quanto precisamos. As provações da vida, em vez de nos desanimarem, devem acender em nós uma esperança cada vez maior.
“A nossa vida religiosa participa na evolução, nas provações e procuras do mundo e da Igreja. Também ela é constantemente interpelada. Somos obrigados a repensar e a reformular a sua missão e as suas formas de presença e de testemunho” (Cst 144). É preciso, sobretudo, manter bem vivas a fé e a esperança.

Oratio
Senhor, como é bom saborear, desde já, quanto nos prometes. Como é bom encontrar na vida os sinais da tua presença. Mas, como sabemos, a esperança não desilude, porque infundiste no nosso coração o Espírito Santo, penhor dos bens futuros.
Que eu creia sempre no teu amor presente e providente. Que os meus desejos gerem em mim uma fé maior, uma fé como a da mulher cananeia. Que as provações sejam para mim motivos de esperança. Que a incompreensível recusa por ti das minhas orações, purifique e renove a audácia de acreditar no teu amor, e de continuar a suplicar-Te. Amen.

Contemplatio
«Quando Satanás suscitava contra o reino do Coração de Jesus contradições e oposições, diz a Bem-aventurada (Santa Margarida Maria), eu recorria à bondade deste amável Salvador, o qual sustinha a minha coragem dizendo-me: «Deixa-os fazer, não temas nada; reinarei apesar de Satanás e dos seus sequazes; aguardo na passagem todos que se quiserem opor» - «Esta palavra, que me repetia sem cessar, acrescenta, dava-me uma confiança e uma segurança inabaláveis» (Carta 106, etc.). «À medida que via os felizes progressos deste reino, disse ainda, ouvia estas palavras: Não te disse que podias acreditar, tu verias cumprir-se o efeito dos teus desejos? Mais depressa passarão o céu e a terra do que as minhas palavras ficarem sem efeito. – O adorável Coração de Jesus far-se-á, portanto, conhecer e estabelecerá o seu império apesar do inferno. Reinará apesar de todas as contradições...» «Felizes aqueles dos quais se há-de servir para estabelecer o seu reino!» O reino do Sagrado Coração será universal. «O adorável Coração de Jesus, diz a Bem-aventurada, quer estabelecer em todos os corações o reino do seu amor, arruinando e destruindo o império de Satanás... que tudo se dobre, portanto, diante dele! Que tudo seja submetido, que tudo obedeça ao seu divino amor». Foi pelo seu amor e pelo seu sangue que Jesus resgatou o mundo. O mundo pertence ao seu divino Coração, órgão do seu amor e fonte do seu sangue. É preciso dizer do Sagrado Coração o que o Salmo diz do Messias: Todas as nações foram-lhe dadas em herança. (Leão Dehon, OSP 3, p. 51s.).

Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Pedi e recebereis, batei e abrir-se-vos-á» (Mt 7, 7).


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