segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Evangelhos Dominicais Comentados-Jorge Lorente



30/agosto/2015   -  22o Domingo do Tempo Comum

Evangelho: (Mc 7, 1-8.14-15.21-23)

Os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, tinham-se reunido em torno dele. Viram que alguns dos discípulos comiam pão com mãos impuras, isto é, sem as lavar (...) e perguntaram a Jesus: “Por que teus discípulos não seguem a tradição dos antigos e comem o pão com mãos impuras?” Jesus lhes respondeu: “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, quando escreveu: Este povo me honra com os lábios mas o coração está longe de mim; em vão me prestam culto, ensinado doutrinas e preceitos humanos. Deixando de lado o mandamento de Deus, vós vos apegais à tradição dos homens”. Jesus chamou novamente o povo e disse: “Ouvi-me todos e entendei. Nada que vem de fora de uma pessoa pode torná-la impura. O que sai de dentro de uma pessoa é que a torna impura. Pois é do interior do coração das pessoas que provêm os maus pensamentos, a prostituição, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as perversidades, a fraude, a desonestidade, a inveja, a calúnia, o orgulho e a insensatez. Todos estes vícios vêm de dentro e tornam a pessoa impura”.

COMENTÁRIO

Mais uma vez, nos reunimos para meditar a mensagem de vida do evangelho. Hoje, Jesus se encontra rodeado pelos fariseus, mestres da lei e seus discípulos.

Jesus aproveitou esse encontro para apresentar as características da verdadeira religião. Mostra como é enganosa a prática da religião que se preocupa tão somente com leis e normas e que não leva em conta o amor.

O fariseu se ilude. Não come sem tomar banho, e não manipula nenhum alimento sem lavar, muito bem, suas mãos. Julga-se perfeito, porque não se desvia um milímetro sequer das diretrizes, mas é hipócrita, cheio de vaidades e de interesses pessoais.

A higiene não pode ser negligenciada, ela é fundamental para a preservação da saúde do corpo. Porém, Jesus lembra que é preciso preocupar-se também, com a saúde do espírito. De nada vale tanta purificação externa sem a menor preocupação com a assepsia do interior.

Jesus tinha conhecimento da importância da higiene pessoal. Afinal ele também é judeu; nasceu, foi criado e educado em meio ao povo judeu. Conhecia bem sua cultura, por isso, não vamos levar ao pé da letra as colocações deste evangelho. Comer, sem lavar as mãos não deve ser confundido com, comer com as mãos imundas.

Provavelmente os discípulos não tinham como lavá-las no local onde se encontravam, mas certamente, suas mãos não deviam estar tão sujas como sugere o texto. Como se diz, devem ter passado somente uma "agüinha" nas mãos, e isso escandaliza os fariseus, preocupados com a tradição e acostumados a seguirem um complicado ritual antes de comer.

O ritual de purificação não se limitava ao corpo. Os copos, jarros e pratos também eram rigorosamente limpos. Na verdade, toda preocupação com a limpeza tinha um único motivo; acreditavam que lavando as mãos ou tomando banho, ficariam limpos, moralmente, do mundo pecador por onde haviam passado.

Em linguagem científica, podemos dizer que praticavam "assepsia religiosa". Acreditavam que agindo assim, nunca seriam contaminados, sentiam-se imunes aos germes do pecado. Limpos, livres dos pecados, sentiam-se como seres superiores; os escolhidos por Deus.

Que bom seria se fosse assim tão fácil livrar-se dos pecados. Já pensou? Com a tecnologia atual existente, com produtos de limpeza cada vez mais eficazes, com água quente nas torneiras e com banheiras ultramodernas... o paraíso estaria garantido para todos que têm acesso à essas mordomias. Só iriam para o inferno os pobres moradores da periferia, que não dispõem desses recursos e que não têm água sequer para beber.

Triste é saber que muitos ainda vêm a religião dessa forma. Seguem a lei com rigor e severidade, eles não entram no templo com roupa surrada, mas olham o irmão com descaso e maldade. Tomam longos banhos de imersão, usam cosméticos e o caríssimo perfume francês, mas não querem nem saber dos milhares de pobres e maltrapilhos que os rodeiam.

Realmente, Jesus tem toda razão, o que nos torna impuros não é o que entra, mas sim o que sai de lá de dentro. Quantas vezes nos preocupamos tanto com a limpeza das mãos que nos esquecemos de limpar, de alvejar, de purificar... o coração.             

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