quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres-Padre Queiroz

31- Segunda - Evangelho - Lc 4,16-30


Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres. Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.
Este Evangelho narra a visita de Jesus à sua terra natal, Nazaré, e a rejeição do povo a ele.
Era o começo da vida pública de Jesus, e ele apresenta o seu programa, a sua missão. Veio para “anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
Vemos que Jesus privilegia os excluídos: os pobres, os cativos, os cegos, os oprimidos... Isto significa andar na contra mão da sociedade do seu País, que privilegiava os “incluídos”. Nós somos continuadores deste jeito de Jesus agir.
O ano da graça é o ano jubilar, que acontecia a cada cinqüenta anos, no qual as dívidas eram perdoadas, os escravos e os presos eram libertados, os animais presos eram soltos, não se plantava para a terra descansar, e as terras voltavam ao uso comum, conforme a distribuição inicial entre as tribos, feita por Josué. Na prática, o ano da graça acabava com os privilégios e estabelecia a igualdade entre as pessoas. Agora, com Jesus, esse ano da graça será permanente, e não apenas um ano a cada cinqüenta anos.
No dia do nosso Batismo, nós assumimos esse programa como nosso. Os primeiros cristãos procuraram pô-lo em prática à risca.
Foi o cumprimento desse programa que custou a morte para Jesus, e para milhares de mártires da História de Igreja. Apesar disso, a Igreja não desiste de lutar pela sua implantação, inclusive dentro dela mesma.
“Todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade.” A rejeição a Jesus começou cedo, e na sua própria terra. Ainda mais que ele citou dois casos – a cura do leproso Naamã e o socorro à viúva de Sarepta – em que Deus privilegiou estrangeiros, deixando os israelitas de lado. Jesus citou os dois casos a fim de mostrar que para Deus não existe povo privilegiado, todos são iguais diante dele.
Ser profeta é isso. É anunciar o Reino de Deus e denunciar o que é contrário a ele. E o profeta faz isso com palavras e com obras, isto é, com o seu próprio modo de agir. Ele é corajoso, e fala a palavra certa, na hora certa, para a pessoa certa e do jeito certo. Por isso geralmente o profeta não é bem visto pela sociedade pecadora.
O profeta tira as nossas seguranças, os nossos corrimões, deixando-nos como Pedro andando sobre as águas ao encontro de Jesus. Ele derruba as pontes e retira os apoios, para que a pessoa se humilhe e se apóie em Deus. “Senhor, salva-me!” (Mt 14,30).
“Passando pelo meio deles, Jesus continuou o seu caminho.” Não conseguiram jogar Jesus no precipício. Deus protege os seus profetas. Tudo concorre para o bem daqueles que estão com Deus.
Nós recebemos no batismo, e principalmente na crisma, a missão de profetas. A sociedade está precisando urgentemente de profetas, pois vive “tapando o sol com a peneira” em muitos pontos e ninguém denuncia.
Certa vez, um pai chamou o seu filho e lhe disse: “Filho, eu já estou velho, daqui a um tempo vou lhe entregar todas as nossas propriedades para você administrar”. O moço respondeu: “Pai, mas eu não tenho experiência, não sei como administrar!” O pai respondeu: “Vá procurar o sábio tal, que fica lá do outro lado da montanha, e peça a ele que lhe ensine a sabedoria”.
O rapaz atendeu o conselho e foi. Fez o pedido ao sábio e este lhe perguntou: “O que você viu no caminho?” “Eu vi árvores” – respondeu o moço. “Pode voltar” – disse o sábio – Amanhã retorne aqui”. O moço voltou para casa meio decepcionado. No outro dia estava lá novamente. O sábio fez a mesma pergunta: “O que você viu no caminho?” “Árvores” – respondeu ele novamente. O sábio disse a mesma coisa: “Pode voltar para casa e retorne amanhã”.
Em casa, o rapaz contou para o pai e este o encorajou: “Amanhã volte lá e diga a ele mais coisas que você viu”. No outro dia, o moço já foi olhando atentamente as coisas do caminho. Observou tanto que anoiteceu e ele teve de dormir na estrada. Quando chegou à casa do sábio, este lhe fez a mesma pergunta. O rapaz respondeu: “Eu vi flores, rios, borboletas, passarinhos, animais... Fiquei com fome e comi frutas gostosas. Anoiteceu e dormi na beira da estrada...” Ele ficou duas explicando o que viu e ainda não havia falado tudo. Então o sábio lhe disse: “Agora sim, você adquiriu a sabedoria.
O profeta vive no mundo como este sábio explicou. Ele não olha as coisas superficialmente, mas pára, observa e reflete sobre cada realidade em seus detalhes, à luz da Palavra de Deus. A partir daí, ele orienta as pessoas. O mundo coloca diante de nós inúmeras alternativas e uma riqueza imensa de variedades. O Espírito Santo, com o dom do discernimento, nos ensina a separar o joio do trigo e ficar com o que é bom.
Maria Santíssima é a Rainha dos Profetas. Peçamos a ela que nos ajude a cumprir bem a nossa missão profética e a realizar o programa que Jesus começou a realizar e deixou para nós continuarmos.
Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres. Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.


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