18 de Janeiro - DOMINGO - Evangelho - Jo 1,35-42
A vocação dos dois primeiros discípulos nasce
do testemunho de João Batista. A partir daí surge uma conscientização
vocacional que envolve outras pessoas a partir do testemunho de quem esteve com
Jesus: André encontra seu irmão Simão Pedro e o apresenta a Jesus. Em seguida, é
Filipe quem encontra Natanael e lhe fala de Jesus. Assim, a partir do
testemunho de outros, o grupo dos colaboradores de Jesus vai crescendo.
No Evangelho de João a vocação dos discípulos
não se dá da mesma forma que nos outros evangelhos. Nestes, Jesus chama
pessoalmente e de forma direta. Em João, o seguimento de Jesus se dá porque
algumas pessoas sabem quem é Jesus e o comunicam a outros que, por sua vez,
passam a fazer a mesma experiência.
O testemunho do Batista deve ter mudado
completamente a vida dos dois discípulos. Vendo Jesus passar, ele diz: “Eis o
Cordeiro de Deus”. João chama Jesus dessa forma porque descobriu nele o
cordeiro pascal (Ex 12) e o servo sofredor (Is 53), síntese das expectativas de
libertação do passado tornada presente na pessoa de Jesus que passa.
Os dois primeiros discípulos devem tomar a
iniciativa, sem esperar que Jesus os chame. Para eles, bastou o testemunho de
João Batista de que Jesus é o libertador. A partir desse momento, descobrem que
em Jesus está a resposta a todos os seus anseios. O Batista, por causa do
testemunho, perde os discípulos. Estes, pela coragem da opção que fizeram, dão
pleno sentido a suas vidas e passam a ser testemunhas para os outros.
No versículo 38 encontramos as primeiras
palavras de Jesus no Evangelho de João: “O que vocês estão procurando?” Do
início ao fim de nossas vidas estamos à procura de algo ou de alguém. Como
discípulos, procuramos saber quem é Jesus. E ele testa nossa sede,
perguntando-nos o que estamos procurando. Esta pergunta, que aparece nos
momentos cruciais do Evangelho de João, costuma se manifestar nas fases
decisivas de nossa vida: “O que estamos procurando?”
A resposta dos discípulos é movida pelo desejo
de comunhão: “Mestre, onde moras?” Os discípulos não estão interessados em teorias
sobre Jesus. Querem, ao contrário, criar laços de intimidade com ele.
Para criar intimidade com Jesus é preciso
partir, fazer experiência: “Venham ver!”. E o resultado da experiência já
aparece: “Então eles foram, e viram onde Jesus morava. E permaneceram com ele
naquele dia”. O verbo permanecer é muito importante no Evangelho de João. Por
ora os discípulos permanecem com Jesus. Mais adiante, o Mestre dirá:
“Permaneçam em mim”. Permanecer com Jesus e com as pessoas é fácil. O difícil é
permanecer nele e nas pessoas. Só aí é que a comunhão será plena.
O evangelho afirma que a experiência com Jesus
valeu a pena: “Eram mais ou menos quatro horas da tarde”. Quatro horas da
tarde, em linguagem simbólica, é o momento gostoso para o encontro, ou a hora
das opções acertadas. O passo dado por esses dois discípulos foi de ótima
qualidade. Valeu a pena. Essa opção vai gerar frutos a seguir.
André era um dos discípulos que, diante do
testemunho do Batista, seguiram a Jesus e fizeram a experiência das “quatro
horas da tarde”. Só agora é que o evangelista revela o nome desse discípulo. O
outro fica anônimo, podendo assumir o nome de cada um dos seguidores do Mestre.
André significa homem (= ser humano). Será que o evangelista quer insinuar que
as pessoas só se tornam verdadeiramente humanas depois que fazem a experiência
do Mestre? Fato é que a experiência se converte em testemunho que arrasta:
André leva Simão a Jesus. O evangelho mostra só um flash do testemunho de
André. De fato, o v. 41 diz que “ele encontrou primeiro seu irmão…” Isso dá a
entender que teria encontrado, em seguida, outras pessoas… André fala no
plural: “Encontramos o Messias”. É uma experiência comunitária e progressiva de
quem é Jesus. João o apontara como o Cordeiro de Deus; os primeiros discípulos
o chamam de Mestre; Pedro já fica sabendo que se trata do Messias…
Jesus pede que Simão Pedro encontre sua
identidade: “Você é Simão, filho de João. Vai se chamar Cefas”. Para o povo da
Bíblia, o nome é a identidade da pessoa. Simão será, no Evangelho de João,
símbolo de toda pessoa em busca de identidade. Ele dará muitas cabeçadas ao
longo desse evangelho, até se encontrar consigo próprio, com sua missão e com
Jesus. Talvez o mesmo aconteça contigo. Mas é necessário que passes por tudo
isso para que te encontres contigo mesmo e reconheças o Cristo que te chama
para a Sua missão!
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