quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Jesus multiplica os pães-Canção Nova

3 de Dezembro- Quarta - Evangelho - Mt 15,29-37


De fato, a compaixão realiza uma proximidade solidária. Tanto quanto mostra a reciprocidade que põe face a face aquele que oferece e aquele que recebe compaixão. Pois embora a situação de carência os distinga, a humanidade que partilham é a mesma. Diversamente do caso de Deus, que age com a distinção da graça: sendo Ele divino, se compadece da humanidade realmente, sem renunciar à sua divindade, aproximando-se de nós por gratuita benevolência. Fato extremo e contraditório humanamente falando, dessa divina compaixão que se dá na Encarnação, Paixão e Ressurreição do Verbo, Jesus de Nazaré. A piedade divina assume a miséria humana historicamente, para elevar a humanidade à comunhão com Deus. Assim, a divina compaixão se mostra claramente no mistério da piedade de Deus que nos devolveu a liberdade e a dignidade de filhos de Deus.
O Novo Testamento usa geralmente a palavra piedade, compaixão ou benevolência nos remetendo a seguinte idéia: a piedade é o clamor que a humanidade eleva a Deus, como entoamos na liturgia judaica e cristã.: Senhor tende piedade de nós.
Nas relações fraternas, a compaixão move o sujeito ao próximo carente e miserável, abrindo as portas da solidariedade. Tal comportamento diferencia o homem justo do injusto. De fato, a piedade está mais ligada à justiça, do que ao sentimento de pena ou dó. Se o Direito tarda em socorrer os aflitos, a compaixão nos leva solicitamente até eles, favorecendo obras de misericórdia. Assim, a compaixão adianta-se à Lei e garante que o bem seja feito, a começar dos mais carentes. Compaixão, piedade e justiça caminham juntas.
Em Mc 6,30-44, cena da primeira multiplicação dos pães, a compaixão de Jesus é retratada em cores fortes e dinâmicas. Tudo começa com sua sensibilidade: mais que mestre, ele é o amigo atento às necessidades dos discípulos. Percebe-os cansados e esgotados. Então os convida a irem, com Ele, a um lugar deserto, na outra margem do lago, para repousar. Aqui, o deserto, a outra margem das águas e o repouso – oferecido pelo Cristo – nos remete ao tempo que Jesus virá restaurar a humanidade inteira e os congregará junto de Deus Seu Pai, em paralelo com Mt 11,28: Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Jesus é novo Moisés que, qual pastor, guia o povo no deserto, atravessa as águas e os leva a repousar (cf. Sl 95,7-11).
Esta sensibilidade diante do cansaço dos discípulos sinaliza a compaixão de Jesus, presente em seu coração. Em seguida, Ele literalmente se comove, quando a multidão de pobres e enfermos o alcança, chegando às margens de Tiberíades antes dele e dos discípulos: Assim que Ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.
O olhar: Jesus vê a multidão e suas entranhas se comovem. O olhar ativa a segunda esfera da compaixão em Jesus, que agracia o povo com sua palavra salvadora: “E começou a ensinar-lhes muitas coisas”.
Contudo, o ensino não basta. A noite vem e o povo faminto inspira cuidados. Jesus questiona os discípulos, organiza o povo em grupos, toma pães e peixes, bendiz a Deus, dá início à partilha e sacia a multidão. Eis a terceira esfera da compaixão: a dádiva do alimento. Com isto, o lugar deserto se torna grama verde: a mudança no cenário mostra Jesus como o pastor que conduz o rebanho às verdes pastagens, onde comem e descansam (cf. Sl 23,2; Jo 10,3). Onde há compaixão, há partilha; e onde a partilha acontece, a vida se renova, como relva que germina em pleno deserto!
O olhar favorece a compaixão e seus frutos, como a benevolência, o perdão e a cura. Precisamos educar o olhar para sermos compassivos. O evangelho nos ensina isto e mostra o contraste entre Jesus que vê a multidão e a compreende, e os discípulos, que têm os olhos vendados pelo legalismo econômico. Ele manda que sejam eles a dar de comer ao povo, a ter compaixão e a partilhar, porque eram incapaz de vê-la realmente.
Eis aqui o apelo do evangelho a todos nós, cristãos e cristãs: pousamos sobre as pessoas um olhar de compaixão? Não por acaso, o evangelista João insiste que olhemos para o Cristo transpassado, imagem da humanidade ferida de dor, violência, miséria e opressão: “Olharão para aquele que transpassaram (Jo 19,37).

Pai, a acolhida que teu Filho Jesus me dispensa deve mudar profundamente o meu coração. Que eu seja transformado por Ele e me torne mais disponível para Ti e seja cada vez mais misericordioso para com os meus irmãos e irmãs.

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