18 de Novembro- Terça - Evangelho - Lc 19,1-10
O Evangelho de hoje nos apresenta a
encantadora história de Zaqueu. Jesus chegou a Jericó. Não é a primeira vez que
vai e, nesta ocasião, ao aproximar-se, também curou a um cego (v. Lc 18, 35
ss). Isto explica por que há tanta multidão esperando-o. Zaqueu, «chefe de
publicanos e rico», para vê-lo melhor, sobe em uma árvore no caminho que as
pessoas seguem (logo na entrada de Jericó há ainda um velho sicômoro que seria
o de Zaqueu!).
«Quando Jesus chegou àquele lugar, levantando
os olhos lhe disse: “Zaqueu, desce logo; porque convém que hoje eu fique em sua
casa”. Apressou-se a descer e lhe recebeu com alegria. Ao vê-lo, todos
murmuravam dizendo: “Foi hospedar-se na casa de um homem pecador”».
O episódio serve para evidenciar, uma vez
mais, a atenção de Jesus pelos humildes, os rejeitados e desprezados. Seus
concidadãos desprezavam a Zaqueu porque praticava injustiças com o dinheiro e
com o poder, e possivelmente também porque era pequeno de estatura; para eles,
Zaqueu não é mais que «um pecador». Jesus, ao contrário, vai encontrar-lhe em
sua casa; deixa a multidão de admiradores que lhe recebeu em Jericó e vai para
a casa somente de Zaqueu. Faz como o Bom Pastor, que deixa as noventa e nove
ovelhas para buscar a que completa a centena, a que se perdeu.
Também a atuação e as palavras de Zaqueu
contêm um ensinamento. Estão relacionadas com a atitude para com a riqueza e
para com os pobres. Deste ponto de vista, o episódio de Zaqueu deve ser lido
com o fundo das duas passagens que lhe precedem, a do rico e a do jovem rico.
O rico negava ao pobre até as migalhas que
caiam de sua mesa; Zaqueu dá a metade de seus bens aos pobres. O rico usa de
seus bens só para si e para seus amigos ricos que lhe podem corresponder;
Zaqueu usa seus bens também para os demais, para os pobres. A atenção, como se
vê, está no uso que se deve fazer das riquezas. As riquezas são iníquas quando
se equiparam, subtraindo-as aos mais frágeis e empregando-as para o próprio
luxo desenfreado; deixando de ser iníquas quando são fruto do próprio trabalho
e se põem a serviço dos demais e da comunidade.
Confrontar o episódio do jovem rico é
igualmente instrutivo. Ao jovem rico Jesus diz que “venda tudo o que tem e dê
aos pobres” (Lc 18, 22); com Zaqueu, se contenta com sua promessa de dar aos
pobres a metade de seus bens. Zaqueu, em outras palavras, continua sendo rico.
A tarefa que realiza lhe permite seguir sendo rico, inclusive depois de ter
renunciado à metade de seus pertences.
Isto retifica uma falsa impressão que se pode
ter de outras passagens do Evangelho. Não é a riqueza em si o que Jesus condena
sem apelação, mas o uso iníquo dela. Existe salvação também para o rico! Zaqueu
é a prova disto. Deus pode fazer o milagre de converter e salvar a um rico sem,
necessariamente, reduzi-lo ao estado de pobreza. Uma esperança, esta, que Jesus
não negou jamais e que inclusive alimentou, não desdenhando frequentar, Ele, o
pobre, também a casa de alguns ricos e chefes militares.
Certo: Ele jamais encontrou os ricos nem
buscou seu favor suavizando, quando estava em sua companhia, as exigências de
seu Evangelho. Completamente ao contrário! Zaqueu, antes de ouvir o que lhe foi
dito: “Hoje chegou a salvação a esta casa”, teve que tomar uma valente decisão:
dar aos pobres a metade de seu dinheiro e dos bens acumulados, reparar as
fraudes cometidas em seu trabalho restituindo o quádruplo. O caso de Zaqueu se
apresenta, assim, como o reflexo da conversão evangélica que é sempre – e por
sua vez – conversão a Deus e aos irmãos.
O Zaqueu de hoje sou eu e é você, a quem Jesus
chama: “Desce depressa… a salvação chegou em sua casa”.
Padre Bantu Mendonça
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