segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo-Padre Antonio Queiroz




Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo.
Neste Evangelho, Jesus censura fortemente os escribas e os fariseus, devido à sua hipocrisia. O piro é que os pecados deles são muito comuns entre nós. Usando a comparação de limpar um copo, Jesus se refere às nossas atitudes erradas, que são as raízes dos nossos atos errados. Eles se preocupavam com os atos externos (limpar o copo por fora), mas Jesus quer mais, quer a nossa mudança de coração, isto é, a nossa mudança de atitudes (limpar o copo por dentro).
A palavra hipócrita, naquele tempo, significava não só dar uma aparência daquilo que não é, mas falsificar as ações religiosas, a fim de dar uma aparência de santo. Os verdadeiros enviados se colocam humildemente como seus servos, e estão sempre em processo de conversão, a fim de não dar mau exemplo. Do contrário eles podem afastar o povo de Deus, em vez de aproximar. Quem pensa que sabe tudo, não dá a Deus a chave da sua mente. Quem pensa que cumpre todos os mandamentos, não dá a Deus a chave do seu coração. Quem se afasta dos pecadores e dos humildes, se afasta da misericórdia de Deus.
As opções fundamentais da nossa vida, embora sejam invisíveis, têm as suas epifanias (manifestações), pelas quais elas se tornam perceptíveis a nós e aos outros. Por exemplo, se a minha vida não é direcionada para Deus, aparecem as epifanias, que são os atos de pecado, grandes ou pequenos.
Há uma diferença entre ato e atitude. A comparação com a árvore nos ajuda a entender. Uma árvore tem folhas, galhos, tronco e raízes. Não vemos as raízes, mas são elas que sustentam e dão vida a tudo, através da seiva. As raízes são as nossas atitudes (fé, esperança, virtude da caridade, humildade... Também as negativas: egoísmo, preguiça...), e o resto, o que aparece na árvore são os nossos atos (solidariedade, alegria, perseverança, atos de caridade.. Ou os negativos: roubo, violência, infidelidade...) Assim como não vemos as raízes de uma árvore, não vemos as atitudes de uma pessoa. Mas elas são as mais importantes, pois são elas que geram os atos da pessoa, bons ou maus.
É importante descobrir, através dos nossos atos, quais são as nossas atitudes que estão gerando esses atos. Pelo estilo de vida de uma pessoa podemos identificar suas opções fundamentais.
Uma árvore tem folhas, frutos e raízes. Nós vemos as folhas e os frutos, mas não vemos as raízes. No entanto, são elas que alimentam as folhas e os frutos. O mesmo acontece com o pecado e com a falta de fé; são frutos de raízes escondidas.
“Filhinhos, não ameis o mundo nem o que está no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele; pois tudo o que está no mundo – a concupiscência da carne, a cobiça exagerada de bens, e a soberba da vida – não vêm do Pai, mas do maligno” (1Jo 2,15-16). Nesse texto, S. João cita os três grandes ídolos do mundo, que começam com “p”: O prazer, e posse e o poder. O maior obstáculo é o apego exagerado ao dinheiro, que está no segundo “p”.
Essas tendências nossas, em si, são boas. Acontece que o pecado desorganiza as nossas inclinações.
Pelo prazer, às vezes buscamos vícios, faltamos ao domínio de nós mesmos, abusamos do nosso próximo, caímos no comodismo, palavra bonita para dizer preguiça.
Pela posse, caímos na avidez de ter coisas. Não partilhamos e facilmente pulamos da posse de coisas para a posse de pessoas. “Quanto mais tem, mais quer”.
Pelo poder, caímos na avidez de estar por cima, de mandar, ou de ter fama e prestígio. Usando uma linguagem figurada, nós matamos pessoas só para subir em cima dos seus cadáveres e assim todos nos verem. E ainda acenamos com cara lavada: “Oi, estou aqui!” Claro, não deixamos ninguém ver o que há embaixo dos nossos pés. Coisa horrível!
Outras raízes do pecado e da incredulidade: A preguiça (Cf Pr 26,13-16), o egoísmo, o egocentrismo... A fé cristã nos leva ao alocentrismo, que é o contrário de egoísmo.
“Vós pagais o dízimo da hortelã... e deixais de lado os ensinamentos mais importante, como a justiça e a fidelidade!” Pagar o dízimo da hortelã é um ato pequenino, mas bom. Agora, a justiça e a fidelidade são virtudes internas nossas que geram atos bons muito mais importantes.
“Vós limpais o copo e o prato por fora, mas por dentro estais cheios de roubo e cobiça.” Limpar o copo é ato bom, embora pequenino. Agora, o roubo e a cobiça são pecados grandes. O pior é limpar o copo para abafar ou esconder o roubo e a cobiça.
“Guias cegos!” Se o guia é cego, os dois vão cair num buraco. Imagine quem é guia de todo um povo! E os fariseus e mestres da Lei não eram só cegos, mas exploradores do povo a eles confiado. Esses guias cegos, de ontem e de hoje, torcem o sentido das Sagradas Escrituras em função de seus interesses gananciosos, e com isso, em vez de aproximar, afastam o povo de Deus e do seu Reino.
Vamos limpar-nos por dentro, tirando as raízes do mal eliminando os vícios e enriquecendo-nos com as virtudes, e assim com certeza produziremos muitos e bons frutos.
Certa vez, um monge mestre e um noviço estavam viajando a pé. Chegaram a beira de um rio e viram ali uma linda moça querendo atravessar o rio mas não conseguia porque o rio não dava pé e ela não sabia nadar.
Então a moça pediu a eles: “Por favor, levem-me até o outro lado. Eu preciso chegar em casa!” O mestre a pegou, colocou nas costas e atravessou a nado o rio. O noviço também atravessou nadando, e os dois continuaram a viagem. Várias horas depois, o noviço criou coragem e disse ao mestre: “A nossa regra nos proíbe de tocar em mulher. Como que o senhor fez aquilo, atravessando aquela moça nas costas?” O mestre respondeu: “Eu deixei a moça lá na beira do córrego. E você está trazendo-a consigo até agora!”
Aí aparece direitinho onde está o pecado. Ele está no nosso coração, não nos nossos atos externos simplesmente. Se nós fazemos as coisas com reta intenção e querendo agradar a Deus, ele nos protege e não fazemos pecado, mesmo que atravessemos um rio com uma linda moça nas costas. Por isso, não precisamos ter medo dos nossos irmãos ou irmãs do sexo oposto.
Maria Santíssima é toda pura e santa, por dentro e por fora. Isso transparece em seus olhos, em seu coração, em tudo. Ela não se preocupava em aparecer, como os hipócritas; o que ela queria era amar e servir a Deus e ao próximo. Por isso foi escolhida por Deus para ser a Mãe do seu Filho e de todos nós. “Ó virgem santa, rogai por nós pecadores!”
Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo.




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