domingo, 23 de março de 2014

Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus - Pe. Antônio Queiroz CSsR




Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.
Este Evangelho narra a expulsão de Jesus da sua cidade, Nazaré. Isso porque ele desagradou os ouvintes na sinagoga, dizendo que Deus quer bem aos pagãos como aos judeus, igualmente.
O povo de Israel, por ter sido escolhido por Deus para dele nascer o Messias, julgava ser um povo mais querido de Deus do que os demais povos. Mas a eleição foi provisória; depois que Jesus nasceu, acabou a história de povo eleito. Deus ama a todos os povos igualmente e não há nenhum povo superior a outro.
Jesus mostra que os profetas enviados por Deus, não privilegiavam o povo de Israel, mas tratavam a todos os povos igualmente. E cita o exemplo de Elias, ajudando uma viúva estrangeira, e de Eliseu, curando o leproso Naamã, sendo que havia muitas viúvas e muitos leprosos em Israel, e nenhum foi agraciado.
Essas citações, apesar de serem fatos bíblicos, irritaram os ouvintes, que expulsaram Jesus da sua própria cidade natal e quase o mataram. Só não o fizeram porque Jesus se mostrou com uma força especial.
Jesus veio ao mundo para salvar a todos os povos. Deus ama a todos igualmente, como seus filhos e filhas. “Não se faz mais distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, porque agora o que conta é Cristo, que é tudo e está em todos” (Cl 3,11).
“Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.” O que fizeram com Jesus confirmou essa sua afirmação. E é para nós um alerta: será que acolhemos bem o trabalho pastoral e missionário dos líderes cristãos da nossa cidade ou bairro?
Esta rejeição de Jesus, no comecinho de sua vida pública, prenuncia a sua sorte como profeta no meio do seu povo: incompreendido, perseguido, morto. Entretanto, seu Evangelho ultrapassou as fronteiras do seu país e chega a todos os cantos da terra.
Também nós somos chamados a dar testemunho no meio em que vivemos. O dom profético não é monopólio dos padres, bispos, diáconos e religiosos. Esse dom é exercido de diversas formas, de acordo com o carisma de cada um. “A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito a palavra da sabedoria, a outro a palavra do conhecimento, a outro a fé... a outro a profecia” (1Cor 12,7-10).
O importante é não deixar apagar o Espírito de Jesus em nós e na nossa Comunidade. Para isso temos de nos comprometer, especialmente em favor dos mais pobres, como o próprio Jesus havia dito um pouco antes, no seu discurso em Nazaré (Lc 4,18ss).
A grande sociedade costuma associar a violência à favela e à pobreza, o que não é verdade. Os chefes do crime organizado não são pobres nem moram em favelas. Devido a esse preconceito, milhares de moradores de certos bairros das grandes cidades sequer ousam apresentar o próprio endereço quando encaminham currículos com a finalidade de obter um emprego. O simples fato de morar em certas regiões já é suficiente para estigmatizá-los, como se fossem todos delinqüentes. Isso é um pecado!
Havia, certa vez, um senhor pai de família, que morava na roça e era muito religioso. Ele rezava o terço todos os dias à noite, com a família. No domingo, a família toda ia à Missa, caminhando a pé, numa distância de vinte e quatro quilômetros. Uma filha, deste os oito anos de idade, acompanhava o pai em tudo.
Um dia este senhor adoeceu. Ficou três anos na cama, sofrendo dores horríveis, mas nunca reclamou. Quando alguém o visitava, ele dizia que estava bem e feliz. Quando ficou inconsciente, só rezava o tempo todo.
Seis anos após o falecimento do pai, a menina, agora moça, foi fazer tratamento médico numa cidade grande, onde ficou hospedada na casa de uma família de parentes, durante alguns meses.
As famílias católicas vizinhas, ao saberem do seu trabalho de líder cristã, começaram a convidá-la para rezar o terço em suas casas e ela sempre aceitava o convite com prazer.
Ela ouviu vários comentários negativos a respeito de uma vizinha que morava sozinha. As pessoas diziam à moça: “Naquela casa ali mora uma mulher que não presta!” Entretanto, a jovem, na sua prática pastoral, não deu muita importância aos comentários, e procurou aproximar-se da tal “mulher que não presta”.
De início, aproveitava os momentos em que ela saía de casa, para conversar. Dias depois, foi convidada pela mulher para ir à sua casa. A jovem ouvia mais do que falava, porque percebia que a senhora sentia necessidade de falar e de se abrir com alguém.
Resultado: as duas ficaram amigas. A mulher começou a participar dos terços, e acabou nos vizinhos aquele estigma de “mulher que não presta”.
Depois que a jovem voltou para a roça, ficou sabendo que aquela mulher se transformou. Não era mais aquela pessoa fechada, mas comunicativa e alegre.
Seguindo os passos de Jesus, todos nós somos chamados a ser profetas, continuando o trabalho dele e dando testemunho, no lugar onde vivemos.
Maria Santíssima é a Rainha dos Profetas. Que ela nos ajude a dar testemunho do seu Filho, no meio em que vivemos.
Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.



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