terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O cego ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. Pe. Queiroz

DIA 19 QUARTA - Evangelho - Mc 8,22-26

O cego ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez.
Este Evangelho nos traz a cena da cura do cego em dois estágios. “Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado...” A multidão massifica, aliena. Precisamos ficar a sós com Deus para reassumirmos a nossa individualidade. Cada um de nós é diferente de todos e de todas. Este cego era massificado, por isso não tinha muita iniciativa: “Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele”.
“Cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele...” É importante o contato físico com Deus e com as pessoas. Também hoje podemos ter contato físico com Jesus, na Eucaristia e na Comunidade reunida em seu nome.
Também nós, como continuadores de Jesus, devemos nos aproximar fisicamente das pessoas, ter contato pessoal, e não apenas ficar atrás de um microfone, de uma câmara ou sentados escrevendo.
A cura em dois estágios nos ensina que a libertação da nossa cegueira espiritual é gradativa e vai acontecendo aos poucos. O primeiro estágio é a pessoa reconhecer Jesus, mesmo que apenas como curador, e reconhecer o próximo, mesmo que como “árvores que andam”. Mais tarde, a pessoa reconhecerá Jesus como Filho de Deus, caminho, verdade e vida, e o próximo como irmão e irmã. Os estágios continuam... O amor a Deus e ao próximo vão crescendo, até a pessoa dizer como S. Paulo: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim”, e dar a vida por ele e pelos irmãos.
Ultrapassamos o interesse em receber favores de Jesus, e passamos a “amar como Jesus amou, pensar como Jesus pensou”, viver e morrer como Jesus, unindo-nos depois eternamente com ele e com a sua e nossa Família, no Céu.
“Não entres no povoado.” Jesus não quer ser visto como um simples curador. O seu objetivo é levar o povo a acreditar em Deus e na própria união em Comunidade. O seu desejo é que o povo caminhe com suas próprias pernas, rumo à autonomia e à libertação dos seus males todos, sem depender dos outros. Mas para isso precisamos do primeiro estágio, que é nos libertarmos de toda e qualquer cegueira. A participação em movimentos sociais e o engajamento político fazem parte dessa caminhada.
Após o Natal, um garoto saiu à rua e viu um menino da sua idade com uma bicicleta nova. Perguntou a ele: “Como que você conseguir esta bicicleta?” O garoto respondeu: “Foi meu irmão que me deu”. Ele olhou bem para a bicicleta e disse: “Nossa, como que eu gostaria de ser como o seu irmão!”
Em seguida convidou o dono da bicicleta para ir com ele até a sua casa, que era perto. Chegando, ele foi lá dentro, trouxe o seu irmão menor, apontou para a bicicleta e disse: “Quando eu crescer, vou comprar para você uma bicicleta igualzinho a esta”.
Que exemplo esse garoto deu, não? Em geral, o nosso é receber, ele sonhava em dar; amava tanto o seu irmãozinho que sonhava em lhe dar uma bicicleta. A reação espontânea dele não foi, como geralmente acontece, querer ter a sorte de quem ganhou, mas querer ter o coração e a possibilidade de quem deu. Esse menino não é “cego” espiritual. “Descubra a felicidade de servir”. “Há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,35).
Quando Maria Santíssima disse que Deus “derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes, encheu de bens...”, certamente ela sonhou com um povo agindo com as suas próprias forças, unido, organizado, com fé e gratidão a Deus, e feliz.
O cego ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez.


Pe. Queiroz

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