terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

"O AMOR QUE TRANSFIGURA"-Diac. José da Cruz

II  DOMINGO DA QUARESMA 16/03/2014
PRIMEIRA LEITURA (Gn 12, 1-4a)
SALMO RESPONSORIAL (32/33)
SEGUNDA LEITURA (2Tm 1, 8b-10)
EVANGELHO (Mt 17,1-9)
       
                               "O AMOR QUE TRANSFIGURA"-Diac. José da Cruz

Para quem não conhece, o Monte Tabor onde teria ocorrido a transfiguração de Jesus, é uma alta colina localizada no Leste do Vale de Jizreel, 17 km a oeste do Mar da Galiléia e o seu topo está a 575 metros acima do nível do mar. Entretanto, não se pode afirmar com absoluta certeza, que essa referência geográfica no episódio da Transfiguração do Senhor, é verdadeira, principalmente quando se sabe, que o evangelista São Mateus escreveu para os Judeus e sempre há em seus relatos, uma forte relação entre Jesus Cristo e Moisés. De qualquer forma o texto nos revela que os discípulos Pedro, Tiago e João, fizeram essa profunda experiência, onde Jesus lhe revelou a sua Divindade. Não é por acaso que na narrativa de Mateus, aparecem ao lado de Jesus o Libertador Moisés e Elias, uma das maiores referências como profeta do Antigo Testamento, é uma catequese que tem como pano de fundo o Judaísmo, comprovando que Jesus é de fato io Messias, aquele que havia sido prometido na Escritura Antiga, e até prefigurado em alguns personagens da História de Israel. A partir de agora, a humanidade não irá mais precisar da Lei e dos Profetas, Jesus não trouxe uma nova Lei ou Aliança, Ele próprio é a Nova Aliança, aquele que de modo único e excelente nos revela o Pai.
Mas o que esse fato refletido no evangelho pelas comunidades de Mateus, tem a ver com a realidade das nossas comunidades cristãs ? Sabemos que Jesus é Nosso Deus e Senhor, mas quais as consequências que esta Fé traz em nossa vida? A cada domingo, Dia do Senhor, Jesus convida todos os cristãos a “subirem a montanha”, isso é, a fazerem essa “ascese” nas nossas celebrações. Embora humana, com uma Liturgia que comporta elementos culturais, cada celebração é envolvida pelo Mistério de Deus, como a nuvem que desceu sobre a montanha.
No ambiente celebrativo de nossas igrejas cristãs, de muitos modos Jesus manifesta a glória da sua Divindade, mas de modo excelente na Eucaristia e na Palavra, onde mediante a Fé, podemos sim contemplar a sua glória, sentir a sua presença a conduzir, animar e alimentar os seus, em comunhão com Ele em torno de uma mesa que é a Mesa da Palavra ou da Eucaristia. Moisés e Elias são uma referência importante para todos nós, não como meros personagens históricos, mas como homens que fizeram a experiência de Deus, enquanto anunciadores de uma Libertação que em Jesus atinge a sua plenitude e transcende o meramente histórico, libertando-nos do mal do pecado. O profetismo de Elias anuncia a Palavra Libertadora, o homem nasceu para ser livre, mas a sua liberdade está em Deus, que não permanece impassível diante do sistema opressor que não considera o dom da Liberdade, por isso, a Palavra libertadora se faz ação em Moisés deus vê, ouve, desce e liberta o seu povo. Jesus eleva essa liberdade á sua plenitude, concretizando as promessas de Deus nesse sentido.
O entusiasmo de pertencer a uma comunidade cristã, o privilégio de poder fazer essa experiência com os irmãos e irmãs nas celebrações dominicais, pode nos levar a cometer o mesmo erro de Pedro: o de querermos permanecer apenas na dimensão celebrativa- contemplativa, acomodar-se na Mística e fazer da experiência com Cristo algo muito particular, é esse o significado de querer fazer tendas, e de fato muitos fazem, isolando-se na comunidade ou no seu grupo ou pastoral, achando que a vivência cristã se resume apenas nessa experiência religiosa.
Quando contemplamos a Divindade de Jesus e ficamos só nisso, sentimos medo, porque é impossível compreender um Deus revestido de glória, encarnado em nossa miséria humana. O Sagrado sempre e Sagrado sempre exerceu essa ambiguidade sobre o homem, o encanta, o atrai e fascina, mas também causa medo, quando se está diante do Mistério. Mas Jesus, que tocou nos discípulos, toca também em cada membro da comunidade :”Levantai—vos, não tenhais medo”. E ao descer da montanha, só vêem Jesus caminhando com eles pela encosta da montanha. Eis aqui o grande desafio, vermos Jesus no irmão ou irmã da comunidade, que caminha com a gente, perceber esse Deus extremamente humano, percorrendo nossos mesmos caminhos,, sem nunca deixar de ser o “Outro”, o Transcendente.
E assim, pela sua encarnação recebemos a Graça Divina, e podemos nos abrir para que o Espírito Santo nos renove, nos transforme e nos transfigure no dinâmico processo da conversão, e diferente dos apóstolos Pedro, Tiago e João, ao término da celebração, quando descemos da “montanha”, somos enviados para proclamar bem alto as maravilhas de Deus, a darmos testemunho do evangelho, mostrando que somente na Ressurreição do Senhor encontramos o sentido para a nossa vida terrena.
Derrubemos, portanto, as tendas do nosso comodismo, de uma Fé desvinculada da Vida, nesse segundo domingo da quaresma, e como o Patriarca Abraão, coloquemo-nos á caminho dessa Terra das Promessas, onde cada homem e cada mulher , vivendo em Deus, atingirá a felicidade em seu sentido mais pleno, irradiando em si, a mesma luz fulgurante do Cristo, Homem Deus e Deus Homem, o novo Moisés que nos conduz com segurança a esta terra, cuja estrada passa exatamente na experiência humana, estrada que nosso Deus feito homem também percorreu, e que nos conduz á glória de uma Vida em comunhão definitiva com Ele, que em Cristo nos aceitou também como “Filhos e Filhas, em quem Ele põe todo o seu agrado”. ( 2º Domingo da quaresma MT 17, 1-9)
José da Cruz é Diácono

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