quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

E eles abandonaram a barca e o seguiram - Claretianos

Domingo, 26 de janeiro de 2014
3º Domingo do Tempo Comum
São Tito e São Timóteo, Bispos (Memória).
Outros Santos do Dia: Afonso de Astorga (monge, bispo), Agostinho Erlandsson (bispo de Nidaros), Alberico de Cîteaux (abade), Amon (abade de Pispir, em Tebaida), Ansúrio de Orense (monge, bispo), Atanásio de Sorrento (bispo), Gabriel (abade de Santo Estêvão de Jerusalém), João (filho de Xenofon, monge da Palestina), Paula de Roma (viúva), Teofrido de Corbie (monge, bispo), Teógenes (bispo) e Companheiros (mártires de Laodicéia, na Frígia).
Primeira leitura: Isaias 8,23b-9.3
Pois não há trevas onde há angustia
Salmo responsorial: 26(27),1.4.13-14 (R. 1a.1c)
O Senhor é minha luz e minha salvação
Segunda leitura: 1 Corintios 1,10-13.17
Vivei em boa harmonia
Evangelho: Mateus 4,12-23
E eles abandonaram a barca e o seguiram
É do conhecimento de todos que a liturgia católica carece de uma reforma substancial e a necessidade de reordenar a escolha dos textos segundo novos critérios.  A incorporação da segunda leitura à temática unitária (em vez de se apoiar em sua temática própria), e a possibilidade de que sejam vários os ordenamentos litúrgicos dos textos, segundo objetivos e necessidades distintas a serem escolhidas segundo variáveis diversas, seriam outras tantas possibilidades.
Entretanto, é bom saber que a liturgia não “é” assim, mas que a temos assim, à espera de que chegue um momento mais propício para reativar as tantas coisas que na igreja católica estão paradas ou em hibernação à espera de outra conjuntura.
A primeira leitura parece ter sido escolhida estritamente por coincidir com a terceira leitura por causa da alusão geográfica (zona de Zabulon e Neftali), zona limítrofe de Israel na qual Jesus veio se estabelecer. A segunda, como sempre acontece, vai por seus caminhos próprios, sendo puramente aleatório que alguma vez encaixe com a mensagem das outras duas.
Podemos dizer que o evangelho de hoje, dada a altura à qual estamos no ano litúrgico, corresponde à vida de Jesus, seguindo um critério simplesmente cronológico: o início de sua atividade pública, quando sua missão de pregador do Reino decola e atinge a plenitude.
São muitos os detalhes que merecem comentário neste evangelho. Jesus começa sua atividade tomando como referencia os sinais dos tempos. Ao menos o evangelista faz notar que Jesus não começa sua missão sem mais e nem a seu bel prazer, somente entra em cena ao saber que João Batista havia sido encarcerado. Jesus reage ante os fatos da história que o rodeiam. Não cumpre uma missão previamente programada e que deveria ser levada a termo com indiferença, não importando o que acontecesse.
Jesus “foi viver” em Cafarnaum. Alguns exegetas (Nolan, por exemplo) fazem notar que “se estabeleceu” ali e que, provavelmente, ao citar como sendo “sua casa”, não seria a casa de Pedro e sim a de Jesus... Não se pode falar com segurança, mas não é improvável. Uma dúvida sobre essa imagem tão usual de um Jesus evangelizador itinerante.
O conteúdo do que seria a “primeira pregação” de Jesus, ou ainda melhor, a tônica dominante da pregação de Jesus: a vinda do Reinado de Deus, como boa notícia que convida a mudança... Hoje já sabido pelas crianças da catequese paroquial, quando há quarenta anos o ignoravam todos os cristãos adultos, inclusive os pregadores: que o centro da pregação de Jesus foi o “Reinado de Deus”, um conceito que beira à escatologia, ou seja, que Jesus não foi um pregador doutrinal teórico, nem um mestre da sabedoria religiosa, nem asceta... mas um profeta dominado pela urgência de uma paixão, a paixão pelo Reinado de Deus que ele acreditava iminente...
Não era somente um anúncio, e sim uma co-moção: Jesus anunciava para provocar a mudança, para animar a esperança na mudança que Deus mesmo estava a ponto de fazer acontecer... Por isso, seu anuncio era para a conversão: “mudem sua vida e seu coração porque o reino dos céus está próximo”, na tradução da Bíblia Latino-americana.
Aqui detectamos uma dupla direção: é preciso mudar (converter-se) “porque” chega o Reinado Deus e, também, é preciso mudar “para que” venha, para tornar possível que venha, porque na mudança já acontece esse Reinado... São as duas dimensões: ativa e passiva, receptiva e provocativa, de contemplação e de luta... sem unilateralismos.
O caráter concreto do tipo de práxis que Jesus adota, não é a de ele mesmo ser o transformador da sociedade, com suas próprias práticas, não é a de enfrentar diretamente a tarefa, mas a de comprometer o outros, de convencer a outros para somar à tarefa e para isso, dedicar-se a desbloquear a mentes, a iluminar os corações, abrir a visão dos demais... para que possam ser incorporados à transformação da sociedade.
Pode-se dizer que Jesus, mais que uma prática, assume uma prática teórica e simbólica. Ele não se faz médico nem se dedica a curar os enfermos, porém dedica-se a dar a Boa Notícia, ainda que em sua pregação a cura esteja sempre presente como “signo” de cura: “pregava e curava”. Teoria e prática: Jesus exercia a tarefa de abridor de mentes, iluminador de corações, gerador de esperança, transmissor de energias...
Nessa linha de pensamento, pode-se salientar ainda melhor o fato de ter convertido os seus amigos mais achegados em “pescadores de pessoas” (e não “de homens”), o que ele mesmo estava sendo. Querer estender o cristianismo a todo o mundo e fazer tábua rasa das demais religiões, é um pensamento que já não tem lugar em uma visão à altura dos tempos atuais. O ser realmente “evangelizador” apaixonado pela Utopia do Reino (utopia que não é inimiga das demais religiões nem pretende impor nenhuma cultura), continua tendo pleno sentido. Muitos detalhes, muitos temas, em um evangelho simples, porém com muito conteúdo.
Oração: Ó Deus, Pai e Mãe universal: aviva nossa fé, nosso amor, nossa esperança e dá-nos criatividade e intuição para que saibamos acolher hoje, como olhos novos e coração aberto, tanto o Evangelho de Jesus como todas as outras “boas noticias” com as quais nos deparamos ao longo e pela extensão do mundo de todos os homens e mulheres das mais variadas religiões, para que continues falando e estimulando através de sua s vidas. Por Jesus Cristo, filho teus e irmão nosso. Amém.



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