DIA 28 TERÇA -Mc 3,31-35
Marcos, no início de seu evangelho,
apresentou a tensão entre “sinagoga”, da qual Jesus se afasta, e “casa”, que
passa a ser o local de reunião das novas comunidades em torno de Jesus.
Vemos nos textos de Mc 3,31-35 que Jesus
se encontra dentro da casa, seus parentes do lado de fora e a multidão está ao
seu redor ouvindo-o. Estão reunidos os discípulos e discípulas em torno de
Jesus, como também as multidões, que são pessoas do povo, capazes de deixar
tudo e seguí-lo: são os aleijados, coxos, pobres, doentes que estão “como
ovelhas sem pastor (Mc 6,34)”.
Participar da casa é participar do
banquete da vida, da aproximação com o outro como espaço de diálogo e
compreensão. Para poder entrar na casa é preciso romper com o sistema de
opressão que há em nossa sociedade, na medida em que faço do outro instrumento
da minha vontade e o coloco em disputa com os demais. A casa é o lugar
apropriado para desenhar a proposta que Jesus deseja anunciar e promover o
sistema de relação social.
“…Um profeta só é desprezado em sua
pátria, em sua parentela e em sua casa” (Mc 6,4) . As pessoas capazes de
compreender a missão de Jesus são aquelas que fazem a experiência d’Ele. Os
mais próximos se afastam diante da missão de Jesus, enquanto os mais distantes
se aproximam d’Ele e de sua missão. Aproximar da missão é encontrar-se dentro
da casa e reconhecer em Jesus a presença do Reino de Deus. É preciso compreender
os gestos e não ter o coração endurecido. Os que estão fora da casa são os
adversários que querem interromper a missão, concordando com uma ideologia que
domina as pessoas e que controla o sistema opressor.
No relato de Marcos 3,20-21 encontramos
que o “estar na casa” é o principal foco e eixo de partida, enquanto que nos
versículos 31-35, o grande eixo é a pergunta: “ quem é minha mãe e meus
irmãos?” Jesus se sente próximo e familiar a todos que se deixam envolver por
seu projeto. O grau de parentesco é como que um título para que se possa fazer
parte da nova comunidade, que requer acima de tudo fidelidade. Enquanto
anteriormente a preocupação da família era a incompreensão da missão de Jesus,
que tinha a família como eixo estrutural, agora Jesus nos diz: “…eis a minha
mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e
mãe”(Mc 3,34-35), procurando derrubar a ordem social e provocar ruptura com sua
família de sangue. “Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de
fora…”(Mc 3,31) enquanto que a multidão se encontra sentada em torno do lado de
Jesus “(Mc 3,32).
Jesus se recusa a aceitar quem não
aceita sua missão !!!
Perante uma atitude de vida incoerente,
na qual o projeto de Deus não é assumido e a discriminação se torna mais forte,
Jesus faz um questionamento: “quem é minha mãe e meus irmãos?” ( Mc 3,33). Se
eles não conseguem aceitar a missão de Jesus, Este também não o reconhece como
parente. É preciso ser obediente a Deus, porque no centro está o ser humano e
suas necessidades. Estar sentado à sua volta é estar atento aos seus
ensinamentos “Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de
nome Marta, o recebeu em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés
do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos
afazeres. Aproximou-se e falou: «Senhor, não te importas que minha irmã me
deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!» O Senhor,
porém, respondeu: «Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas
coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta
não lhe será tirada.»”(Lc 10,38-42). É a unidade em Jesus que se deve fazer
evidente numa opção de vida, numa instauração de uma família, como também na
vida; viver a vida com adesão ao projeto de Deus e na construção de um mundo
novo, no qual a esperança nos mova para frente para podermos chegar “…a uma
terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel”.
O evangelista Marcos nos deixa claro
aqui que o importante é entrar na casa e conversar, dialogar e participar da
vida com o(a) outro(a). Assim, a comunidade do discipulado será a nova família
que queremos formar.
Portanto, as palavras de Jesus
questionando quem é sua mãe e quem são seus irmãos têm o sentido de revelar que
o dom de Deus, nele presente, não se restringe a laços consangüíneos
privilegiados. Jesus substitui estes laços estabelecidos na tradição pelos
laços do amor verdadeiro e sem fronteiras, que vão muito além dos limites de
família ou raça. A verdadeira família é aquela constituída por pessoas que,
fazendo a vontade de Deus, tornam-se discípulas de Jesus. A família
consangüínea, pelo amadurecimento do amor, abre-se e solidariza-se com os mais
excluídos e empobrecidos.
QUANDO JESUS QUESTIONA QUEM É SUA MÃE E QUEM É SEUS IRMÃOS ENTENDO TAMBÉM QUE AQUELES QUE FIZEREM A VONTADE DE DEUS SÃO MEUS IRMÃOS E MINHA MÃE. É PORQUE ELE QUER QUE TODOS SEM EXCEÇÃO FAÇAM COMO SUA FAMÍLIA FAZ.
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