domingo, 22 de dezembro de 2013

"A GRAÇA QUE NOS TORNA LIVRES..." - Diac. José da Cruz

BATISMO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO  12/01/2014
1ªLeitura Isaias 42,1-4.6-7
Salmo 28(29)11b “O Senhor abençoarão seu povo, dando-lhe a paz”
2ªLeitura Atos 10,34-38
Evangelho  Mateus3.13-17
                      

Já ouvi muitos debates calorosos, inclusive na aula de teologia, sobre o Batismo de João, que tinha um caráter penitencial. Claro que se trata de um rito iniciático, para os que querem mudar de vida, diante da vinda do Reino de Deus, ou do Messias, como se falava mais por aqueles tempos.
Entretanto, não podemos hoje ignorar o significado desse Batismo penitencial, que até o próprio Jesus recebeu. O texto de São Mateus, no diálogo entre João e Jesus, se apressa em dizer que Jesus não tinha necessidade de receber esse Batismo já que Nele não há pecado e nenhuma imperfeição que precise ser purificada. A necessidade de uma conversão, colocada por João, como condição para receber o Batismo, nos faz pensar na situação de pais e padrinhos que levam as crianças para receberem esse Sacramento.
As discussões em torno dos efeitos da graça de Deus, que o Batismo confere a cada criança, são sempre acirradas, se entendermos que a Graça por si realiza a Salvação, corre-se sempre o risco de tirar dos pais, padrinhos e da própria comunidade o compromisso do testemunho da Fé, imprescindível para o Batismo. Se por outro lado, jogarmos todo peso da responsabilidade sobre os pais e padrinhos, exigindo deles uma vida santa e fiel á Palavra de Deus e á Santa Igreja, estaríamos sendo incoerentes, pois sabemos que a grande maioria de pais e padrinhos que procuram a igreja, muitos nem tiveram ainda uma experiência querigmática com Jesus. Conheci padrinhos que logo após o Batismo, deixaram a Igreja Católica indo para outra, levando consigo os pais e a criança que recebeu o Santo Batismo. Conheci jovens, que receberam o Batismo, o Crisma e depois, simplesmente mudaram de igreja, por influência de outras pessoas. Essa estatística, se levada a sério, é muito relevante e mostra que a nossa catequese de um modo geral, não desperta nos catequizados esse desejo interior de ter a vida transformada pelo Santo Evangelho.
Claro que a Graça de Deus supõe a natureza humana, como diz um grande Santo e Teólogo da Igreja São Tomas de Aquino, isso significa dizer que Deus quer ardentemente entrar na nossa vida, para viver conosco uma comunhão santificante, processo que se inicia com o Batismo.
Poderíamos dizer, que a natureza humana, depois do pecado original, permaneceu íntegra com relação á sua essência, mas perdeu o seu ordenamento natural ao bem que, quanto ao seu fim último, é a felicidade humana que consiste em ver Deus face a face, portanto, a dimensão essencial do ser homem, permanece, mas a dimensão do operar, que é o agir humano, com relação ao seu fim próprio, foi perdida. Com o pecado o homem não deixou de ser homem, mas perdeu a capacidade de agir como homem, segundo o fim para o qual foi criado. O Batismo resgata pela graça esse “direcionamento” para o bem, e isso, logicamente requer uma atitude interior de acolhimento, daí a importância testemunho de vida em família:
Como vou convencer meu filho ou afilhado, ainda em desenvolvimento, que a Graça de Deus e a Vida de Fé, vivida em comunidade, me faz feliz e transforma a minha vida na relação com as pessoas? Como posso querer que o meu filho saboreie esse “Manjar” da Santidade de Deus dada na graça do Batismo, se eu mesmo ainda não experimentei? Como posso desejar que meu filho saboreie a doce uva da misericórdia e do amor do Pai, se a minha vida de Pai ou de Mãe, de Padrinho ou de Madrinha, reflete sempre uvas azedas e amargas, das discórdias, das intrigas, das inimizades, da falta de amor á família e a comunidade da Igreja? Claro que a criança não vai “engolir” tudo isso.
Há quem confunda o Batismo com uma espécie de “freio”, ou de submissão forçada á Leis e Doutrinas da Igreja, com isso acentua-se o sentido negativo, agora que sou batizado, não posso mais fazer isso ou aquilo, Batismo desse jeito não é Cristão, porque a primeira ação do amor de Deus em nossa vida é precisamente a Liberdade. No Batismo de Jesus, todo homem se torna uma nova criatura, Filho de Deus, senhor da sua vida e da sua história, livre para trilhar o próprio caminho, sempre percebendo com os olhos da Fé a Vontade de Deus. Fazer em nossa vida a vontade de Deus não é ser escravo, mas agir com Ele, a Graça presente em nossa vida torna isso possível.
Mas há no Batismo de Jesus um elemento novo que o Batismo de João não dava: os céus se abriram e desceu sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. Por isso João irá dizer que Jesus irá Batizar no fogo do Espírito, o Batismo de João é um sinal, uma lavagem exterior, uma ante-sala do que virá depois, o desejo de conversão e mudança de vida, é uma disposição interior em acolher esse Espírito de Deus que quer entrar em nós, e que de fato entra, pelo ritual do Santo Batismo, nos purificando da mancha original, e conferindo-nos a liberdade de Filhos e Filhas de Deus.
Nesse domingo do Batismo do Senhor, lembremo-nos do nosso Batismo, e renovemos com alegria e fidelidade nossos compromissos batismais, e o mais importante, que ouçamos em nossas entranhas a voz amorosa do Pai, dizendo-nos em Jesus “Este é meu Filho muito amado, em quem ponho minha afeição”.

José da Cruz é Diácono da 

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