terça-feira, 24 de setembro de 2013

Tu recebeste teus bens durante a vida, e Lázaro os males... -Claretianos


29 de Setembro
Domingo, 29 de setembro de 2013
26º Domingo do Tempo Comum
São Miguel, São Gabriel e São Rafael, Arcanjos.
Outros Santos do Dia: Dadas, Casdoé e Gabdélas (militares, mártires da Pérsia), Êutico, Plauto e Heracléia (mártires da Trácia), Fraterno de Auxérre (bispo, mártir), Grimaldo de Pontecorço (presbítero), Gudélia (martirizada na Pérsia), Ripsimes e suas companheiras (virgens, mártires da Armênia).
Primeira leitura: Amós 6,1a.4-7 
Agora o bando dos gozadores será desfeito.  
Salmo responsorial: 145, 7-10 
Bendize, minha alma, e louva ao Senhor!  
Segunda leitura: 1 Timóteo 6, 11-16  
Guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até a manifestação gloriosa do Senhor. 
Evangelho: Lucas 16, 19-31  
Tu recebeste teus bens durante a vida, e Lázaro os males; agora ele encontra aqui consolo, e tu és atormentado.
O profeta Amós denuncia as injustiças dos poderosos que viviam no luxo e em banquetes e não se afligiam pelo desastre ou ruína de José. Esta é uma denominação das tribos do Norte (Israel). Tal indiferença denota uma vez mais a cegueira dos que se sentem seguros, sem ter em conta as advertências feitas pelo profeta. Para este, o cominho era o cativeiro, estes notáveis irão à frente dos deportados.
Paulo exorta seu amigo Timóteo que permaneça sempre firme em sua fé, em busca da justiça, da piedade e da caridade. Tendo em conta o chamado de atenção de Paulo no versículo 10, onde afirma que a raiz de todos os males é o afã pelo dinheiro e alguns por deixar-se levar por ele, se extraviaram da fé e foram atormentados com muitos sofrimentos, em seguida vem a outra exortação ao discípulo que fugia destas coisas e o chamado a viver os valores do Reino. Paulo convida a Timoteo a que conserve o mandamento do Senhor, que se mantenha firme em seu compromisso e busque sempre a vida eterna à qual foi chamado e à qual fez profissão solene diante de muitas testemunhas.
O nome Lázaro era derivado do hebreu el ´azar que significa = Deus ajuda, ainda que em vida, ao que parece, não tenha gozado da ajuda divina. Lamentavelmente, como sorte teve a mendicância, como a tantos milhões de seres humanos hoje, prostrados no portal da casa de um rico sem nome, um de tantos ao que tradicionalmente se qualifica de banqueteador.
Lázaro, Deus ajuda, tinha na realidade poucas aspirações: contentava-se em encher o estomago com o que caía da mesa do rico, as migalhas de pão nas quais os senhores se limpavam as mãos a modo de guardanapos. Porém, nem sequer isto conseguia, pois ninguém o deixava entrar na sala do banquete. Para cúmulo, os cachorros da rua, animais considerados impuros e em estado semi-selvagem, tão comuns na antiguidade, se aproximavam para lamber-lhe as chagas. Impossível maior marginalização: pobreza e impureza se dão as mãos.
Ninguém, diz o evangelho, lhes dá crédito religioso a este homem, com razão de sobra para duvidar seriamente da reconhecida compaixão divina para com o pobre e oprimido. Talvez nem sequer tivesse tempo nem vontade para parar e pensar em semelhantes problemas teológicos. Tanto ao rico como ao pobre chegou a hora da morte, a partir da qual houve uma mudança na vida de ambos.
Diga-se de passagem, com este “mais além” fazia-se da religião um baluarte do conservadorismo e do imobilismo. Era um convite à resignação, chamada de “cristã”, à paciência e à manutenção de situações injustas; nesse “mais além”, dizia-se, Deus dará a cada um o que merece. Ainda que sempre seja possível pensar: e por que não já neste mundo?
Para muitos pregadores, satisfeitos com a imagem de um Deus que “premia os bons e castiga os maus”, como o deus que professavam os fariseus, a parábola termina no mais além contemplando o triunfo do pobre e a queda do rico. Apenas se comentava a última cena da narrativa, chave importante para compreender a mensagem.
Por ser assim, essa parábola seria um convite à aceitação da própria situação, à resignação. Carregar a própria cruz, não rebelar-se contra a injustiça, esperar um “mais além” no qual Deus arrume todos os desarranjos e desmedidas humanas. Entendida assim, a mensagem evangélica se irmana a um conformismo conservador que ajuda a manter a desordem estabelecida, a injustiça humana e as classes sociais em confronto.
Porém, a parábola não é uma promessa para o futuro. Vê a vida presente e a dirige aos cinco irmãos do rico, que continuavam – depois da morte de seu irmão e de Lázaro – na abundancia e no desperdício. Por isso, o rico, alarmado pela sorte de seus irmãos, se continuassem vivendo de costas aos pobres – pede a Abraão que envie Lázaro à sua casa, a seus irmãos, para que os previna, não aconteça que acabem no mesmo lugar de tormento. Para mudar a situação em que vivem seus irmãos, o rico pensa que precisa de um milagre: que um morto retorne à vida. Puro realismo de quem conhece a dinâmica do dinheiro, que fecha o coração humano e a evidencia da palavra profética, a dor e o sofrimento do pobre, a exigência da justiça, do amor e inclusive da voz de Deus. O dinheiro desumaniza.
Bem sabia o profeta Amós quando ameaçava os ricos que se deitavam em leitos de marfim, refestelados em divãs e vivendo à solta entre comilanças, música, vinho abundante e perfumes exóticos, sem dar atenção à dor e ao sofrimento dos pobres (Am 6,1ª.4-5). Esses abastados fingiam devoção a Deus e veneração para com a cidade santa e o templo, crendo deste modo contentar a Deus e ficar justificados.
Porém, o verdadeiro Deus não é amigo de uma religião que separa o culto da vida, o incenso da prática do amor ao próximo. Este Deus, segundo o livro do Deuteronômio, partilha a sorte com o pobre, o órfão, a viúva e o estrangeiro, e com todos aqueles que foram subtraídos pelos poderosos do direito a uma vida com dignidade.
Oração: Ó Deus, Pai e Mãe universal, que nos deste a sensibilidade peculiar de perceber um valor absoluto e espiritual à justiça, ao amor, à opção pela libertação de tudo que oprime. Ajuda-nos a manter sempre um coração agradecido, neste dom e nesta corrente espiritual, sabendo sempre abrir-nos às outras sensibilidades espirituais que tu mesmo suscitaste na humanidade. Por isso te agradecemos por Jesus de Nazaré, filho teu e irmão nosso. Amém.


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