quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Deixaram tudo e o seguiram. Padre Queiroz

5 de Setembro - Quinta - Lc 5,1-11

Deixaram tudo e o seguiram.
Este Evangelho narra o chamado por Jesus dos três primeiros apóstolos: Pedro e os dois irmãos Tiago de João. No texto aparecem os três passos da vocação, que sempre aparecem na Bíblia:
1) O espanto e o assombro do homem, quando se vê em contato com Deus.
2) A missão concreta confiada por Deus ao homem. A iniciativa da vocação sempre parte de Deus.
3) A resposta incondicional dos vocacionados ao chamado de Deus.
O objetivo da vocação, o “para quê”, que é a missão, é sempre o seguimento de Cristo de uma forma concreta. O chamado à fé, ao batismo, à crisma, à eucaristia, à vida em Comunidade e à santidade são dimensões universais que estão em todas as vocações. Os outros aspectos são específicos, isto é, podem haver para um e não para outro. É o Corpo Místico de Cristo, do qual cada um de nós é um membro diferente e com função diferente. Todos os batizados têm, além da vocação universal, uma vocação específica, assim como todos os membros do corpo têm uma função própria. Podemos comparar também com um time de futebol, no qual o juiz não aceita dentro de campo alguém que não tenha uma posição definida. Como é importante nós acertarmos os passos nos aspectos gerais da vocação e procurarmos descobrir e seguir a nossa vocação específica!
Há uma continuidade entre aquilo que o cristão fazia e a missão que recebe. Os três eram pescadores, tornaram-se pescadores de homens. Assim, na vocação não acontece ruptura ou diferença muito grande entre o que a pessoa já fazia e a missão que recebe.
“Avança para águas mais profundas”. Para nós significa um avanço nos nossos métodos e atividades na Igreja. Aqui na margem já não dá mais peixe, por isso precisamos avançar. Métodos que no passado davam resultado, hoje podem não dar mais.
“Não tenhas medo”. Avançar para águas mais profundas nos dá medo. Medo de não dar certo, medo de deixar aquilo que estamos acostumados a fazer e iniciar algo novo, medo de afundar... Mas, como disse Pedro, “em atenção à tua palavra”, vou avançar.
Como é importante a virtude da esperança! É ela que nos leva a dar um passo à frente. O povo fala: “A esperança é a última que morre”. A esperança é uma virtude que dinamiza todas as outras virtudes. Podemos perder qualquer virtude, mas que nunca percamos a esperança, pois ela nos leva a continuar na luta, ainda que tudo ao nosso redor diga “não”.
Quando Jesus pediu que avançassem para águas mais profundas, Pedro reagiu: “Senhor, trabalhamos a noite inteira e nada pescamos! Jesus podia ter respondido: Por isso mesmo. Do jeito que vocês estão fazendo, não dá mais peixe. Que bom se nós obedecermos a Deus e dermos um passo à frente, baseados na Palavra dele.
“Deixaram tudo e seguiram a Jesus”. Essa é a última etapa da vocação. O chamado de Deus sempre implica em jogarmos de corpo e alma ao seguimento dele, deixando tudo o mais. Depois, como Jesus prometeu, ganharemos cem vezes mais tudo o que deixamos. Deus não aceita dividir espaço com outros “deuses” ou apegos nossos. Ele nos quer por inteiro, pois estaremos em boas mãos e não nos vai faltar nada.
Seria interessante nós hoje nos colocarmos diante de Deus em oração e procurarmos responder: Que tipo de cristão sou eu? Será que somos como Pedro, Tiago e João que, em obediência à palavra de Jesus, avançaram para águas mais profundas? Se o formos, com certeza veremos um resultado tão surpreendente que ficaremos espantados.
Havia, certa vez, um homem que tinha um enorme medo de rato. Tanto que começou a pedir a Deus que fosse transformado em um rato. Deus atendeu ao seu pedido e o transformou em rato. Mas agora, como rato, ele passou a ter medo de gato. Morria de medo de gato. Pediu novamente para Deus e este o transformou em um gato. Agora sim, pensou. Mas logo surgiu o medo de cachorro. Não podia nem pensar em cachorro. Nova prece, novo atendimento. Foi transformado em um cachorro. Entretanto, o problema continuou. Agora ele tinha medo de onça. Só pensava em onça e nem conseguia dormir. Mais uma vez a prece e a resposta positiva de Deus. Foi transformado em onça. Mas agora o seu medo era de homem, pois este, com sua arma, pode matar a onça. Vivia tremendo de medo dos homens. Pediu desculpas a Deus e lhe disse que queria voltar a ser homem.
Para atendermos ao chamado de Cristo para avançar em direção a águas mais profundas, não podemos ter medo. “Não tenhais medo”, disse Jesus. O medo é, às vezes, algo subjetivo e denota falta de fé. Quanto mais fé, menos medo nós teremos. Ter fé, no fundo, é ter coragem.
Maria Santíssima foi a cristã que deu a melhor resposta vocacional do mundo. Ninguém a superou, nem Abraão, nem Isaías, nem Ester, nem os Apóstolos. Maria do “sim”, rogai por nós.
Deixaram tudo e o seguiram.


Padre Queiroz

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