21 de janeiro
Mc 2,18-22
O noivo está com eles.
Este Evangelho começa com uma pergunta
feita a Jesus, por que os seus discípulos não jejuam, e a resposta dele: “Os
convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo
está com eles?” Em seguida, Jesus esclarece ainda mais, através de duas
comparações: do remendo de pano novo em roupa velha, e do vinho novo colocado
em odres velhos.
Para os judeus, o jejum era prática
fundamental da religião, ao ponto de os mais piedosos jejuarem até duas vezes
por semana, a fim de acelerar a chegada do Messias e do Reino de Deus. Já os
discípulos de Jesus pouco jejuavam; mais ou menos como fazemos hoje.
Jesus explica o motivo da diferença:
durante uma festa de casamento, os amigos dos noivos evidentemente não jejuam,
enquanto os noivos estão com eles. Jesus é o noivo, no casamento de Deus com a
humanidade, com o novo Povo de Deus. Jesus usa a imagem vetero testamentária
dos esponsais de Deus com o povo. E se coloca como Deus, como realmente é.
“Mas vai chegar o tempo em que o noivo
será tirado do meio deles; aí, então, eles vão jejuar.” Isto é, sofrerão
perseguições e dificuldades, tristeza e desolação.
E Jesus esclarece com as duas
comparações, curtas e claras: ninguém põe remendo de pano novo numa roupa
velha, porque a peça nova repuxa e rasga a roupa, deixando a rasgão ainda
maior. Igualmente, ninguém põe vinho novo em odres velhos, porque o vinho novo
ainda está em processo de fermentação e estoura os odres velhos que são mais
fracos.
As parábolas sublinham a
incompatibilidade da nova situação religiosa criada por Jesus, com as velhas
instituições e prescrições da religião judaica, representadas, aqui, na prática
do jejum. Jesus não veio mudar só a “casca” do velho estilo religioso, veio
mudar profunda e radicalmente. Não é possível “costurar” a religião judaica com
a cristã; a única saída é deixar de lado a religião judaica e abraçar de corpo
e alma a Boa Nova de Jesus.
De fato, Cristo não se empenhou em
reformar a sinagoga e o velho culto. Antes, fundou o novo Povo de Deus, que é a
Santa Igreja. Isto é bem esclarecido por Jesus em Mt 5,20-6,18: “Ouvistes o que
foi dito aos antigos... Eu, porém vos digo...” A religião de Jesus está
fundamentada mais no coração da pessoa do que na obediência às leis exteriores.
A sua lei é o amor, a fraternidade, a justiça, a fé... virtudes que cada um de
nós concretiza no dia-a-dia da vida. O novo Templo é a sua pessoa e a
Comunidade cristã. “Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito
de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16). Frente aos sacrifícios de animais da
antiga aliança, surge o novo sacrifício de si mesmo, realizado na cruz e
atualizado constantemente na Eucaristia e na vida dos cristãos.
Temos de nos deixar transformar pelo
Espírito, que nos transforma em vinho novo, para alegria de Deus e vida do mundo.
“Todo mundo sabe que sois uma carta de
Cristo, redigida por nosso intermédio, escrita não com tinta, mas com o
Espírito de Deus vivo gravado não em tábuas de pedra, mas em tábuas que são
corações humanos” (2Cor 2,3).
S. Bernardo era um monge que viveu na
França, no Séc. XII. Sua mãe faleceu cedo, ficando o pai com sete filhos.
Quando Bernardo era adolescente, foi
para o convento. Logo os irmãos começaram a ir também.
Por fim, sobrou o pai e o mais novo,
chamado Nivaldo. Um dia, o pai disse para o Nivaldo: “Filho, eu estou com
vontade de ir também para o convento. Por isso, eu deixo de presente para você
todos os nossos bens: esta casa com tudo o que está dentro dela, as nossas
terras... tudo. Concorda?”
Nivaldo respondeu: “Bonito, hein pai!
Vocês escolhem o céu e deixam a terra para mim? Querias! Eu também vou. O
senhor pode dar fim em tudo isso”. De fato, Nivaldo tinha razão, porque o Céu é
mais importante que a terra.
“Aí, então, eles vão jejuar.” O nosso
jejum principal é a prática das virtudes cristãs, inclusive o desapego dos bens
da terra, como Nivaldo.
Como Jesus disse para Marta: “Marta,
Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é
necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc
10,41-42).
Que Maria Santíssima nos ajude a
abandonar o homem velho e nos deixar embriagar pelo vinho novo que é a Boa Nova
de Jesus.
O noivo está com eles.
Padre Queiroz
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