A vossa libertação
está próxima.
Neste Evangelho, do
primeiro domingo do advento, Jesus nos fala mais uma vez do final dos tempos, e
usa uma linguagem própria do estilo bíblico que se denomina “apocalíptica”.
Nesse gênero literário não se dá valor a cada pormenor, mas à mensagem global.
E a mensagem do Evangelho de hoje é de que este mundo não é eterno, ele terá um
fim, tal como a humanidade, a quem Deus oferece a salvação por meio de Cristo.
O Evangelho contém
uma secção descritiva e outra exortativa. A descritiva tem como centro a frase
de Jesus: “A vossa libertação está próxima”. A exortativa chama a nossa atenção
para a necessidade da vigilância: “Tomai cuidado para que vossos corações não
fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida,
e esse dia não caia de repente sobre vós”.
O homem é um ser
que espera. Não podemos viver sem esperança. A humanidade avança graças à
esperança. É a esperança que dá força a todos nós nos momentos difíceis.
Muitas pessoas,
especialmente políticos, criam falsas esperanças no povo. Mas nenhum sistema
político-econômico consegue dar uma explicação satisfatória às grandes
inquietações do ser humano, que são a vida, a morte, o sofrimento...
Para nós cristãos,
todas as nossas esperanças se convergem na nossa maior esperança que é Jesus
Cristo, o qual nos leva para o Reino de Deus, que é uma realidade ao mesmo
tempo atual e futura. Cristo é a pedra angular sobre a qual se constrói o
edifício da libertação humana. Por isso, “levantai-vos e erguei a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima”. O advento de Jesus e da salvação por
ele trazida não são somente para o além, mas para este momento que nos calhou
viver. Cabe a nós fazer o mesmo que fez o cego de Jericó que, ao ouvir que
Jesus estava passando, jogou o manto e foi ao encontro dele. Esta resposta
pronta e decidida se concretiza em deixarmos o homem velho e nos revestirmos do
novo, que tem Cristo como modelo.
Da esperança nasce
o amor, o qual se transforma em justiça, em fraternidade, em perdão, em paz...
Aí está presente o Reino de Deus. Mas para isso precisamos estar atentos às
três ameaças à esperança, citadas por Jesus: a embriaguês, o dinheiro e o
prazer. São apenas três manifestações do extenso campo do mal alojado em nós.
Por outro lado, a
esperança é fruto da oração, pela qual abrimos a porta do nosso coração para
Deus entrar e agir.
A vigilância do
advento é para nós uma fonte de enriquecimento das virtudes, que nos preparam
para o Natal.
“Senhor,
concedei-nos o ardente desejo de possuir o reino celeste” (Oração da Missa de
hoje).
No advento nós
celebramos a primeira vinda de Jesus, mas ao mesmo tempo nos lembramos de que
ele virá uma segunda vez, não mais na aparente fraqueza, mas como nosso rei e
juiz. Que estejamos preparados!
Certa vez, um homem
riquíssimo estava morrendo. Seu filho estava ao lado dele, junto à cama. O
homem, em seus últimos momentos, falou: “Filho, segure minha mão”. Ele a pegou,
enquanto seu pai continuava: “Filho, você está segurando a mão do homem que se
tornou o maior dos fracassos dentre todos os homens deste mundo.” Seu filho
retrucou: “Pai, por que o senhor fala assim? O senhor é o presidente de uma das
maiores empresas, além de dezenas de outras propriedades. O senhor tem milhares
de amigos.”
Então ele
respondeu: “Eu vivi por um tempo e não para a eternidade. Eu não me preparei
para o momento vindouro. Tudo o que eu tenho, eu vou deixar aqui. Tudo é muito
escuro e frio.”
Logo depois ele
morreu, com um semblante triste. Ele era, de fato, um homem fracassado.
Nós costumamos
medir o sucesso de uma pessoa pelos bens que ela possui. Se os tem em
abundância, julgamos ser uma pessoa bem sucedida. Se não apresenta nenhum
patrimônio. Logo a taxamos de fracassada. Mas o sucesso ou fracasso não está na
quantidade de bens que possuímos, mas na nossa preparação para a vida eterna.
“O ser humano é como um sopro; seus dias, uma sombra que passa” (Sl 144,4).
Maria santíssima
ocupa um lugar de destaque no advento. Ninguém viveu melhor do que ela a espera
do redentor, inclusive fisicamente, pois ela o trazia em seu ventre. Sua figura
ilumina o advento, transbordando ao mesmo tempo alegria, esperança e
vigilância. Que seu exemplo nos ajude neste novo tempo litúrgico.
A vossa libertação
está próxima.
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