Dia 24 de novembro
Lc 20,27-40
Padre Antonio Queiroz
Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.
Neste Evangelho, nós temos a cena dos saduceus apresentando a
Jesus o caso da mulher de sete maridos, como um argumento contrário à
ressurreição dos mortos.
Mas eles entendiam errado a ressurreição; pensavam que os que acreditam
nela afirmam que no céu nós viveríamos igualzinho aqui na terra, isto é,
teríamos de comer, de beber, de dormir, teríamos também o casamento...
Jesus explica que, após a nossa morte, o nosso corpo será glorificado;
não morreremos, mais e seremos iguais aos anjos. Os homens não terão esposas
nem as mulheres terão maridos.
Nós não sabemos em detalhes como será a nossa vida após a morte, e nem
precisamos saber agora. Basta conhecermos o caminho para chegarmos ao Céu, que
é Jesus e o seu Evangelho, presentes na Igreja.
Quando participamos da Santa Missa, ou rezamos o terço, nós dizemos, na
profissão de fé: “Creio na ressurreição da carne”. O Prefácio da Missa dos
mortos diz assim: “Com a morte, a vida não é tirada, mas transformada. Desfeito
o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus um corpo imperecível”. Não será outro
corpo, será este mesmo que temos, mas transformado, glorificado.
Jesus falava que ia ressuscitar (Cf Mc 8,31ss; 9,31ss), e sempre pregava
que todos nós ressuscitaremos. Como é bom saber que a nossa vida é eterna, que
tivemos um começo, mas não teremos fim! A fé na ressurreição nos dá forças para
enfrentar as dificuldades, e até o risco de vida. Os homens podem matar o
corpo, mas a alma, nunca.
Jesus ressuscitou algumas pessoas (Lázaro, o filho da viúva de Naim...)
para nos mostrar que tem poder e conhecimento sobre a vida após a morte. Apesar
de esses milagres terem sido completamente diferentes da ressurreição dele e
nossa, pois Lázaro e o filho da viúva simplesmente retornaram à vida terrena e
mortal. Mas os milagres valeram para provar o poder de Jesus sobre a morte e
sobre o que acontece depois.
Jesus, com a sua ressurreição, derrotou a morte. Ela continua existindo,
mas perdeu a sua força. “A morte foi tragada pela vida; onde está, ó morte, a
tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Cor 15,54-55). Isso nos dá
uma alegria e uma coragem invencíveis!
Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. Toda a Bíblia apresenta Deus
como Deus da vida, e que faz do homem e da mulher seus amigos, como fez com os
três citados por Jesus: Abraão, Isac e Jacó. Se Deus fez aliança com eles,
podia deixá-los desaparecerem para sempre? Nunca! Esse é o argumento de Jesus.
A ressurreição foi sendo revelada aos poucos. No começo, o Povo de Deus
não conhecia essa verdade. Mas tinha uma vaga consciência dela, baseado
justamente no argumento acima: Deus ama o ser humano, quer que ele ou ela viva
e não desapareça, e pode fazer isso. Portanto o faz.
Por isso que exageravam a duração da vida dos justos, por exemplo, de
Matusalém, que viveu 969 anos (Cf Gn 5,27). Jesus veio e revelou a verdade
completa: Deus não só prolonga a vida humana, ele a tornou eterna. “Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá eternamente”.
“Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância.” Uma vida
em abundância não pode acabar logo. Na luta pela vida, nós descobrimos o rosto
de Deus, pois ele é o Deus da vida, o Deus que quer vida, e vida plena para
todos.
A ressurreição nossa é obra de Deus, fruto do seu poder. É ele que nos
tomará e nos transformará. O mesmo Deus que um dia nos criou, nos recriará. A
ciência não consegue entender nem explicar esse mistério. Ele é sobrenatural. O
livro de Jó é um argumento a favor da ressurreição. Esse livro mostra que a
ressurreição é um mistério, mas sem ela a vida seria um absurdo.
A nossa melhor atitude diante das realidades futuras é jogar-nos nas
mãos de Deus, como fez Jesus, antes de morrer: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito”. Nós não sabemos como será, mas Deus, nosso bom Pai, sabe, e isso nos
basta.
Como que é gratificante saber que vamos ressuscitar! Saber que Deus nos
ama tanto, que nos criou eternos! Ele não quer separar-se de nós nunca. “Tu não
me abandonarás no túmulo, e viverei à tua direita para sempre” (Sl 16).
Entretanto, a fé na ressurreição nos leva a sermos prudentes e
vigilantes, pois não sabemos o dia nem a hora. "O que adianta a alguém
ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?" (Mt 16,26). “Não
ajunteis para vós tesouros na terra” (Mt 6,19).
Certa vez, a muitos anos atrás, um operário e um cavaleiro se
encontraram numa estação de trem. Os dois se apresentaram, conversaram e
compraram as passagens na mesma cabine, porque aquele trem tinha cabines para
duas pessoas. O trem chegou e eles embarcaram.
Na estação seguinte, entrou também um padre. Ao verem o padre passar no
corredor, o cavaleiro comentou, com um ar de desprezo: “Para que serve um
padre?” Como quem diz: O padre não serve para nada.
O operário não respondeu. Lá na frente, quando o trem atravessava uma
grande floresta, o operário disse ao cavaleiro: “Estamos sós. Ninguém nos vê
nem nos ouve. O que você faria se eu o estrangulasse agora, lhe tomasse todo o
seu dinheiro e, aproveitando uma curva, pulasse esta janela?”
Pálido de medo, o cavaleiro respondeu: “Você se engana, eu não trago
dinheiro comigo”. “Mentira” retrucou o operário. “Você tem aí trinta mil Reais.
Eu o vi pegar no banco.”
“Você cometeria dois crimes: homicídio e roubo”, disse o cavaleiro.
“Homicídio e roubo nada significam para quem não crê em Deus. Se eu
pensasse como você, e não fizesse isso agora, eu seria um bobo. Mas você não
tenha medo, porque eu fui educado por padres, e eles me ensinaram os dez
mandamentos: não furtar, não matar etc. E me ensinaram que existe uma vida
eterna após a morte, com o Céu para os bons e o inferno para os maus. Entendeu
agora para que serve o padre?”
Certamente aquele cavaleiro até se esqueceu do cavalo!
A nossa vida não termina na morte, por isso vamos preparar-nos bem para
o que vem depois!
A ressurreição é o prêmio de Deus aos justos. Maria Santíssima era tão
santa que foi elevada por Deus ao céu em corpo e alma. Que ela nos ajude a
vivermos de acordo com essa gratificante verdade da ressurreição.
Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.
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