QUARTA-FEIRA - 29
DE AGOSTO
Mc 6,17-29
Quero que me dês
agora, num prato, a cabeça de João Batista.
Hoje nós celebramos
a memória do martírio de S. João Batista. O Evangelho narra o fato. Ele é o
protótipo do profeta, o homem possuído totalmente pela missão de pregar a
Palavra, de anunciar aos homens a vontade divina. Nada pode demovê-lo desta
missão ou intimidá-lo.
O próprio Jesus
disse a respeito de João: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo
vento?... Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem
está escrito: Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu
caminho diante de ti” (Mt 11,7-10).
A missão de João
Batista foi a de precursor do Messias; ele deu testemunho de Cristo pelas altas
virtudes, pelas rigorosas penitências, pela palavra vigorosa em denunciar os
vícios, as injustiças, animando a sociedade judaica a converter-se a Deus na
sinceridade do coração.
À frente do governo
da Galiléia estava Herodes Antipas, filho daquele Herodes, chamado o Grande,
criminoso e déspota, que viveu no tempo do nascimento de Cristo.
Herodes Antipas
vivia escandalosamente com a própria cunhada, esposa de seu irmão Filipe. Essa
união ilícita era motivo de grande escândalo no meio judaico. Ainda mais que
naquele tempo o povo procurava imitar o rei e a rainha em tudo.
E não havia quem se
sentisse com coragem de censurar o monarca. João Batista não podia, como
profeta, ficar omisso, e declarou publicamente e com toda franqueza: “Não te é
lícito viver com a mulher de teu irmão”.
Herodíades, a
mulher escandalosa, não aturou essa censura, e queria vingar-se. Conseguira que
Herodes mandasse encarcerar João Batista, apesar de o monarca lhe dedicar
grande veneração. Agora, ela leva a cabo a sua vingança.
“João era a lâmpada
que iluminava com sua chama ardente, e vós gostastes, por um tempo, de
alegrar-vos com a sua luz” (Jo 5,35).
Muita gente pensa
que as faltas sexuais não têm maior importância, e pouco têm a ver com a
salvação da humanidade. A Bíblia, ao contrário, nos mostra que não se dá um
passo adiante, senão com homens e mulheres responsáveis, que são capazes de
colocar o sexo a serviço do amor, em vez de se deixar escravizar por seus
instintos.
Por isso, João
Batista não podia falar de justiça, sem recordar os compromissos do matrimônio;
e, como profeta, devia colocar o rei Herodes igual a qualquer cidadão.
Nós somos convidados
a imitar João Batista, e falando a verdade, mesmo que, com essa fala, possamos
atingir pessoas poderosas que vão depois nos dar o troco.
O mundo continua
não suportando a verdade, porque vive na mentira e na corrupção. E nós
cristãos, muitas vezes, “fechamos um olho” porque temos medo de perder cargos,
oportunidades, a vida. Se um dia você estiver, em nome de Cristo, anunciando a
justiça e a verdade, e for por isso atacado por alguém, alegre-se, porque você
foi premiado com uma bem-aventurança: “Felizes os que são perseguidos por causa
da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,10).
Certa vez, uma
senhora bem idosa teve um sonho. Ela sonhou que havia morrido e estava na porta
do céu, esperando. Havia várias almas lá, todas em fila. De repente S. Pedro
chegou e abriu a porta do céu. Então a senhora olhou para dentro e viu uma
infinidade de velas. Umas acesas, outras apagadas, algumas já estavam quase no
fim e outras no começo. Umas estavam se apagando e outras tinham a chama grande
e bonita.
A senhora perguntou
para S. Pedro que velas eram aquelas. Ele respondeu: “São as velas que cada um
recebeu no dia do seu batismo. Uns cuidam bem, outros não cuidam e até a deixam
apagar. A situação é esta que a senhora está vendo”.
A mulher então
perguntou: “S. Pedro, e a minha está aí?” “Está sim” – disse S. Pedro – é
aquela ali”. Era uma vela que estava já no toquinho, mas ainda acesa. E S.
Pedro continuou: “Depois que a pessoa entra aqui, este fogo da sua vela se
junta com a luz de Deus que ilumina todo céu”.
Resta saber como
está a nossa vela! “Vós sois a luz do mundo”. Todos somos profetas, e o profeta
deve ser como João Batista: a luz de Deus deve brilhar forte através de nós,
anunciando a justiça e denunciando as injustiças pecados, sem medo das
conseqüências.
Maria Santíssima é
chamada, na Ladainha, de Rainha dos Profetas. Vamos pedir a ela que nos ajude a
sermos também bons e corajosos profetas.
Quero que me dês
agora, num prato, a cabeça de João Batista.
Padre Queiroz
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