QUINTA FEIRA DA 23ª SEMANA DO TC 13/09/2012
1ª Leitura 1 Cor 8,
1b – 7. 11 – 13
Salmo 138 (139) , 24 b “Conduzi-me pelo caminho da
eternidade ó Senhor”
“AMAR OS
INIMIGOS!” – Diac. José da Cruz
Este é um evangelho
daqueles bem desconcertantes, porque em tempo em que se cometem crimes
horrendos que chocam a opinião pública, praticados por bandidos cruéis, há no
coração do povo um sentimento de vingança. Um pouco pela própria natureza
humana, que diante de uma agressão pensa na vingança como forma de punir o
agressor, mas este sentimento é também calcado no coração das pessoas pela
mídia sensacionalista que mistura indignação, ódio e vingança, enfiando tudo
goela abaixo do povo que a toma como uma verdade absoluta sendo que a proposta
é sempre a mesma: eliminar a árvore, porém sem mexer em sua raiz, eliminar o
efeito sem se preocupar com a causa.
“Amai os vossos
inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai
pelos que vos injuriam” Para muitos cristãos este evangelho é difícil de ser
praticado e então o empurram para baixo do tapete, como fazemos com aquela
“sujeirinha” inoportuna, quando não queremos fazer uma faxina pra valer em
nossa casa. Primeiramente é bom que se esclareça algo muito importante: Jesus
não fez esse ensinamento a toda multidão, mas apenas aos que o ouviam, isto é,
aos seus discípulos, os mesmos para os quais já havia dito no sermão da
planície, a frase revolucionária “Feliz os pobres porque deles é o Reino de Deus”.
Mas afinal de
contas quem é o nosso inimigo? É todo que nos faz ou nos deseja algum tipo de
mal, de pequenas ou de grandes proporções. A inimizade existe em todo lugar,
escola, trabalho, família, vizinhança, esporte, e até em lugar onde ela nunca
deveria existir: na comunidade, entre ministros, agentes pastorais, dirigentes,
coordenadores e obreiros. Diante desse evangelho, imediatamente pensamos nas
situações críticas da sociedade onde assistimos a confronto de classes,
chacinas, extermínios, atos de violência explícita no confronto entre nações.
Então um sentimento de impotência nos domina e achamos que nada há para se
fazer a não ser rezar.
Mas a coisa mais
importante que devemos fazer, de maneira bem prática, é olharmos mais perto,
para o nosso quotidiano onde nos relacionamos com as pessoas. Que sentimentos
alimentamos, com nossos gestos, palavras e atitudes? A quem devemos ouvir e dar
razão: ao mundo que propõe a vingança e o extermínio de quem pratica o mal, ou
ao evangelho de Cristo, que nos ensina o amor, o perdão e a misericórdia?
Jesus não condena
uma pessoa que quer justiça e vingança contra alguém que lhe fez mal. Esta é
uma reação humana, perfeitamente compreensível e natural, de acordo até com um
ensinamento bíblico do Antigo Testamento, de que se deve fazer o bem a quem nos
faz o bem, e o mal a quem nos deseja o mal, é a lei do talião, olho por olho e
dente por dente, fato que acontece com o melhor e mais santo dos cristãos. Somos
homens desta terra, descendentes e Adão e irmão de Caim, que cometeu o primeiro
crime da história ao matar seu próprio irmão Abel por ciúmes e inveja.
Porém, lembra-nos o
apóstolo Paulo na segunda leitura, o Espírito vivificante nos transformou em
Homens celestiais a partir da graça que Jesus nos concedeu, dom imerecido que
nos santifica e nos configura ao próprio Cristo, portanto capacitados para
viver na relação com o próximo, aquele único e verdadeiro amor com o qual Deus
nos ama em seu Filho Jesus.
A proposta desse
jeito novo de se relacionar é apenas para os discípulos do Senhor que hoje são
todos os que crêem e são batizados, vivendo em comunidade com os irmãos e
irmãs. É aí que devemos trabalhar no sentido de superarmos na graça de Deus,
qualquer sentimento de ódio, mágoa ou vingança, contra alguém que nos fez o
mal.
Da comunidade vamos
para a família e desta para o nosso ambiente de trabalho, é isso que Jesus pede
de nós nesse evangelho, pois somente nos exercitando no amor, na misericórdia e
no perdão, com as pessoas com quem convivemos, é que teremos a coragem de
anunciar o evangelho falando o contrário do que o mundo nos ensina.
Somente assim
estaremos sendo Filhos do Altíssimo, imagem e semelhança do Pai de Misericórdia
que em Jesus nos ama, jamais nos tratando segundo as nossas faltas. Na próxima
quarta feira terá início mais uma quaresma, tempo oportuno para reconhecermos
que somos imperfeitos, ainda uma imagem muito distorcida de Deus que é todo
perfeição e santidade. Dado este primeiro passo, a graça transbordante do
Senhor, em um processo dinâmico de conversão, nos configurará a Cristo, imagem
perfeita do Amor de Deus vivido com os irmãos.
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