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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão -Padre Antonio Queiroz




Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão.
Neste Evangelho, Jesus nos fala a respeito da correção fraterna. A Comunidade cristã é o Corpo vivo de Cristo presente na terra. Ela é a presença viva de Jesus no nosso bairro, agindo como luz, sal e fermento, a fim de que todos juntos construamos o Reino de Deus.
Mas a Comunidade é composta de pecadores. Daí a necessidade da correção fraterna. “Eu te coloquei como sentinela... Se eu disser ao ímpio que ele deve morrer, e não lhe falares, advertindo-o a respeito de sua conduta, o ímpio morrerá por própria culpa, mas eu te pedirei contas do seu sangue” (Ez 33,7-8). O modo de Deus agir para corrigir os que erram é através dos próprios cristãos, uns corrigindo os outros. Daí as orientações que Jesus nos deu neste Evangelho. Ele explica com clareza como devemos proceder quando um irmão ou irmã está levando vida errada:
“Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão.” Em particular porque pode acontecer que estávamos enganados ou mal informados. Quantos casos se esclarecem nesses contatos pessoais, e morrem ali mesmo!
“Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas.” O discernimento em grupo é mais objetivo do que a nossa opinião particular. Pode acontecer que essas pessoas que chamamos nos convençam de que a pessoa está certa, e a questão termina ali.
Os nossos julgamentos nem sempre são objetivos. Somos influenciados por muitos fatores, como a simpatia ou antipatia, o estado emocional naquela hora, a desinformação... Por isso que devemos ser humildes e consultar outras pessoas.
Outro motivo para convidar pessoas é que: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”. E com Jesus presente, é claro, tudo funciona melhor. Jesus supõe também que vai haver diálogo, no qual a pessoa que errou terá oportunidade de se explicar. Daí para frente, a decisão, se a pessoa está errada ou não, é grupal e não mais pessoal nossa.
“Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja”. Quer dizer, à coordenação da Comunidade cristã. Isso porque “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. Tudo o que a Igreja faz, Deus assina embaixo.
“Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como um pagão ou um pecador público.” Agora sim, podemos e devemos contar para os membros da Comunidade, que aquela pessoa errou, para que todos saibam distinguir o que é certo e o que é errado. Mas noventa e nove por cento dos casos se resolvem antes de chegar a esse ponto.
Em relação às pessoas que persistem no erro, Jesus não quer que cruzemos os braços. São ovelhas desgarradas que nós devemos sempre procurar, para tentar trazê-las de volta ao rebanho.
O grande problema em relação à correção fraterna é que nós freqüentemente invertemos a ordem desses passos apresentados por Jesus, e começamos pelo último, que é comentar com os outros, antes mesmo de falar com a própria pessoa que errou. Também os comentários muitas vezes são descaridosos, como se conhecêssemos o interior de cada um. “Não julgueis!”
O contrário também acontece: uma pessoa está dando um escândalo, continua participando da Comunidade e ninguém a adverte nem toma providência. Assim, a Comunidade perde o brilho e o povo começa a deixá-la, a começar com os jovens.
Ao corrigir alguém, devemos ser humildes, expressando os nossos sentimentos, de tal modo que a pessoa perceba que estamos querendo o bem dela, e nada mais. Fazendo assim, a pessoa não se sente humilhada e vai até nos agradecer. “Aquele que quer aprender, gosta que lhe digam o que está certo” (Prov 12,1).
“Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado” (Gl 6,1). S. Paulo nos lembra o perigo de a pessoa fazer a nossa cabeça e nós também entrarmos no erro dela.
Devemos também ser compreensivo e paciente com os que erram, não querendo que mudem da noite para o dia. “Eis o meu servo... Ele não quebra o ramo já machucado, não apaga o pavio já fraco de chama. Fielmente promoverá o que é de direito, sem amolecer e sem oprimir” (Is 42,3-4; Mt 12,18-20).
E neste Evangelho Jesus fala: “Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. Veja como é importante a vida em Comunidade! Em outras palavras, Jesus diz: Tudo o que vocês, como Comunidade, fizerem, e as decisões que tomarem, Deus assina embaixo. Por exemplo, se uma pessoa morre legitimamente dentro da Igreja da terra, e em comunhão com ela, é certo que estará eternamente dentro da Igreja celeste, junto com Deus, com seus anjos e santos, inclusive junto com os seus parentes que faleceram também dentro da Igreja.
Uma vez uma pessoa apresentou a seguinte pergunta: “Se um membro da Comunidade está levando uma vida de pecado, mas às escondidas, sem ninguém saber, e morre assim, vai para o céu? Porque morreu dentro da Comunidade!” Resposta: Isso nunca acontece, porque o Espírito Santo assiste à Igreja e não permite. Jesus falou uma vez: “Não há nada de oculto que não venha a ser revelado, e nada de escondido que não venha a ser conhecido” (Mt 10,26). Antes de a pessoa morrer, é certo que a coisa ficará pública. E aí, ou a pessoa se arrepende e muda de vida antes de morrer, ou morre assim, desunida da Igreja da terra.
Podemos observar em volta de nós, quantas pessoas conseguem manter sua vida de pecado em segredo durante bom tempo, mas de repente são pegas em flagrante e a bom estoura, isto é, todo mundo fica sabendo. Ninguém é capaz de citar um caso em que só depois que a pessoa morreu é que o seu pecado foi descoberto pela Comunidade. Nosso Deus é poderoso, sábio e vigilante!
Ao corrigir, apresentemos também à pessoa o seu lado positivo, pois todos temos qualidades e virtudes. Só o diabo é totalmente ruim, assim como só Deus é totalmente bom.
Certa vez, um mestre perguntou aos discípulos: “Como você sabe o momento exato em que termina a noite e começa o dia?” Um discípulo levantou a mão e disse: “É quando, avistando ao longe, consigo distinguir um cão de um carneiro”. O mestre disse que não. Um segundo discípulo respondeu: “É quando consigo diferenciar uma laranjeira de uma mangueira”. E o mestre não se satisfez. Outro discípulo arriscou: “É quando consigo distinguir um boi de um burro”. E o mestre continuou esperando.
Como ninguém mais arriscava uma resposta, ele disse: “Termina a noite e começa o dia quando, olhando para o rosto de alguém, reconhecemos nele o nosso irmão”.
Que bom se na Comunidade cristã todos nos relacionássemos como irmãos e irmãs, inclusive na correção fraterna! “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estou ali, no meio deles”.
A Comunidade cristã tem uma Mãe zelosa para com seus filhos e filhas desgarrados. Com seu jeito de mãe, ela sabe como corrigir. Que ela nos ajude a praticar bem este mandamento de Jesus, da correção fraterna.
Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão.



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