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sábado, 3 de agosto de 2013

Guardai-vos de toda avareza -Claretianos


Domingo, 4 de agosto de 2013
18º Domingo do Tempo Comum
Outros Santos do Dia: Agábio de Verona (bispo), Aristarco de Tessalônica (bispo, mártir), Eleutério de Constantinopla (mártir), Eufrônio de Tours (bispo), Ia e Companheiros (mártires), Protásio de Colônia (mártir), Rainério de Spalatro (monge, bispo, mártir), Tertulino de Roma (presbítero, mártir). 
Primeira leitura: Eclesiastes 1,2;2,21-23
Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes.  
Salmo responsorial: 89(90),3-4.5-6.12-13.14 e 17 (R.1)
Fostes nosso refugio de geração em geração. 
Segunda leitura:
 Colossenses 3,1-5.9-11
Buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. 
Evangelho: Lucas 12,13-21
Guardai-vos de toda avareza
A primeira leitura nos propõe perguntas que uma vez ou outra todos nos fizemos. O Eclesiaste pertence a um grupo dos livros sapienciais. O conceito de “sabedoria” é muito amplo: pode englobar desde a habilidade manual de um artesão até a arte para desenvolvimento pessoal na sociedade, a maturidade intelectual... representa uma atitude de pessoas e povos cuja finalidade é encontrar resposta aos grandes interrogantes e mistérios da existência humana.
Podemos qualificar de contestatario o autor de Eclesiastes. É uma voz ascética e crítica, dissidente frente à tradição sapiencial que confia ilimitadamente nas possibilidades da razão e sabedoria humanas. E o sábio Qohelet é um autor, pelo menos, desconcertante. A pergunta que move toda a reflexão de seu livro é esta: “Que proveito tira o homem de todos as fadigas que busca alcançar sob o sol”? (1,3) e sua resposta é: “Vaidade das vaidades, vazio dos vazios, sem sentido... tudo é vaidade (1,2.17; 2,1.11. 17. 20. 23. 26; 12,8).Este parece ser um livro pouco religioso.
Como propor esse livro aos cristãos como Palavra de Deus, com essa resposta tão materialista, tão pouco otimista? Ou esta outra conclusão: “A felicidade consiste em comer, beber e desfrutar do trabalho de sol a sol, durante os dias que Deus dá ao homem, pois essa é sua recompensa”(5,17), é como se diz vulgarmente: “comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”. Ao longo do livro, o autor recorre a todas as esferas do viver humano: trabalho, riqueza, dor, alegria, decepções, religião, justiça, sabedoria, ignorância, o tempo, a morte... buscando respostas à sua pergunta. Façamos o que for em nossa vida, no final o destino é o mesmo para todos os homens: a morte, o nada!
E a pergunta seria: o que fazemos aqui na terra? Para que viver, trabalhar, lutar, amar, pensar? Por que cuidar da ecologia, da educação, da política e dos direitos humanos? Breve é nossa vida sobre a terra (Sb 2,1), a maior parte dela é fadiga inútil, que passa depressa e voa (Sl 89, 10). A experiencia humana é como “fazer armadilha aos ventos”, uma tarefa inútil e decepcionante. Vem à nossa mente aquela outra frase evangélica: “De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro...?” O leitor segue o autor com fruição pelo caminho da existência humana, pelo devir: por muito que nos afanemos, nada vamos levar...
Na época do desterro foi surgindo e se desenvolvendo a teoria da retribuição pessoal e do destino individual: o povo eleito professava uma doutrina de retribuição coletivista: a bondade ou a maldade de um individuo tinha repercussão no grupo e nos descendentes. No contexto do exílio, estas ideias vão mudando: cada pessoa recebia em vida a recompensa adequada de sua conduta (2Re 14, 5-6; Jer 31, 29-30; Ez 18, 2-3. 26-27). Contudo, a experiência desmentia esse principio. Depois do desterro, este problema ocupa um posto primordial na reflexão sapiencial e não é fácil encontrar uma resposta adequada.
O drama é vivamente refletido no livro de Jó, apontando distintas soluções, porém nenhuma definitiva nem convincente: Jó é convidado a entrar no mistério de Deus e daí poder relativizar sua dor, seu desespero e pretensões. Qohelet faz eco do mesmo escândalo e o amplia: ainda supondo que o justo sempre recebesse bens, tal recompensa não é proporcional ao seu esforço em alcançá-los, pois não dá plena satisfação aos anseios do ser humano. Tanto Jó quanto o Qohelet se movem no âmbito da retribuição intramundana; não imaginam nada mais além da morte. 
Não está mal que Qohelet nos lembre o sabor das coisas simples, o desfrute das coisas ordinárias, que também são dom de Deus. Isto estaria muito bem conectado com a mentalidade da pós-modernidade: presenteista, do carpe diem (aproveita o dia)... Precisamos fazer um grande esforço em sair desta realidade temporal para encontrar Deus. Ele é companheiro, próximo de tudo que vivemos. A fé confirma esse fato. A vida tem sentido porque somos pessoas humanas e não animais; em nossos genes levamos escrita essa busca de sentido, porque somos todos feitos “à imagem e semelhança de Deus”, um Deus criador, que se move, que sai de si, que inventa  e busca. 
Evangelho: a vida não depende dos bens
O evangelho vai na mesma linha sapiencial da primeira leitura: o ser humano busca sem descanso a alegria e a felicidade, porém ao redor dessa busca planam sérios perigos. Um deles: a cobiça, que consiste em colocar a felicidade no acúmulo insaciável de bens.
Os irmãos em litígio se aproximam e suplicam a Jesus que coloque ordem, que faça justiça. Jesus sabe colocar-se em seu lugar. Ele não veio ao mundo para ser um legislador. Ele vai além: “Ele fará sair à luz os pensamentos íntimos dos homens” (Lc 2,35b), vai à raiz dos problemas que estão no coração do ser humano; desmascara a cobiça que domina o coração das pessoas. Suas palavras são magistrais: “Evitem toda classe de cobiça, porque ainda que uma pessoa tenha todos os bens, não são as posses as que lhe dão vida”. Jesus convida a sair do conformismo. O que se deve buscar por primeiro é a justiça, querida por Deus, pregada por Jesus: que todos tenham pão, educação, teto... fruto da comunhão, da solidariedade, novo nome da justiça, isso é, o Rino, a Nova Humanidade. Porém, pode acontecer que, depois de buscar o que é justo, sejamos tentados a ambicionar mais. Essa cobiça nunca nos permitirá descansar. É muito difícil uma pessoa dizer a si mesma: “Homem, tens muitas coisas guardadas para muitos anos, descansa, come, bebe, passe bem...”. Normalmente não há quem detenha o dinamismo da cobiça. É preciso estar alerta e avaliar até onde os bens podem dominar a nossa vida.
A cobiça de uns poucos ou de muitos impede o desenvolvimento dos povos. E chama a atenção a medida atual da cobiça no mundo: o economista Branko Milnovic, do Banco Mundial, informa que “1% dos mais ricos da população do planeta possui quase a metade de todos os ativos pessoais. Segundo o economista, este seleto grupo está integrado em aproximadamente 12 % por estadounidenses; entre 3 % e 6% por britânicos, japoneses, alemães e franceses”. Milanovic esclareceu também que o 1% das pessoas mais ricas do mundo viram seus ganhos reais aumentarem em mais de 60 % em duas décadas (de 1988 a 2008). O 8% das pessoas que dispõem de maiores fundos ou fortunas obtém até 50 % de todos os rendimentos do planeta”.
A palavra de Jesus no evangelho de hoje não pode ficar reduzida a uma consideração da necessidade pessoal individual de “não ser avaro ou afeito à cobiça”... Hoje deve ser aplicada também à situação planetária, da estrutura econômica mundial, de um mundo que segue acentuando sua diferença, a desigualdade, o abismo entre pobres e ricos. Contudo, há quem alimenta receio a respeito do conceito de “pecado estrutural”... Finalmente, não há que discutir literatura, ou “questões de nomes”.
A teologia da libertação tem muito claro que o pecado – e as virtudes – pode ser não somente pessoais/individuais, mas também sociais, estruturais. Já sabemos que as estruturas “não são pessoas que cometem pecados”, ninguém é tão ingênuo para confundir isso. O que queremos dizer é que o mal, o pecado, com freqüência, se corporifica, toma corpo nas estruturas sócias, de modo que impõe a possibilidade e a facilidade para um tipo de atitudes e de atos perversos, pecaminosos, mais além das vontades e das boas intenções pessoais. A Utopia, o Mundo novo, o Sumak Kaway – o Reino de Deus, como o chama Jesus – não estará realizado quando esteja em todos os corações (pessoais, individuais), mas quando tome corpo também nas estruturas que o tornem possível, realizável e verificável. 
A resposta cristã é “viver como Jesus viveu”: viver confiados nas mãos do Pai/Mãe Deus, buscando acima de tudo o Reino-Utopia. “Tudo mais será dado por acréscimo”. O verdadeiro enriquecer-se é participar de uma única fortuna: a do amor, do favorecimento da vida, a descentralizacao de si mesmo em favor da centralização do amor, das boas obras com os mais necessitados e desfavorecidos (Mt 6,19). 
Segunda Leitura
A intenção da carta aos Colossenses é afirmar a supremacia de Jesus Cristo acima de toda realidade cósmica, terrena ou supra-terrena. Alguns pretendiam introduzir nas comunidades as ideias filosóficas sobre o mundo dos poderes angélicos e práticas ascéticas inspiradas em ritos mágicos e mistéricos, que confundiam e ameaçavam destruir o mistério de Cristo entre os crentes.
Porém, no Hino Cristológico 1,15-20, Jesus é apresentado como Senhor de toda a criação e único salvador do mundo, revelação perfeita da sabedoria divina, escondida durante séculos, porém revelada agora no Filho, fonte de vida espiritual para o ser humano, de quem recebemos a plenitude. É um hino, uma poesia religiosa, uma “reflexão” livre, um exercício criativo de beleza, que favorece uma vivencia “religiosa” e, portanto, afetiva, estética, fruitiva... como tantas outras experiências humanas. Não há porque equivocar-se e confundir o gênero literário com um tratado ontológico-metafísico-dogmático. 
Nesse contexto de pensamento, o batismo introduz o cristão na posse já presente da salvação, no campo não conseguido de maneira estática, mas em movimento, em progresso, dinâmico, em combate. O batismo nos une a cristo e nos faz participantes de suas riquezas: “fomos sepultados com Cristo e ressuscitados por ter acreditado no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (2,12).
Mortos e ressuscitados com Cristo, devemos buscar o que Cristo buscou, as coisas de cima, as de dentro, onde está nossa verdadeira riqueza, a do coração. É preciso fazer morrer o terrenal, despojar-se do “homem velho”. Esta renovação espiritual (Ef 4,23), isto é, sob a ação do Espírito, o mesmo que moveu Jesus em sua existência terrena. O homem velho é egoísta, mentiroso, escravo de seus apetites. O “homem novo” é bondoso e compassivo, voltado e preocupado com os demais, comunitário, misericordioso, compreensivo, faz do amor a norma de sua via. Para com todos age da mesma maneira que Cristo agiu para com ele.
Esse é o ser humano novo (Ef 5,1-2). A fonte de toda moral humana é a união com Cristo, à qual se chega pelo batismo. Sem este fundamento, a vida será um conjunto de receitas e normas a serem cumpridas. A nova condição de pessoas novas vai se renovando cada dia segundo a imagem do criador. Dito isto sobre a segunda leitura, é preciso acrescentar uma nota crítica para os fieis e os pregadores mais críticos. Este fragmento da carta de Paulo deixa um sabor especial de agridoce, pois junto com a atração espiritual que produzem em conjunto suas palavras, suas imagens deixam uma profunda insatisfação: decima/debaixo, os bens de cima, os bens de baixo; aspirar aos bens de cima e não os da terra...
Este claro dualismo de fundo é esquizofrenia espiritual que quer fazer-nos crer que estamos nesta terra (debaixo) desterrados, caídos de nosso verdadeiro mundo. O de cima, ao qual pretendemos voltar, no qual seremos de novo manifestados em glória depois da morte, é uma visão de fundo, um suposto que se cola nas palavras de Paulo, sem sequer ser mencionado, como uma evidencia de fundo que não precisa tematizar e discutir. Muitas pessoas com mentalidade realmente “de hoje”, se sentem mal diante destes textos e muitas vezes nem sequer podem reagiir em nível consciente, porque não sabem contra que palavras podem reagir, porém continuam sentindo-se mal. 
Textos que já vão para dois milênios de antiguidade e que levam dentro de si como que uma droga escondida e não declarada, o platonismo do ambiente helenista no qual foram concebidos e expressados, não são bons para veicular uma mensagem que deve ser entregue na rapidez de uma liturgia que não permite maiores esclarecimentos hermenêuticos. Talvez melhor seria não abordá-los se não vão ser bem abordados. Porém, em todo caso, os ouvintes atuais tem direito a que os pregadores inteligentes digam uma breve palavra que os tranquilize ante possíveis insatisfações interiores. O mesmo Paulo, missionários apaixonado, serio o primeiro hoje a fazer um corretivo em suas palavras para purificá-las do dualismo platônico que ele mesmo respirou em seu ambiente helenista, porém que hoje é absolutamente inaceitável em nossa visão moderna e ecocêntrica.
OraçãoLivra-nos, Senhor, de toda cobiça. Concede-nos, Senhor, um coração simples, que não ambicione mais do que o necessário, que saiba agradecer o que temos, o que a cada dia nos presenteias. Confessamos que somente tu és o verdadeiro tesouro e em tuas mãos amorosas queremos confiar. Que não nos cansemos de viver assim, buscando primeiro e antes de tudo o Reino. Pai, que teu Espírito nos faça cada vez mais amantes da vida e do amor que a favorece.


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